Canal fake criado com o Sora 2 atraiu mais de 20 mil visualizações no YouTube

As plataformas estão prestes a ser inundadas por esse tipo de conteúdo

imagens de canal de vídeos criados por inteligência artificial
Créditos: wildpixel/ blackdovfx/ Getty Images/ Lance the Dog/ YouTube

Thomas Smith 4 minutos de leitura

Os vídeos que fazem sucesso no YouTube Shorts seguem quase sempre a mesma fórmula: gatinhos, brigas, acrobacias absurdas ou os famosos “fails”.

O problema é que o mundo real não produz tantas cenas assim. E, das poucas que acontecem, nem todas são registradas. Pense em quantos bolos de casamento caindo e quantas discussões em aviões deixaram de ser filmados.

É aí que entra o Sora. O novo gerador de vídeos da OpenAI é incrivelmente realista e foi claramente treinado com bilhões de horas de vídeos curtos e verticais. Isso o torna perfeito para criar clipes rápidos e envolventes – o tipo exato de conteúdo que prende a atenção e alimenta o vício em redes sociais.

Como eu sei disso? Usei o Sora para criar um canal fake no YouTube, repleto de vídeos gerados por IA que imitam o estilo dos que vemos no Shorts e no TikTok. Levei cerca de 30 minutos para montar tudo e não gastei um centavo. Em menos de uma semana, o canal já somava 21,4 mil visualizações.

CONTEÚDO SEM FIM

Conseguir acesso à rede social Sora não é simples. A plataforma foi lançada apenas por convite, mas, mesmo assim, já ultrapassou cinco milhões de usuários ativos, crescendo ainda mais rápido que o próprio ChatGPT.

Depois que você entra, usar o Sora 2 (o modelo responsável por gerar os vídeos) é fácil. Basta digitar uma ideia e o sistema cria um vídeo vertical de 11 segundos com áudio sincronizado e até trilha sonora.

Resolvi testar o potencial desses vídeos fora da bolha da OpenAI. Abri o Sora 2 e comecei a digitar ideias aleatórias para vídeos com apelo emocional.

O modelo se saiu bem tanto com instruções detalhadas quanto com comandos simples. Em um deles, pedi ao ChatGPT que escrevesse um roteiro sobre uma mulher tentando se reconectar com a mãe distante.

O resultado foi surpreendente: cortes precisos, música envolvente e uma narrativa de 11 segundos com estética cinematográfica – tudo gerado por IA.

Nos outros vídeos, fui mais direto. Em um, escrevi apenas: “dois colegas de quarto discutem, vídeo de celular”.

Ao digitar "homem derruba acidentalmente um bolo de casamento gigante e lindo, e as pessoas ficam chocadas, vídeo realista gravado com celular", obtive esta joia, que é o meu vídeo favorito do Sora até agora:

Ao todo, criei oito vídeos, cada um gerado em cerca de um minuto. Usar o Sora 2 dentro do aplicativo é grátis. Ele produz “conteúdo genérico” em escala industrial –  basta dar as instruções e colher os resultados.

OS “FAILS” FEITOS POR IA

Em vez de publicar os vídeos no próprio Sora, quis ver como eles se sairiam nas plataformas tradicionais. Fui ao YouTube e postei todos na seção de Shorts.

Usei um canal antigo, onde antes eu publicava vídeos do meu cachorro, Lance. O canal estava praticamente abandonado – poucos vídeos e quase nenhuma visualização.

Era o lugar perfeito para o experimento: um canal real, mas inativo. Assim, eu poderia testar o que acontece quando alguém começa, de repente, a postar apenas vídeos do Sora.

o recado é claro: a partir de agora, desconfie de tudo o que vê nos aplicativos de vídeos verticais.

Minha intenção não era enganar ninguém. Mantive as marcas d’água do Sora e sinalizei os vídeos como “conteúdo alterado”, seguindo as regras do YouTube.

Mas isso não fez diferença. Uma semana depois, meus vídeos já acumulavam 21,4 mil visualizações. O vídeo mais popular do Lance, em comparação, havia alcançado apenas 2,6 mil views – em três anos.

Meu vídeo mais popular do Sora – o do bolo de casamento caindo – já tinha 12 mil visualizações no momento em que eu escrevia este texto (e continua crescendo).

UMA ONDA IMPOSSÍVEL DE CONTER

Os vídeos gerados por IA não seriam um grande problema se ficassem restritos às suas próprias plataformas. A lógica seria simples: ver vídeos artificiais no Sora e os reais no TikTok ou no YouTube Shorts.

Mas meu experimento mostrou que isso é impossível. Transferir vídeos do Sora para outras plataformas é extremamente fácil e, mesmo com alertas e marcas d’água, o público reage a eles como se fossem autênticos.

A rede social Sora também oferece uma experiência simplificada quando se trata de usar o modelo Sora 2. Em sua nova API, a OpenAI fornece aos desenvolvedores acesso direto ao Sora 2, incluindo duração e proporções de vídeo personalizáveis.

vídeos para celular feitos com inteligência  artificial
Créditos: Freepik/ Envato

Os vídeos gerados pela API custam US$ 0,10 por segundo e não têm marcas d'água perceptíveis. Levei apenas cerca de 20 minutos para programar uma integração em Python e estava criando conteúdo gerado por IA totalmente automatizado por cerca de US$ 1 por vídeo, em larga escala.

Tudo isso para dizer que YouTube, TikTok e Instagram estão prestes a ser inundados por uma enxurrada imparável desse tipo de conteúdo. O YouTube admitiu isso tacitamente quando introduziu a sinalização de "conteúdo alterado" há mais de um ano.

Naquela época, os vídeos gerados por IA eram tão ruins e inutilizáveis ​​que os youtubers ficaram se perguntando por que alguém precisaria divulgar a origem do conteúdo de IA. Agora sabemos.

Para quem consome esse tipo de conteúdo, o recado é claro: a partir de agora, desconfie de tudo o que vê nos aplicativos de vídeos verticais. Aquela garrafa que gira no ar de forma perfeita ou a briga de vizinhos que parece saída de um reality show talvez nunca tenham acontecido. Podem muito bem ter saído do poço sem fim de vídeos criados pelo Sora 2.


SOBRE O(A) AUTOR(A)

Thomas Smith é especialista em inteligência artificial treinado na Universidade Johns Hopkins e jornalista com mais de 15 anos de expe... saiba mais