Versão especial de Counter Strike alerta para a brutalidade da guerra real

Um novo mapa pode revelar a verdade sobre a invasão da Ucrânia a jogadores russos

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Chris Stokel-Walker 3 minutos de leitura

Os jogos da série Counter-Strike estão entre os mais populares do mundo, especialmente na Rússia. Agora, jogadores de lá que baixarem o novo mapa chamado “de_voyna” serão confrontados com a realidade do que o exército de seu país está fazendo na Ucrânia.

O mapa foi desenvolvido por uma iniciativa do jornal finlandês “Helsingin Sanomat” e traz informações verificadas sobre as atrocidades da guerra e as verdadeiras razões por trás da invasão. Jornalistas do periódico coletaram imagens e áudios que retratam a realidade no campo de batalha e os danos causados pelas tropas russas, com os quais os jogadores poderão interagir.

A propaganda do Kremlin sugere – sem provas – que a invasão se deu para deter a disseminação da ideologia nazista no país. O objetivo do mapa é oferecer uma versão não filtrada da guerra, que está em curso desde fevereiro de 2022.

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O jornal lançou a iniciativa no Dia Mundial da Liberdade de Imprensa (3 de maio), com o intuito de alcançar os quatro milhões de jogadores russos do Counter-Strike: Global Offensive. Segundo dados da Leetify, uma plataforma de estatísticas de jogos, o título é jogado por mais pessoas na Rússia do que em qualquer outro país.

“Descobrimos que jogos online ainda não foram banidos ou bloqueados”, afirma Antero Mukka, editor-chefe do jornal.

BURLANDO O FIREWALL

A criação dos mapas foi fruto de uma colaboração de meses com a agência criativa Miltton. As duas organizações se reuniram no início de 2023 para avaliar como poderiam levar informações sobre a violência da guerra para os cidadãos, uma vez que o jornal – assim como mais de 100 outros – foi banido do país desde a invasão.

Os criadores mantiveram contato com cidadãos contrários à guerra ​​para incorporar detalhes que os jogadores reconheceriam.

“Depois da sessão de planejamento, estava voltando para casa e, a caminho do ponto de ônibus, pensei em criar um mapa para o Counter-Strike e esconder jornalismo independente nele”, conta Roope Sandberg, diretor criativo e de arte da Miltton. Sandberg teve a ideia de usar o título porque ele próprio joga.

“Desde o início da guerra, tenho me perguntado por que os desenvolvedores não o bloquearam para jogadores russos, mesmo com constantes pedidos da comunidade gamer”, diz ele. “Então, por que não usar essa brecha a nosso favor levando informações independentes para jogadores russos do Counter-Strike?”

A estratégia de enviar informações precisas e não filtradas para a população, apesar da censura à imprensa no país, é semelhante a tentativas anteriores de burlar o firewall e alertar os russos sobre as ações do governo: no ano passado, por exemplo, ativistas compraram anúncios em redes sociais na Rússia.

DETALHES MINUCIOSOS

A Miltton terceirizou a criação do mapa para dois criadores especializados da Austrália e Dinamarca, que pediram para não serem identificados por medo de represálias.

Eles receberam a tarefa de projetar uma cidade eslava que parecesse com algumas das regiões que os soldados russos destruíram durante a invasão. A Valve Corp., desenvolvedora da série Counter-Strike, não foi consultada antes que o mapa criado pela comunidade fosse lançado no jogo.

Os criadores mantiveram contato com cidadãos contrários à guerra ​​para incorporar detalhes minuciosos que os jogadores reconheceriam, incluindo marcas locais e lixo com logotipos semelhantes ao que se encontraria em uma rua do país.

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Aqueles que caminharem por "de voyna" terão fortes lembranças da cidade de Kherson, ocupada por tropas russas por meses e onde operaram um centro de tortura, de acordo com a Human Rights Watch.

“Temos mais de 1,3 mil quilômetros de fronteira com a Rússia. Estamos profundamente interessados e temos acompanhado o que está acontecendo”, afirma Mukka.

Ele espera que o lançamento receba muita atenção. “Queremos que os jovens russos saibam que há uma realidade diferente da que o Estado está apresentando.”

“Se conseguirmos alcançar mesmo uma pequena fração dos quatro milhões de jogadores russos do Counter-Strike, o projeto poderá fazer a diferença entre a vida e a morte de alguém”, acrescenta Sandberg.

O diretor criativo argumenta que a maioria desses jogadores provavelmente são homens em idade militar e, portanto, os mais propensos a serem recrutados para o conflito. “Se os conscientizarmos sobre a verdade objetiva na Ucrânia, talvez possamos mudar algumas de suas atitudes em relação à guerra.”


SOBRE O AUTOR

Chris Stokel-Walker é um jornalista britânico com trabalhos publicados regularmente em veículos, como Wired, The Economist e Insider saiba mais