Gamers estão passando mais tempo vendo outros jogarem do que jogando
Enquanto a indústria de games perde público, o mercado de streaming segue crescendo
Por que jogar videogame quando você pode assistir a uma celebridade da internet fazendo isso?
De acordo com uma pesquisa recente da MIDiA Research (realizada em nove países, incluindo o Brasil), fãs de videogame estão passando mais tempo consumindo vídeos de gameplay do que jogando. Em média, são 8,5 horas semanais assistindo a conteúdos sobre games no YouTube e na Twitch, enquanto apenas 7,4 horas são gastas jogando seus títulos favoritos.
Essa tendência reflete mudanças na indústria: o streaming está cada vez mais lucrativo, ao passo que os desenvolvedores de jogos estão trabalhando com orçamentos cada vez mais apertados.
O CRESCIMENTO DO STREAMING DE JOGOS
O consumo de vídeos relacionados a games nunca foi tão alto. Segundo a pesquisa, 24% dos jogadores de console assistem a esse tipo de conteúdo ao menos uma vez por mês. Entre aqueles que gastam com compras in-game, o percentual sobe para 48%.
Grande parte desse mercado é dominado pela Twitch, plataforma de streaming ao vivo com mais de 105 milhões de usuários ativos mensais. Mesmo após o boom durante a pandemia, o serviço manteve uma audiência fiel, com cerca de 2,5 milhões de pessoas assistindo a transmissões simultaneamente.
Embora hospede diversos tipos de conteúdo, a Twitch é um polo do universo gamer, com grandes nomes como Kai Cenat e Ninja transmitindo suas partidas de Fortnite.
Esses streamers alcançaram status de celebridades – Cenat, por exemplo, recentemente recebeu as cantoras Lizzo e SZA em um de seus populares “subathons” (transmissões que duram horas ou dias conforme mais usuários se inscrevem).
O YouTube continua sendo uma potência em termos de conteúdo de jogos. Em junho deste ano, os vídeos sobre games na plataforma alcançaram seis bilhões de visualizações mensais, segundo a Tubular Labs – um aumento considerável em relação ao mesmo período de 2023 e ao ano anterior. que registraram cinco e quatro bilhões, respectivamente.
Um em cada quatro jogadores de console assiste vídeos relacionados a games ao menos uma vez por mês.
Criadores como PewDiePie, que construiu sua fama com vídeos de gameplay, abriram caminho para uma nova geração de influenciadores, como MrBeast, cujo canal de games frequentemente ultrapassa 50 milhões de visualizações por vídeo.
O sucesso de plataformas como YouTube e Twitch também abriu espaço para concorrentes menores. O Kick, por exemplo, conquistou 6,3% do mercado de streaming ao vivo, especialmente por acolher criadores banidos da Twitch.
Outras opções incluem o Rumble, popular entre o público conservador nos Estados Unidos, e plataformas como Afreeca e Chzzk, bastante utilizadas na Coreia do Sul, que juntas representam 5% do mercado global.
A CRISE DOS DESENVOLVEDORES
Enquanto o conteúdo sobre jogos cresce, o mercado de desenvolvimento e distribuição de games passa por um momento difícil. Grandes empresas do setor têm realizado demissões em massa – mais de 10 mil trabalhadores perderam seus empregos recentemente. Além disso, as vendas de consoles estão caindo e a indústria registrou um crescimento tímido de apenas 0,6% no último ano.
Vários fatores explicam essa retração. Analistas sugerem que o público gamer está cada vez mais preso aos seus títulos favoritos, em vez de experimentar novos lançamentos. Uma rápida visita à Twitch mostra inúmeros streamers jogando Fortnite e Roblox.
Outros criticam a produção excessiva de sequências pouco inovadoras e os altos custos de produção. Afinal, por que pagar caro em um jogo quando você pode assistir à gameplay de graça no YouTube?
Apesar disso, os mercados que surgiram da indústria de games continuam crescendo. Streamers e criadores de conteúdo estão fechando contratos milionários, enquanto estúdios de Hollywood investem pesado em adaptações cinematográficas de franquias de sucesso. O setor segue expandindo – exceto para aqueles que desenvolvem os jogos.