A corrida pela IA entra na fase da cobrança por resultados
Estudo mostra pressão de investidores por resultados mais rápidos enquanto empresas pedem paciência

Um número cada vez maior de empresas vem descobrindo que os tão prometidos ganhos financeiros da implementação da inteligência artificial têm demorado a se materializar. Ainda assim, isso não está impedindo muitos CEOs de gastar ainda mais com IA no ano que vem.
Um novo estudo da consultoria Teneo mostra que 68% dos CEOs pretendem aumentar o investimento em IA em 2026. Ao mesmo tempo, um grupo cada vez maior reconhece que será preciso começar a demonstrar retorno sobre esse investimento, e que uma parte importante do seu trabalho é convencer os acionistas a terem mais paciência.
“À medida que os esforços migram do hype para a execução, as empresas passam a sofrer pressão para demonstrar ROI [retorno sobre o investimento] diante do aumento dos gastos com IA”, escreveu a consultoria.
- EUA x China: duas visões sobre IA que podem decidir quem lidera o mundo; entenda
- IA elimina cargos corporativos, mas deixa trabalhadores essenciais para trás
- Da bolha da IA à corrida por data centers: o que está movendo o novo impulso das big techs
- “Desta vez vai ser diferente”: por dentro da bolha da inteligência artificial
Segundo o relatório, “CEOs de grandes companhias já estão vendo retornos sólidos em programas atuais, especialmente em áreas administrativas, de eficiência interna e em aplicações voltadas ao cliente. No entanto, 84% desses executivos preveem que os retornos positivos de novas iniciativas de IA levarão mais de seis meses para aparecer. Em contraste, os investidores pressionam por impacto mais rápido: 53% esperam ROI positivo em seis meses ou menos.”
Até agora, menos da metade dos projetos de IA gerou retornos que superam o custo dos programas, de acordo com mais de 350 CEOs de empresas de capital aberto ouvidos pela Teneo.
A pesquisa da consultoria vêm na esteira de um estudo da Gallup sobre o uso de IA no ambiente de trabalho, que apontou um forte aumento em 2025. A porcentagem de trabalhadores nos EUA que usaram IA ao menos ocasionalmente saltou de 40% para 45% entre o segundo e o terceiro trimestres de 2025 (no segundo trimestre de 2024, esse número eram apenas 27%).
87% dos CEOs disseram acreditar que suas organizações estão preparadas para futuras disrupções tecnológicas.
O grupo de usuários intensivos de IA também cresceu. No terceiro trimestre, 10% dos entrevistados disseram usar a tecnologia diariamente, ante 8% no fim do segundo trimestre. Um ano antes, esse percentual era de apenas 4%.
Os trabalhadores afirmaram que usam a IA principalmente para consolidar informações ou dados e para gerar ideias. Um número ligeiramente menor recorre à tecnologia para aprender coisas novas ou automatizar tarefas básicas. Apenas uma pequena parcela (9%) disse usar IA para fazer previsões.
Segundo a pesquisa da Teneo, as estratégias de IA mais bem-sucedidas até agora estão nas áreas de marketing e atendimento ao cliente. Aplicações mais complexas, como segurança, jurídico e recursos humanos, ainda não corresponderam ao potencial da tecnologia.

Isso não surpreende, afirma Ryan Cox, líder global de inteligência artificial da Teneo. Usos mais complexos precisam ser implementados em um ritmo mais lento.
“A primeira onda de retorno da IA veio de ganhos fáceis de eficiência. A próxima onda envolve reconfigurar processos centrais, o que inevitavelmente tem uma curva de ROI mais longa e irregular”, diz Cox.
“Esses casos de uso são mais arriscados e têm impacto potencial maior. Não se leva isso rapidamente ao mercado; trata-se como um programa de mudança estratégica, com supervisão em nível de conselho, e não como um experimento.”

Apesar de episódios como as demissões de novembro na Verizon – quando 13 mil trabalhadores perderam seus empregos como parte de uma mudança estratégica em direção à IA –, os CEOs acreditam que os temores de que o uso crescente da tecnologia resulte em perdas de postos de trabalho são exagerados.
Cerca de 67% disseram à Teneo que esperam que a IA aumente o número de funcionários em cargos de entrada e 58% afirmaram que a tecnologia levará à contratação de mais líderes seniores.
Como resultado desse otimismo em relação à IA, 87% dos CEOs ouvidos pela Teneo disseram acreditar que suas organizações estão preparadas para futuras disrupções tecnológicas. Ainda assim, alertaram que os líderes do futuro terão dificuldade para acompanhar o ritmo dos avanços tecnológicos, o que fará da agilidade e da criatividade as competências mais importantes para os próximos CEOs.