Nex Playground quer colocar as crianças (e suas famílias) para se mexer
Games baseados em movimento conseguirão tornar as câmeras de TV populares?
A startup de visão computacional Nex acredita que o futuro da televisão está em tirar as crianças (e seus pais) do sofá. No ano passado, a empresa lançou o Nex Playground, um console colorido para crianças de até oito anos, com uma câmera integrada que capta os movimentos dos jogadores.
“As opções modernas de entretenimento tornaram as pessoas mais sedentárias e isoladas umas das outras”, afirma David Lee, cofundador e CEO da Nex. “Queremos mudar isso.”
Os títulos disponíveis no dispositivo incluem um game de tênis que exige que o jogador se mova para frente e para trás para rebater bolas; um jogo de bambolê com a famosa personagem infantil Peppa Pig; uma aula de ginástica interativa e um game de ritmo chamado Starri.
O Nex Playground utiliza apenas sua câmera para rastrear os movimentos, o que torna o ato de jogar muito mais fácil para as crianças mais novas.
A Nex fez acordos com grandes nomes do entretenimento familiar. Depois de assinar um acordo de licenciamento com a Hasbro, em 2023, a empresa fechou uma parceria com a Sesame Workshop em fevereiro. A startup planeja lançar games de movimento estrelados por personagens como Elmo e o Monstro das Bolachas, de “Vila Sésamo”, nos próximos meses.
A ideia de rastrear movimentos em jogos não é nova. Em 2010, a Microsoft lançou um acessório chamado Kinect para o Xbox, mas encerrou as vendas sete anos depois, citando falta de interesse das grandes desenvolvedoras.
Isso, no entanto, não desanimou Lee, que chama o Nex Playground de “um sucessor espiritual” do Kinect. Ele lembra que o acessório da Microsoft vendeu 35 milhões de unidades, tornando-se um dos dispositivos eletrônicos mais vendidos na época.
Mas há algumas diferenças entre os dois. O Kinect utilizava um projetor infravermelho e um sensor de profundidade para rastrear a posição dos jogadores no ambiente com precisão. A Nex, por outro lado, conta com avanços em visão computacional e inteligência artificial para fazer o mesmo com apenas uma única câmera.
Isso também permite que o dispositivo fique "mais inteligente" com o tempo. A Nex planeja adicionar detecção de objetos e permitir que as crianças incorporem objetos do dia a dia em seus jogos. “Com visão computacional, podemos transformar um brinquedo em um brinquedo inteligente que pode interagir com o sistema”, destaca Lee.
A grande questão é: as famílias estão interessadas o suficiente em games baseados em movimento para pagar US$ 200 por outro dispositivo? E, mais importante, será que aceitarão ter uma câmera em sua sala de estar?
Fabricantes de TV já se aventuraram há algum tempo pela ideia de adicionar câmeras aos seus aparelhos. No entanto, temendo uma reação negativa envolvendo questões de privacidade que poderia ameaçar seu negócio, empresas como Sony e Samsung optaram por tornar as câmeras um acessório opcional, em vez de parte integrante dos televisores.
Obstrutores físicos são essenciais para diminuir as preocupações em relação à privacidade. O Nex Playground vem com um pequeno clipe magnético que pode cobrir a câmera quando não estiver em uso. Além disso, a empresa processa todos os dados no próprio dispositivo, o que Lee considera uma outra vantagem. “Não enviamos vídeos para a nuvem”, ressalta o executivo.
Martin Scott, diretor de pesquisa da empresa de consultoria Analysys Mason, por outro lado, é cético quanto às chances de sucesso da Nex, mesmo com essas precauções. “Certamente há um mercado para games de movimento centrados na família, mas esse mercado é de nicho”, diz ele. “Este é um aplicativo revolucionário para smart TVs? Provavelmente não.”
No entanto, Lee e sua equipe estão ansiosos para explorar ainda mais o potencial dos games baseados em movimento. Até agora, a Nex vendeu alguns milhares de consoles pelo seu próprio site, mas planeja expandir para plataformas de comércio eletrônico, como a Amazon, e até vender o produto em lojas físicas.
Ao mesmo tempo, a startup está buscando parcerias com fabricantes de TVs e outras empresas para integrar sua tecnologia e jogos em seus dispositivos.
Com o tempo, Lee imagina o Playground como uma espécie de dispositivo principal para a Nex, semelhante ao Google, que produz seus próprios smartphones, mas também licencia seu sistema operacional para outros fabricantes.
“Queremos construir algo que impulsione a indústria”, afirma.