NBA All-World, da Niantic, pode virar o novo Pokémon Go
No novo game, os fãs têm que sair de casa e explorar a cidade. Os criadores apostam nas estrelas do basquete para ter sucesso onde outros títulos falharam
Na semana passada, a estrela do time Denver Nuggets, Jamal Murray, esteve em uma quadra de basquete ao ar livre na cidade de Oakland, na Califórnia, esperando que alguém o desafiasse para uma partida.
Mas se tratava de uma versão digital do astro. Murray é um dos quase 80 jogadores profissionais de basquete que fazem parte do NBA All-World, um novo jogo para celular da Niantic, a criadora do Pokémon Go.
Os amantes da franquia japonesa se aventuram por aí há quase sete anos para capturar pokémon digitais. Agora, a Niantic aposta que estrelas da NBA como Murray, Steph Curry e LeBron James possam fazer com que os fãs de basquete também se levantem do sofá – e, de uma vez por todas, espera provar que não é um “estúdio de um jogo só”.
O NBA All-World pega alguns elementos dos jogos esportivos tradicionais e os combina com o mundo real, como o Pokémon Go: as pessoas podem recrutar jogadores e montar seu próprio time, customizá-los com itens de marcas como Adidas e Puma e aprimorar suas habilidades competindo contra outros jogadores.
No entanto, muito disso exige que elas deixem o conforto da sua própria casa e se aventurem por quadras de basquete, lojas e outros pontos da cidade. “Nenhum outro game de basquete obriga você a levantar do sofá e sair de casa”, diz Andrew Macintosh, que lidera o marketing de produto do jogo na Niantic.
Pokemon Go foi baixado mais de 630 milhões de vezes e gerou US$ 5 bilhões em cinco anos.
“Este jogo é totalmente diferente”, complementa Matt Holt, que lidera as parcerias de merchandising da NBA. E, se der certo, sugere, pode ser o início um novo gênero de jogos esportivos.
O NBA All-World utiliza a mesma tecnologia de mapeamento do Pokémon Go e outros títulos da Niantic. A empresa adicionou ao mapa mais de 100 mil quadras de basquete em todo o mundo e incluiu “lojas”, onde os jogadores podem coletar bebidas energéticas digitais e outros itens para fortalecer e customizar suas equipes.
“Se você for ao shopping, poderá comprar roupas muito legais [para seus jogadores] enquanto estiver lá”, diz Macintosh. “Estamos tentando unir o mundo digital ao físico como nunca.”
No entanto, jogos de celular no qual os jogadores precisam explorar o mundo real nem sempre agradam o grande público. A Niantic teve um certo sucesso quando lançou o jogo de ficção científica Ingress, que ainda tem jogadores ativos e dedicados quase uma década após seu lançamento. Mas foi só em 2016, com o Pokémon Go, que a desenvolvedora ganhou fama global – o jogo se tornou um viral da cultura pop.
Ele foi baixado mais de 630 milhões de vezes e gerou US$ 5 bilhões em receita durante seus primeiros cinco anos, de acordo com a empresa de análise de aplicativos Sensor Tower.
Mas, em 2019, quando o estúdio lançou um jogo para celular da franquia Harry Potter em parceria com a WB Games, o título fracassou, levando ao seu cancelamento dois anos depois. A desenvolvedora também desistiu da adaptação do jogo de tabuleiro Catan, em 2021, além de quatro títulos inéditos em meio a demissões na empresa no ano passado.
Os críticos da época comentaram que o jogo do Harry Potter era como uma cópia do Pokémon Go, com alguns elementos de realidade aumentada (RA) para disfarçar o enredo ruim. Mas a Niantic, aparentemente, aprendeu com essa experiência: o NBA All-World não usa nenhum efeito de RA e recorre a uma jogabilidade móvel mais tradicional. O título também conta com uma trilha sonora de hip-hop com grandes artistas, além de muitos dos minijogos que as pessoas costumam disputar em quadras reais.
No entanto, os números sugerem que o NBA All-World, pelo menos por enquanto, está longe de conseguir driblar os adversários e enterrar a bola na cesta. Com base em dados preliminares, a Sensor Tower estima que o jogo foi baixado cerca de 128 mil vezes nos primeiros dois dias após seu lançamento, enquanto o Wizards Unite, o jogo do Harry Potter, teve 2,7 milhões de downloads durante o mesmo período.
Apesar disso, há alguns sinais de que a nova aposta da Niantic possa se sair melhor do que seu fracasso anterior: a média de avaliação do Wizards Unite na Play Store era de 3,7; já o NBA All-World estava com uma média de 4,2 no momento da publicação deste artigo – um pouco abaixo dos 4,3 do Pokémon Go.
Logo na primeira semana de lançamento, o Pokémon Go ultrapassou 10 milhões de downloads, sobrecarregando os servidores da Niantic e forçando a empresa a adiar o lançamento em outros mercados. Macintosh reconhece que é difícil para qualquer novo jogo atingir essas métricas.
“Você nunca deve apostar que [o jogo] será um hit viral”, diz ele. “Desenvolvemos os jogos da Niantic por um longo período. Não esperamos nada da noite para o dia, tampouco em um mês e, às vezes, nem mesmo em um ano.”
Em outras palavras: a Niantic e a NBA estão apostando no longo prazo, mas Holt reconhece que o sucesso nunca é garantido. “Essa é a natureza dos jogos”, diz ele. “Nem sempre dão certo.”