O que os melhores games nos ensinam sobre o prazer da conquista
Desde superar a IA no Tetris até corridas épicas, as conquistas mais emocionantes nos jogos podem nos ensinar muito sobre o “design lúdico”
Depois de Willis Gibson, um adolescente de 13 anos, se tornar o primeiro humano a zerar a versão original de Tetris para Nintendo, ele dedicou sua vitória ao pai, que faleceu em dezembro de 2023.
Gibson completou o jogo passando fase por fase até chegar à “tela da morte” – ou seja, o momento em que a IA do Tetris interrompe o game porque seus desenvolvedores nunca programaram o código para avançar para outros níveis. Antes dele, apenas outra inteligência artificial havia superado a IA do jogo.
Para qualquer pai que já tenha se preocupado com o fato de seus filhos passarem incontáveis horas jogando videogame, a vitória de Gibson sobre a complexa geometria do Tetris é um exemplo revigorante. Contrariando estereótipos, a maioria dos gamers está longe de ser preguiçosa – e, muito menos, alienada.
Os maiores jogadores do mundo, por vezes, servem como lembretes do que há de melhor em nós mesmos, com suas conquistas memoráveis que vão do heroico ao estranhamente peculiar.
A CORRIDA PERFEITA
“Speedrunning” é uma subcultura popular nos games, na qual os jogadores otimizam rotas e exploram falhas para completar, em minutos, títulos que normalmente levariam horas, desde jogos de ação restritos, como Cuphead, até RPGs épicos, como Baldur’s Gate 3.
Em competições de alto nível, os chamados “speedrunners” buscam igualar o tempo de uma “TAS”, ou “tool-assisted speedrunning” (speedrun auxiliada por ferramentas, em português). Seu sucesso requer precisão extrema, execução impecável e anos de treinamento.
Os recordes são medidos como em corridas olímpicas, em frações de segundo. Niftski, um streamer da Twitch, é atualmente o humano que chegou mais perto da perfeição da máquina. Seu recorde mundial de quatro minutos e 54,631 segundos no Super Mario Bros. fica apenas 0,35 segundos atrás de uma TAS.
Assisti-lo jogar é uma experiência alucinante. O Mario salta sem parar sobre inimigos (com o inconfundível som de "boink" a cada jogada), enquanto Niftski ofega de ansiedade, com sua frequência cardíaca atingindo 188 batimentos por minuto.
Quando salta sobre o último obstáculo na linha de chegada, o streamer explode em berros de emoção e gritos repetidos de “meu Deus!”. Ele hiperventila, fica quase sem ar e, finalmente, se entrega à exaustão e alegria.
A MAIOR DISTÂNCIA EM CIMA DE UM PORCO
Esta lista não estaria completa sem uma grande conquista no Minecraft, o revolucionário game que se tornou o segundo mais vendido da história, com mais de 300 milhões de cópias – perdendo apenas para as 520 milhões do Tetris.
O Minecraft é conhecido como um “jogo sandbox”, no qual os jogadores podem criar e explorar seus próprios mundos virtuais, limitados apenas pela imaginação e por algumas ferramentas e recursos simples, como baldes e areia, ou, no caso, picaretas e pedra.
Então, o que os jogadores podem fazer no Minecraft? Bem, entre muitas coisas, montar em um porco. De acordo com o “Guinness Book”, a maior distância percorrida em cima de um porco no jogo é de 666 quilômetros. Ou colher girassóis. O recorde mundial é 89 em um minuto. Ou cavar um túnel, mas ele precisa ter 100.001 blocos de comprimento para superar a marca atual.
Minha conquista favorita é um esforço coletivo em andamento: uma colaboração global para recriar o mundo em escala 1:1 usando blocos no Minecraft – cada um deles conta como um metro cúbico.
Jogos sandbox como este podem proporcionar uma experiência que nos leva de volta às brincadeiras alegres e sadias da infância – uma fuga do planejamento excessivo que domina grande parte da vida adulta.
A MAIOR COLABORAÇÃO DA GALÁXIA
A comunidade de jogadores de Halo 3 participou de um esforço coletivo mais intenso e "sangrento". O game, lançado em 2007, coloca humanos contra uma aliança alienígena conhecida como “Covenant”.
Seja no modo campanha para um player ou no modo multijogador online, gamers de todo o mundo começaram a se ver como participantes imaginários de uma luta global para salvar a humanidade, no que ficou conhecido como a “Grande Guerra”.
Eles se organizaram em turnos, compartilharam estratégias em quase seis mil artigos da wiki do game e 21 milhões de postagens em fóruns de discussão. A desenvolvedora do Halo, Bungie, passou a contabilizar o total de mortes de alienígenas, que atingiu a marca de 10 bilhões em abril de 2009.
Jane McGonigal, designer de jogos, lembra com admiração o esforço coletivo que foi essa Grande Guerra, citando-a como um exemplo transcendente do desejo humano de trabalhar junto e fazer parte de algo maior.