PlayStudios inova na era da IA generativa “clonando” seu próprio CEO
O CEO Andrew Pascal quer reforçar a ideia de que não há cargo, incluindo o seu próprio, que não será impactado pela inteligência artificial
Conferências sobre os lucros de uma empresa geralmente não causam muito alvoroço. Mas a divulgação dos resultados do primeiro trimestre da PlayStudios foi uma exceção – e os números não tiveram nada a ver com isso.
Enquanto os analistas e investidores ouviam a primeira metade da conferência e assimilavam os dados – como as receitas trimestrais atingindo US$ 80,1 milhões em comparação com os esperados US$ 73,4 milhões –, provavelmente não tinham ideia de que tanto o que era dito quanto os palestrantes foram gerados por inteligência artificial. A parte que discutia o lucro e a receita? Foi escrita por um chatbot. O apresentador? Um clone de IA da voz do fundador e CEO, Andrew Pascal.
A surpresa foi revelada no final da apresentação, pouco antes de Pascal e sua equipe executiva (de verdade) se juntarem para responder às perguntas dos analistas. Foi definitivamente um grande choque para o público. Das cerca de 750 pessoas que trabalham na PlayStudios, apenas 10 sabiam do plano. Nem mesmo a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) tinha conhecimento da ideia.
“Sou fascinado por IA, como acredito que todos deveriam ser”, disse ele em uma entrevista cinco horas antes do início da conferência. “Ela realmente pode e deve impactar todos os cargos dentro da empresa. Tenho enfatizado isso há algum tempo. Então qual maneira melhor de demonstrar na prática para minha equipe interna do que testá-la por conta própria e ver como e onde posso aplicá-la para me tornar mais produtivo? Essa me pareceu uma maneira interessante de reforçar a ideia de que não há cargo na empresa, incluindo o meu, que não será impactado pela IA.”
Assim como muitas outras empresas que estão correndo para incorporar a tecnologia em seus produtos, a PlayStudios tem utilizado inteligência artificial em seus jogos – uma coleção famosa de títulos mobile de caça-níqueis, blackjack e bingo baseados em recompensas (além da versão móvel oficial do Tetris) – de várias maneiras, incluindo a criação de recursos e conteúdo.
NÚMEROS FALSOS
Ainda não se sabe se, a partir de agora, todas as conferências sobre os resultados da empresa serão feitas com IA. Mas Pascal afirma que usar a tecnologia para criar (e dar voz ao) discurso de abertura levou aproximadamente um terço do tempo que normalmente leva. “Tudo foi feito de forma muito mais eficiente”, disse ele. O ChatGPT foi usado para criar o roteiro e o ElevenLabs, para clonar a voz.
Se você nunca ouviu uma conferência da PlayStudios, Pascal diz que é muito improvável que tenha percebido que se tratava de IA fazendo o trabalho pesado. Sem dúvida, há questões como ritmo e ênfase na voz clonada que são diferentes da real, mas ele afirma que a tecnologia é cerca de 80% precisa.
a PlayStudios tem utilizado inteligência artificial em seus jogos de várias maneiras, incluindo a criação de recursos e conteúdo.
A ideia surgiu recentemente. Pascal conta que estava pensando em como sinalizar dentro da empresa e para os investidores que a PlayStudios planejava abraçar a inteligência artificial e mostrar que ela pode aumentar tanto a criatividade quanto a produtividade.
Assim que ele decidiu levar a ideia adiante, a empresa começou a fornecer informações para o chatbot. Mas, devido às rígidas diretrizes da SEC, foram tomadas algumas precauções. O lucro real e outras informações não públicas não foram inseridas. Além disso, tiveram o cuidado de criar versões que refletissem diferentes desempenhos – um ótimo, um decepcionante e um que estivesse na média.
Assim, de acordo com o executivo, a PlayStudios garantiu que, caso terceiros de alguma forma obtivessem as informações inseridas, não haveria como saber o real desempenho da empresa no primeiro trimestre.
“Eram dados falsos. Os números eram inventados. Tivemos que inserir os verdadeiros depois que o roteiro foi gerado”, conta Pascal.
Embora o CEO esteja apostando alto na IA, ele reconhece que há alguns funcionários (e investidores) que ainda têm um certo medo da tecnologia. Mas, com a conferência, espera ter desfeito parte desse receio.