Comet Plus, da Perplexity: pague US$ 5 e salve o jornalismo (ou não)
Programa de assinaturas quer agradar publishers com repasse milionário, mas levanta dúvidas sobre bots, transparência e quem realmente sai ganhando

No mundo dos negócios, mudar de rota é uma arte delicada. O famoso pivot só acontece quando a empresa percebe que insistir no caminho atual será pior do que admitir que errou.
É esse o raciocínio que parece estar por trás do recente relançamento da Perplexity, o Comet Plus, sua nova tentativa de dividir receita com publishers.
Um resumo rápido: usuários podem pagar US$ 5 por mês para acessar conteúdos de parceiros da Perplexity – quer dizer, daqueles que aceitarem embarcar no programa. A empresa promete repassar a maior parte desse dinheiro para eles e já reservou US$ 42,5 milhões para começar, segundo o CEO Aravind Srinivas.
Apesar do nome, inspirado no navegador Comet, o conteúdo pode ser acessado em qualquer browser. A vantagem de usar o Comet é ter também acesso ao Comet Assistant, peça-chave da estratégia. Ah, e quem já tem plano Pro ou Max recebe o Plus de brinde.
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Vale lembrar: a Perplexity já tinha um esquema de partilha, o Perplexity Publishers’ Program (PPP), lançado no ano passado. Nesse modelo, quando o conteúdo de um parceiro aparece em uma resposta, a receita dos anúncios vinculados é dividida.
Mas o Comet Plus soa como uma meia-admissão de que o PPP não foi exatamente o blockbuster que faria os publishers sorrirem de orelha a orelha.
QUERER (OU PAGAR) É PODER
O Comet Plus muda a conversa sobre monetização, direitos autorais e até sobre a legislação. Enquanto rivais da busca com IA buscam fechar acordos de licenciamento ou cobram “por rastreamento” (pay per crawl), a Perplexity resiste em abrir a carteira antes de usar conteúdo alheio.
O truque dela é outro: só monetiza quando terceiros pagam – anunciantes ou usuários. Do bolo, 80% vai para os publishers; 20% ficam para cobrir custos de computação.

O detalhe é a divisão em três tipos de tráfego: engajamento humano, indexação de busca e atividade de agentes (os bots).
É aqui que o Comet Assistant entra: ele é o “agente oficial” da Perplexity no plano. Afinal, bots de terceiros não dá para monetizar. Ponto para a empresa, que conseguiu criar um jeito de cobrar pelo tráfego gerado por seu próprio assistente.
Mas há um porém: a Perplexity é uma das que ignora o protocolo de exclusão de robôs, aquele mecanismo para bloquear crawlers. Ou seja, em vez de aderir a um programa “pay per crawl” já existente, está montando seu próprio sistema e definindo quanto vale a atividade que ela mesma gera. Conveniente, não?
Embora a empresa garanta “visibilidade robusta e transparente” aos parceiros, na prática, ela promete compensar os publishers por uma atividade que controla sozinha. Para os veículos, será interessante entender até onde esses agentes realmente influenciam no que aparece em uma resposta de busca.
QUANTO VALE O CONTEÚDO?
O Comet Plus também expõe uma contradição central na forma como as empresas de IA valorizam conteúdo. Se o usuário paga para acessar certos materiais, isso significa que eles têm valor. Mas a Perplexity não trata os outros conteúdos como menos importantes: vai exibir o que considerar a melhor resposta, mesmo que o publisher não esteja no programa.
O Comet Plus muda a conversa sobre monetização, direitos autorais e até sobre a legislação.
Em bom português: “queremos dividir a receita com você, mas, se você não topar, vamos usar seu conteúdo de qualquer forma – a menos que você nos proíba.” Esse mantra do “coletar agora, resolver depois” já virou padrão na indústria de IA. Se é legal ou não, a justiça vai decidir.
Até lá, o mercado de mídia observa com atenção o novo modelo de três frentes da Perplexity. Monetizar agentes e atividade de busca é uma ideia nova, mas o sucesso depende de um detalhe: os usuários acharem que o Comet Plus vale os US$ 5. Caso contrário, não se preocupe: a boa e velha publicidade sempre estará pronta para salvar o dia.