Por que a conexão humana é o verdadeiro motor da inovação na era da IA

Um imperativo empresarial inesperado, a construção de relacionamentos traz diversas implicações positivas

Crédito: CSA-Printstock/ Getty Images

Carrie Varoquiers 3 minutos de leitura

A inteligência artificial está remodelando o mundo do trabalho com velocidade e profundidade. Processos são transformados, ganhos de eficiência se multiplicam e a promessa de uma nova era de produtividade se espalha por todos os setores.

No entanto, em meio ao avanço inexorável da tecnologia, cresce a percepção de que habilidades essencialmente humanas – especialmente a capacidade de conexão – não apenas permanecem relevantes, mas se tornam ainda mais estratégicas.

Em uma era dominada por algoritmos, cultivar relações genuínas não pode mais ser considerado um “soft skill”. Trata-se de um elemento central para a inovação e o progresso. Cada vez mais, os trabalhadores buscam conexão humana mais próxima, um senso de pertencimento e o reconhecimento de seu valor individual.

Pesquisa da consultoria McKinsey & Company revela que as principais razões para pedidos de demissão são justamente a falta de valorização pelas empresas (54%) ou pelos gestores (52%) e a ausência de pertencimento no ambiente de trabalho (51%).

O impacto da solidão no trabalho também é expressivo. Estudos indicam que ela está associada a quedas de desempenho, insatisfação profissional, dificuldades nas relações com lideranças e maior risco de burnout. Diante desse cenário, torna-se essencial que as organizações compreendam o valor da conexão humana para seus resultados.

O PAPEL HUMANO EM UM MUNDO AUTOMATIZADO

A promessa da inteligência artificial é indiscutível: processar dados em segundos, automatizar tarefas complexas e liberar tempo para decisões estratégicas. Porém, essa mesma eficiência pode criar um paradoxo. Se não houver intencionalidade no uso da IA, corremos o risco de formar grupos fechados, limitar o acesso a visões diversas e frear a inovação.

A capacidade humana de se conectar, compreender diferentes perspectivas e integrar experiências de vida variadas é um motor poderoso para a criatividade e a resolução coletiva de problemas.

Essa demanda já começa a alterar o uso da própria tecnologia. Segundo a "Harvard Business Review", a principal aplicação atual da IA generativa passou a ser “terapia/ companhia”, superando o uso anterior voltado à geração de ideias.

Créditos: Scott Webb/ Unsplash/ rawpixel

Organizações como a More in Common, apoiada pela Workday Foundation, têm se debruçado sobre esse fenômeno. Em um estudo de dois anos intitulado The Connection Opportunity, pesquisadores revelam que 66% dos norte-americanos acreditam que é possível aprender algo valioso com pessoas diferentes e 70% sentem-se responsáveis por buscar essas conexões.

A busca por um objetivo comum reforça valores e aspirações compartilhadas. E, ao criar espaços para interações positivas e pontos de convergência, é possível superar divisões – tanto nas organizações quanto na vida pessoal.

Essa conexão também se traduz em desempenho. Dados mostram que 94% dos colaboradores que se sentem conectados aos colegas se consideram mais produtivos. Eles também são quatro vezes mais propensos a estarem satisfeitos com o trabalho e têm metade da probabilidade de pedir demissão no ano seguinte.

CONEXÃO HUMANA E HABILIDADES NA ERA DA IA

O estudo global Elevating Human Potential: The AI Skills Revolution (Elevando o potencial humano: a revolução das habilidades de IA), conduzido pela Workday, reforça que, embora a IA transforme profundamente a dinâmica do trabalho, ela também eleva a importância de competências humanas como empatia, ética, resolução de conflitos e construção de relacionamentos.

A capacidade de se conectar e compreender diferentes perspectivas é um motor poderoso para a resolução coletiva de problemas.

Com a adoção crescente da IA, 82% dos trabalhadores já percebem uma demanda maior por conexão humana. Esse movimento impõe um novo imperativo às lideranças: à medida que a inteligência artificial se integra às rotinas, é preciso criar ambientes que priorizem o desenvolvi- mento de habilidades humanas e incentivem a conexão genuína.

Isso inclui promover espaços de diálogo aberto, escuta ativa e troca respeitosa de perspectivas diversas. Líderes devem estimular o cultivo da empatia e das habilidades de relacionamento, criando oportunidades reais de interação humana em um cenário cada vez mais automatizado.

No fim das contas, o futuro da inovação e do progresso dependerá da capacidade de combinar o potencial da IA com o que temos de mais único: nosso impulso inato de nos conectar. Priorizar a dimensão humana no trabalho é, portanto, essencial para garantir um futuro mais colaborativo, criativo e centrado nas pessoas.


SOBRE A AUTORA

Carrie Varoquiers é diretora de filantropia da empresa de desenvolvimento de software Workday. saiba mais