MetaHumanos, a fascinante e assustadora nova tecnologia da Epic Games

A nova ferramenta da desenvolvedora de Fortnite traz animações faciais com qualidade cinematográfica para o iPhone

Crédito: Epic Games
Crédito: Fast Company Brasil

Burt Helm 4 minutos de leitura

Durante a apresentação da Epic Games na Game Developers Conference, um dos maiores eventos de jogos e tecnologia do mundo, em São Francisco, a atriz alemã Melina Juergen subiu ao palco e franziu a testa, como se estivesse com raiva. Isso causou agitação entre o público de desenvolvedores no Yerba Buena Center, e em toda a internet, quando milhões de usuários assistiram ao vídeo em seus feeds.

Toda a comoção em torno de sua expressão, no entanto, tinha a ver com o que estava sendo apresentado. Juergen, conhecida por interpretar Senua na série de videogames Hellblade, estava ajudando a Epic Games a demonstrar uma nova tecnologia, atualmente disponível em versão beta privada e com lançamento previsto para o terceiro trimestre.

Crédito: Epic Games

Chamada MetaHuman Animator, ela pode pegar um vídeo bruto de um iPhone e criar um modelo tridimensional de um rosto, capaz de rir e expressar medo e raiva. Mas também pode prever todas as outras expressões faciais, com uma precisão perturbadora. O modelo pode ser usado para dar vida ao avatar de um jogador humano ou a um NPC (personagem não jogável) controlado por IA. Ou mesmo vários deles.

Na conferência, a Epic Games revelou uma série de avanços. Mas o MetaHuman Animator foi o centro das atenções. Para demonstrar a tecnologia, os executivos convidaram Juergen para subir ao palco.

Ela então começou a fazer várias expressões – primeiro fez cara de medo, depois de raiva e, por fim, um olhar confuso e melancólico. Acima, em um telão enorme, o público assistia a uma projeção da interface do aplicativo no iPhone enquanto registrava suas expressões.

Em questão de segundos, converteu seu rosto em uma máscara cinza de polígonos.

Crédito: Epic Games

Depois de mexer um pouco no aplicativo, o vice-presidente de tecnologia humana digital da Epic Games (que nome incrível para um cargo!) revelou o resultado: uma cópia virtual de Juergen, incrivelmente detalhada e com a iluminação própria de um estúdio. Então, demonstrou como poderia aplicar as expressões a uma variedade de personagens diferentes – não apenas a um modelado a partir dela.

A tecnologia será uma benção para cineastas independentes e desenvolvedores de jogos, ou para qualquer pessoa com muita imaginação, mas que não têm os recursos para contratar atores em trajes de captura de movimento.

Hoje, para criar personagens em CGI de forma rápida e barata, é necessário sacrificar a qualidade – nada de movimentos fluidos ou olhares expressivos. No palco, a versão digital da atriz tinha olhos que pareciam vivos e seus músculos faciais se moviam. Esses personagens de IA podem permitir que criadores com orçamentos limitados atinjam níveis de realismo antes restritos a sucessos de bilheteria.

Mas a demonstração também provocou frio na barriga em alguns espectadores. Não por seu hiperrealismo, mas pela forma, rapidez e a facilidade com que foi criada. Pasme! Um ser humano realista, criado em menos de um minuto usando um modelo de iPhone de três anos atrás!

Já vimos esse filme antes.

Desenvolvedores inventam algo revolucionário, tornam-no rápido e gratuito e sua criação se espalha pelo mundo. Os usuários então começam a usá-lo de novas formas, por vezes com más intenções. E os algoritmos elevam esses usos a níveis anteriormente inimagináveis. 

Basta relembrar alguns casos recentes: uma rede social foi criada e, 10 anos depois, estava sendo usada para alimentar conflitos em Mianmar. Algoritmos de sugestão de vídeo em plataformas de streaming estão incitando ideologias e discursos fascistas. O tempo que leva para uma tecnologia ser totalmente deturpada está ficando cada vez mais curto.

Portanto, mesmo que a nova ferramenta de animação hiperrealista da Epic Games abra portas para novas formas de criatividade, também há a possibilidade muito real de que jogos gratuitos que utilizam inteligência artificial e seus metamundos, em breve, sejam distorcidos e corrompidos. 

Talvez, no futuro, os usuários de aplicativos como o MetaHuman espalhem diferentes versões de humanos falsos pelo metaverso, criando um exército de spams que aplicam golpes ou propagam o ódio.

E é bem possível que apenas adolescentes descolados sejam capazes de distinguir os humanos reais dos falsos. O resto de nós não saberá se estamos realmente fazendo uma chamada de vídeo com nossos netos ou se estamos conversando com um chatbot.

Isso é o suficiente para deixar qualquer um deprimido. Mas não se preocupe, em breve, seu metahumano poderá ser capaz de sorrir por vocês dois.


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