Despedida da E3 marca o fim de uma era para a indústria de games

Por décadas, o evento foi o palco dos grandes lançamentos de jogos e do surgimento de novos consoles, mas não conseguiu evoluir

Crédito: Efe Kurnaz/ Unsplash

Chris Morris 3 minutos de leitura

Depois de quase quatro anos tentando voltar aos seus tempos de glória, a Electronic Entertainment Expo – ou E3, a maior feira comercial da indústria de videogames (realizada nos EUA) – anunciou seu já aguardado fim.

O anúncio foi feito pela Entertainment Software Association (ESA), que organizava o evento, confirmando algo que muitos de nós já esperávamos, mas ainda nutríamos esperanças de que não acontecesse. É realmente o fim de uma era, embora talvez tenha sido inevitável.

Desde seu início em 1995, a E3 foi palco dos grandes lançamentos de jogos e do surgimento de novos consoles. Era o ponto de encontro da indústria. Um evento que frequentemente recebia um hype exagerado, mas que ainda assim era essencial.

Era um acontecimento. Estandes gigantes, festas extravagantes, participações de celebridades e reuniões a portas fechadas que faziam os frequentadores se sentirem privilegiados.

Era um espetáculo que superava todas as outras feiras, talvez porque, em vez de assistir a apresentações monótonas sobre mais um dispositivo sem sentido, as pessoas tinham a chance de serem as primeiras a ouvir falar – e muitas vezes jogar – de um título que poderia se tornar a próxima febre na cultura dos jogos.

Crédito: Vivien Killilea/ Getty Images para E3

A feira nasceu por necessidade, depois que a Consumer Electronics Show marginalizou os jogos. Com as vendas da indústria aumentando e com o surgimento de um grupo comercial, as distribuidoras decidiram lançar seu próprio evento para se reunir com vendedores e ser o foco exclusivo da cobertura da imprensa.

As E3 da década de 1990 e início dos anos 2000 eram diferentes. Os sussurros e o medo que se espalhavam pelo estande de uma distribuidora quando, digamos, o comprador da Walmart era avistado, eram reais. Uma boa demonstração para essa pessoa poderia ter um enorme impacto nas receitas anuais.

O INÍCIO DO FIM

No entanto, os tempos mudaram. Os compradores passaram a se reunir regularmente em particular com as distribuidoras, e a E3 se tornou mais uma festa focada na mídia. Mas, como a feira tinha uma energia única, a empolgação transbordava para o mundo mais amplo dos videogames.

Os jogadores tentavam se infiltrar no evento, que era fechado ao público. Acompanhavam a cobertura pela TV (e, mais tarde, na Twitch). Devoravam as milhares de matérias que os repórteres faziam em busca de um pouco mais de informações sobre os jogos que aguardavam ansiosamente.

Nos últimos anos da E3, o público finalmente pôde passar pelos portões, transformando um evento que já era lotado em um mar de gamers. Mas isso permitiu que os desenvolvedores se conectassem diretamente com os jogadores.

A decisão de abrir ao público poderia ter sido o início do fim da feira, mas, no final, foi a má gestão, os avanços tecnológicos e a pandemia que a levaram à extinção.

A pandemia acabou com a atmosfera de encontro que a E3 tinha. As restrições da Covid-19 significavam que os frequentadores não teriam mais a chance de encontrar figuras como Shigeru Miyamoto, da Nintendo, ou colegas que só viam uma ou duas vezes por ano. As tentativas de realizar um evento virtual em 2021 foram um fracasso.

Desde seu início em 1995, a E3 foi palco dos grandes lançamentos de jogos e do surgimento de novos consoles.

Além disso, houve uma perda de memória institucional. Rich Taylor e Dan Hewett, as duas pessoas em grande parte responsáveis pelas primeiras edições da E3, deixaram a ESA, e o grupo não conseguiu mantê-los como conselheiros para ajudar com o evento.

E, é claro, as distribuidoras perceberam que poderiam se comunicar diretamente com o público por meio de apresentações online, economizando milhões de dólares no processo. Isso, talvez, tenha sido o golpe fatal para a E3, pois tornou o evento muito menos lucrativo.

A saída da EA e da Activision foi ruim, mas, quando a Sony e a Nintendo – os dois principais nomes da feira – também pularam fora, seu futuro estava selado.

É verdade que a indústria de videogames pode sobreviver sem a E3, mas certamente não será tão divertida. E o fim deste evento, que costumava ser tão importante para tantas pessoas, serve como um aviso para outras feiras comerciais – para que nunca deixem de evoluir e não percam de vista o que faz desses eventos um sucesso.


SOBRE O AUTOR

Chris Morris é um jornalista com mais de 30 anos de experiência. Saiba mais em chrismorrisjournalist.com. saiba mais