Novas especulações sobre a venda da Ubisoft. O que está acontecendo, afinal?

Mais uma vez, a empresa está no centro de rumores sobre uma possível venda. Como as coisas chegaram a esse ponto?

Créditos: Ubisoft/ geralt/ Pixabay

Chris Morris 4 minutos de leitura

Novamente, a Ubisoft está envolvida em rumores sobre sua venda. Em 2004, a Electronic Arts tentou comprar a desenvolvedora, mas foi rejeitada. Em 2015, a Vivendi fez uma investida ainda mais séria, que levou anos para ser resolvida. Agora, a empresa volta a ser alvo de especulações – e, desta vez, a venda pode realmente acontecer.

Os últimos anos não têm sido nada fáceis para a Ubisoft – e 2024 está sendo foi especialmente difícil. Star Wars: Outlaws decepcionou nas vendas e, recentemente, a desenvolvedora adiou o lançamento do próximo Assassin’s Creed, pouco depois de ter anunciado uma revisão em suas projeções financeiras, com números menos otimistas.

Agora, surgiram rumores de que estaria cogitando se tornar uma empresa privada, com o apoio de acionistas como a Tencent e a família Guillemot.

Na semana passada, a companhia se manifestou sobre os rumores, dizendo em comunicado: “a Ubisoft tomou conhecimento das recentes especulações da imprensa sobre possíveis interesses em relação à empresa. Revisamos regularmente todas as nossas opções estratégicas, tendo em mente o interesse de seus stakeholders, e informaremos o mercado quando for apropriado”.

A Ubisoft é dona de um rico catálogo de franquias, como Assassin’s Creed, Rabbids, Prince of Persia e Watch Dogs, além de contratos de licenciamento com marcas como Tom Clancy, Uno e South Park. Isso a torna atraente para potenciais compradores, mas os problemas recentes que a empresa enfrenta levantam dúvidas quanto ao seu valor.

O público criticou Star Wars: Outlaws por ser repetitivo e por ter mecânicas muito semelhantes às de Assassin’s Creed. Além disso, o passe de temporada, que adicionava mais US$ 40 ao preço do game para missões extras, foi muito mal recebido. Houve, inclusive, um ataque em massa ao jogo, alegando que ele teria uma “narrativa forçada de diversidade e inclusão”. 

Michael Pachter, da Wedbush, comentou o ataque em uma nota aos investidores, dizendo: “este é um caso raro de uma vitória incel, que levou a Ubisoft a revisar suas projeções financeiras.” 

Crédito: Ubisoft

Na mesma época, a AJ Investments anunciou que havia conseguido apoio de 10% dos acionistas da desenvolvedora e começou a pressionar pela venda a uma empresa de capital privado ou a uma terceira parte não identificada. A Ubisoft, no entanto, teria optado por outro caminho, considerando uma auto-aquisição.

“A empresa claramente tem valor e, com o apoio da família Guillemot e o envolvimento do investidor estratégico Tencent, acreditamos que uma oferta formal de aquisição tem chances de sucesso”, escreveu Pachter em outra nota.

A ideia de que o CEO e sua família estejam considerando uma compra junto com a Tencent pode parecer incomum para quem não conhece os Guillemot. Entre 2009 e 2019, entrevistei Yves Guillemot várias vezes, especialmente durante a batalha contra a Vivendi.

Ele sempre seguiu suas próprias paixões, seja o amor por chocolate suíço ou seus passeios de moto para relaxar. Mas no topo de suas prioridades está a Ubisoft.

Nos últimos anos, a Ubisoft tem desagradado parte de sua base de fãs e agora precisa reconquistá-los.

Há 15 anos, quando a Vivendi comprou mais ações e passou a ter mais direitos de voto do que a família Guillemot, Yves começou a buscar parceiros. Ele os encontrou na Tencent, a gigante chinesa de games, e no fundo de pensão dos professores de Ontário, que pagaram pouco mais de € 2 bilhões para adquirir as ações da Vivendi.

A Tencent, desde então, aumentou sua participação na Ubisoft para 10%, enquanto os Guillemot detém 15% das ações, mas controlam 25% dos votos.

Uma eventual venda provavelmente resultaria em cortes de empregos. A desenvolvedora emprega 19 mil pessoas em todo o mundo e Pachter afirma que, com base nas projeções atuais, a receita gerada por cada funcionário é de apenas € 103 mil.

Além disso, a Ubisoft precisa repensar a forma como desenvolve seus jogos, algo que o próprio Yves Guillemot reconheceu ao anunciar as revisões financeiras.

Assassin's Creed (Crédito: Ubisoft)

“Reconhecemos a necessidade de maior eficiência, mantendo o foco na satisfação dos jogadores”, disse ele. “O comitê executivo, sob a supervisão do conselho de administração, está realizando uma revisão para melhorar nossa execução e acelerar nosso caminho estratégico rumo a um modelo de maior desempenho.”

Mas a grande questão é: isso será o suficiente? Nos últimos anos, a Ubisoft tem desagradado parte de sua base de fãs e agora precisa reconquistá-los.

Ler os comentários online sobre a empresa pode dar a impressão de que isso é quase impossível. Mas, se há uma verdade universal na indústria de games, é esta: basta um jogo realmente bom para fazer as pessoas esquecerem os erros do passado.


SOBRE O AUTOR

Chris Morris é um jornalista com mais de 30 anos de experiência. Saiba mais em chrismorrisjournalist.com. saiba mais