A IA pode nos levar às estrelas – mas só se pararmos de alimentá-la com junk food

O astrofísico Avi Loeb acredita que a IA poderia proteger a civilização humana do futuro, mas não sem obter seus dados de treinamentos corretos

Créditos: Alex Shuper/ Christian Boragine/ iStock

Jesus Diaz 5 minutos de leitura

Avi Loeb tem um currículo extenso: é professor de ciências em Harvard, onde também dirige o Instituto de Teoria e Computação do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica, além de ser o autor dos best-sellers "Extraterrestrial" ("Extraterrestres", na edição brasileira pela Intrínseca) e "Interstellar". E Loeb tem refletido muito sobre os rumos da inteligência artificial. 

Ele tem analisado a forma atual de treinar a IA e pensado em como podemos recalcular nossa rota para que a tecnologia tire proveito do melhor da humanidade. Loeb acredita que a IA poderia se tornar o espírito eterno da humanidade, viajando pelo universo da mesma forma que antigas civilizações alienígenas já fizeram, enviando sondas de IA pela imensidão da Via Láctea.

Loeb é um cientista que não tem medo de fazer perguntas que outros ignoram. Ele adquiriu uma reputação de rebelde na comunidade científica por contestar a ortodoxia dominante, ancorada na eterna luta por dinheiro para pesquisa e no medo do ridículo no meio acadêmico. 

Loeb acredita que a IA está sendo desenvolvida muito rápido. Atualmente, a maioria dos sistemas é treinada com base em grandes quantidades de dados extraídos da internet. Essa estratégia traz riscos significativos, pois pode incorporar os piores aspectos da humanidade aos algoritmos que moldarão nosso futuro. 

Essa alimentação forçada é um produto da necessidade insaciável das empresas de continuar treinando seus grandes modelos de linguagem com o máximo de informações possível para que, em essência, eles se tornem mais complexos e “inteligentes”.

Mas dados de treinamento de baixa qualidade podem levar a sistemas que refletem e até amplificam comportamentos humanos negativos, desde o racismo até a discriminação de gênero.

Loeb compara isso à criação de uma criança em um ambiente repleto de influências prejudiciais. É função dos pais selecionar as informações que os ajudarão a criar seus filhos para serem adultos responsáveis. Não deveríamos ter o mesmo cuidado ao selecionar os dados que usamos para treinar a IA? 

Uma melhor curadoria dos dados de treinamento é uma obrigação moral para as gerações futuras, diz Loeb. Ele imagina um futuro em que a IA ajude a construir uma sociedade colaborativa, respeitosa e focada na solução dos principais desafios enfrentados pela humanidade.

NOSSO FUTURO NAS ESTRELAS

Apesar desses problemas, Loeb ainda vislumbra um futuro em que os sistemas de IA, treinados de forma responsável e equipados com os valores corretos, poderão se tornar mensageiros da humanidade nas estrelas. Esses sistemas autônomos de IA poderiam desempenhar um papel fundamental na sobrevivência e na expansão da humanidade em longo prazo.

“Quando penso na próxima fase da humanidade, na verdade ela está indo para o espaço porque a própria Terra não será propícia à vida. Como sou astrônomo, sei que, dentro de um bilhão de anos, o sol vai ferver todos os oceanos, de modo que a Terra se tornará igual a Marte”, diz ele. “Não haverá água líquida na superfície. Será um deserto.” 

Para garantir a sobrevivência da civilização humana, ele acredita que devemos olhar para além da Terra e explorar as possibilidades de viver em outros planetas, ou mesmo em estações espaciais que não estejam ligadas a nenhum corpo celeste. Entretanto, Loeb reconhece os imensos desafios envolvidos em tais empreendimentos, especialmente as dificuldades de viagens espaciais de longa duração.

Crédito: NASA/ CXO/ SAO

Loeb diz que a IA pode se tornar a melhor esperança da humanidade para explorar e colonizar mundos distantes. Ele sugere que cérebros de IA autônomos e totalmente sintéticos, com habilidades cognitivas iguais ou superiores às nossas, poderiam ser projetados para suportar as condições adversas do espaço e realizar as longas e perigosas viagens entre as estrelas. Essas são missões que seriam difíceis, se não impossíveis, de serem enfrentadas por seres humanos. 

Esses exploradores baseados em IA, no entanto, estariam preparados contra os rigores da viagem espacial e seriam capazes de sobreviver por milhões de anos em um ambiente interestelar. Eles poderiam servir como pioneiros da civilização humana, mapeando novos mundos e possivelmente até criando vida em outros planetas usando tecnologias avançadas, como a impressão 3D. 

O FUTURO DEPENDE DE NÓS

Na visão de longo prazo de Loeb, a IA não é apenas uma ferramenta para resolver problemas imediatos, mas um componente essencial do futuro da humanidade no cosmos. Ele acredita que, ao desenvolver sistemas de IA com os valores e os recursos corretos, podemos estender o alcance da civilização humana para muito além da Terra, garantindo sua sobrevivência e florescimento em um futuro distante. 

sistemas autônomos de IA poderiam desempenhar um papel fundamental na sobrevivência e na expansão da humanidade em longo prazo.

A maneira como treinamos e desenvolvemos a IA determinará se esses sistemas poderão servir como a vanguarda da humanidade no universo ou se simplesmente replicarão as falhas do nosso passado em uma escala ainda maior. Por isso, é imprescindível que as nações se unam e estabeleçam princípios comuns para o desenvolvimento da IA que priorizem o bem-estar da humanidade como um todo.

Realizar o potencial da IA para o bem requer que atuemos com previsão, responsabilidade e compromisso com os valores que queremos ver refletidos em nosso futuro. "Precisamos concordar pelo futuro, para o benefício da humanidade. O que fazemos agora – não no próximo ano, nem em cinco anos – será crucial para alcançar o melhor resultado possível", diz Loeb.

O futuro da IA – e, de fato, o futuro da humanidade – está em nossas mãos. Cabe a nós garantir que a tecnologia que criamos sirva para nos elevar e nos unir. E nos levar às estrelas.


SOBRE O AUTOR

Jesus Diaz fundou o novo Sploid para a Gawker Media depois de sete anos trabalhando no Gizmodo. É diretor criativo, roteirista e produ... saiba mais