Ubisoft adia lançamento de seu principal game devido a boicote anti-DEI

A empresa reduziu a previsão de faturamento e enfrenta pressão para ser vendida, em um episódio que está sendo chamado de “vitória dos incels”

Créditos: Ubisoft/ Jon Tyson/ Unsplash

Chris Morris 3 minutos de leitura

Há uma semana, a Ubisoft surpreendeu todo mundo ao cancelar sua participação no Tokyo Game Show e adiar todas as prévias de imprensa de Assassin’s Creed Shadows. Um dia depois, descobrimos o motivo: uma forte reação contrária às iniciativas de diversidade, equidade e inclusão (DEI) fez com que a empresa mergulhasse em uma crise.

O lançamento de seu principal game do ano, que estava programado para o dia 12 de novembro, foi adiado para 14 de fevereiro de 2025. Além disso, a desenvolvedora alertou os investidores de que as receitas deste ano não ultrapassariam os € 2,3 bilhões de 2023, ficando em cerca de € 1,95 bilhão.

Até o fechamento deste artigo, as ações da Ubisoft já haviam caído 57%, o que fez com que alguns investidores pressionassem pela venda da empresa.

A queda nas reservas foi atribuída ao adiamento do lançamento e às fracas vendas de Star Wars: Outlaws. Mas a razão por trás de ambos os problemas, pelo menos em parte, parece ser a oposição de grupos de extrema-direita às iniciativas de diversidade e inclusão. 

Outlaws, que tem uma protagonista feminina, recebeu boas avaliações da crítica especializada. No entanto, muitos jogadores deram notas baixas para o game no Metacritic, alegando “narrativas forçadas de DEI” e acusando os desenvolvedores de focarem mais na “cultura woke” do que na história e na jogabilidade.

Esse ataque coordenado, motivado pelo boicote anti-DEI, parece ter funcionado, desencadeando uma série de eventos que culminaram no anúncio da semana passada.

“Acreditamos que Star Wars: Outlaws foi prejudicado por um esforço coordenado para 'trollar' especificamente os games da Ubisoft e o conteúdo de Star Wars em geral”, escreveu Michael Pachter, da Wedbush, em uma nota para investidores. “Este é um caso raro de uma vitória incel, que levou a desenvolvedora a revisar suas projeções financeiras.”

Crédito: Ubisoft

O CEO da Ubisoft, Yves Guillemot, abordou diretamente a polêmica ao anunciar a nova previsão de receitas. “Quero reafirmar que somos, acima de tudo, uma empresa de entretenimento, que cria games para o público mais amplo possível. Nosso objetivo não é promover nenhuma agenda específica. Continuamos comprometidos em desenvolver títulos para fãs e jogadores de todas as origens”, afirmou.

No entanto, é pouco provável que essa declaração acalme os ânimos da extrema-direita. O adiamento de Assassin’s Creed Shadows, que já havia sido alvo de críticas por incluir uma ninja mulher e um samurai negro como protagonistas em um jogo ambientado no Japão feudal, pode inclusive incentivar novos ataques. Fóruns no Reddit comemoraram o adiamento, inclusive com comentários racistas.

as ações da Ubisoft caíram 57%, o que fez com que alguns investidores pressionassem pela venda da empresa.

Mas não foram as mecânicas do game que provocaram essa reação contrária. Desde julho, a equipe de desenvolvimento vem enfrentando críticas por incluir um protagonista negro. O personagem, Yasuke, é inspirado em um samurai real do século 16.

“Embora busquemos autenticidade em tudo o que fazemos, os títulos da franquia Assassin’s Creed são obras de ficção inspiradas em eventos e personagens históricos reais”, disse a equipe de desenvolvimento em julho.

“Desde o início da série, tomamos liberdades criativas e incorporamos elementos de fantasia para criar experiências envolventes. A inclusão de Yasuke no game é um exemplo disso. Sua vida única e misteriosa fez dele um candidato ideal para contar uma história de Assassin’s Creed ambientada no Japão feudal.”

Crédito: Ubisoft

Apesar da reação contrária às iniciativas DEI, a Ubisoft não parece estar planejando mudanças drásticas no próximo título da franquia. A empresa reafirmou seu compromisso de entregar “uma aventura com dois protagonistas, Naoe e Yasuke, oferecendo dois estilos de jogabilidade distintos”.

Pachter acredita que o game deve vender mais de sete milhões de cópias, afirmando que ele “tem o potencial de ser um dos maiores sucessos de vendas da Ubisoft.”Ainda assim, isso pode não ser suficiente para alguns investidores.

Segundo a agência de notícias “Reuters, um investidor, que está pressionando pela venda da desenvolvedora para terceiros ou investidores de capital privado, disse ter o apoio de 10% dos acionistas da empresa.


SOBRE O AUTOR

Chris Morris é um jornalista com mais de 30 anos de experiência. Saiba mais em chrismorrisjournalist.com. saiba mais