Compra da Activision Blizzard pela Microsoft: o capítulo final
Com a aquisição, títulos importantes como Call of Dutty, World of Warcraft é até Candy Crush passam para o catálogo da dona do Xbox
Venceu ontem (18 de outubro) o prazo final estabelecido pela Microsoft e pela Activision Blizzard para concluir a compra da desenvolvedora de jogos eletrônicos pela dona do Xbox.
Mas, com a aprovação concedida pelo órgão de fiscalização de concorrência do Reino Unido, na semana passada, o acordo de US$ 69 bilhões pode finalmente ser fechado, resultando em uma das maiores transações no setor de tecnologia da história. A fusão vinha sendo adiada há quase dois anos, por conta do intenso rigor das autoridades de todo o mundo.
a Microsoft assinou um acordo com a Sony para disponibilizar Call of Duty para PlayStation por pelo menos 10 anos.
Desde que o acordo foi anunciado, em janeiro de 2022, a Microsoft obteve aprovações de autoridades antitruste de mais de 40 países. Para receber o aval da União Europeia, que tem 27 países-membros, concordou em permitir que, pelos próximos 10 anos, os usuários de plataformas de jogos em nuvem possam reproduzir seus títulos sem precisar pagar por direitos autorais.
No entanto, a negociação enfrentou resistência dos órgãos reguladores do Reino Unido e dos EUA, que temiam que o acordo sufocasse a concorrência no setor de games. A principal rival, a Sony, também temia que isso limitasse o acesso dos jogadores de PlayStation ao Call of Duty, a famosa franquia de jogo de tiro da Activision.
A Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos (FTC, na sigla em inglês) teve negado pela justiça norte-americana um pedido de suspensão do acordo, mas não desistiu. O órgão recorreu da decisão e, em setembro, anunciou que pretende retomar o processo, sinalizando a intenção de anular o acordo, mesmo depois de fechado.
DESPERDÍCIO DE TEMPO E DINHEIRO
Nesse meio tempo, o órgão regulador do Reino Unido foi o último grande obstáculo para a concretização da transação. Para obter a aprovação, a Microsoft terá que vender ao estúdio de jogos francês Ubisoft Entertainment os direitos de streaming de todos os jogos atuais da Activision e os dos que forem lançados nos próximos 15 anos fora da União Europeia e de três outros países europeus.
A autorização por parte da Autoridade de Concorrência e Mercados do Reino Unido (CMA, na sigla em inglês) já era esperada depois da aprovação preliminar, no mês passado, de uma nova proposta da Microsoft.
A proposta buscava responder às preocupações de que o acordo pudesse prejudicar a concorrência e os jogadores, especialmente no mercado emergente de jogos em nuvem. Nessa modalidade, os consumidores não precisam comprar consoles caros, podendo reproduzir os títulos em tablets ou smartphones. Além disso, a empresa assinou um acordo com a Sony para disponibilizar Call of Duty para PlayStation por pelo menos 10 anos.
A FTC anunciou que pretende retomar o processo que corre na justiça dos EUA, sinalizando a intenção de anular o acordo, mesmo depois de fechado.
“O novo acordo impedirá que a Microsoft trave a concorrência no mercado de jogos em nuvem enquanto esse setor decola, preservando preços e serviços competitivos para os clientes do Reino Unido”, declarou a CMA em comunicado. Mas o órgão ainda criticou a forma como o acordo foi fechado e advertiu outras empresas a não usarem as “táticas empregadas pela Microsoft”.
“A Microsoft teve a chance de se reestruturar durante nossa investigação inicial, mas, em vez disso, continuou a insistir em um pacote de medidas que dissemos que simplesmente não funcionaria”, afirmou a CEO da CMA, Sarah Cardell. “Arrastar os procedimentos dessa forma só nos faz desperdiçar tempo e dinheiro.”
O órgão regulador do Reino Unido “merece ser reconhecido por impor uma solução estrutural à Microsoft que é significativamente mais forte do que os frágeis compromissos aceitos pela Comissão Europeia”, disse Max von Thun, diretor do escritório europeu do Open Markets Institute, que defende uma fiscalização antitruste mais rigorosa.
Mas, para ele, a reviravolta da CMA acabou fazendo com que o órgão parecesse “fraco e indeciso”. “Daqui para frente, há um sério risco de que, em suas negociações com a CMA, as empresas em processo de fusão e seus consultores não aceitem mais um não como resposta”, observou von Thun.
Colaborou Matt O’Brien, repórter de tecnologia da Associated Press.