Elvis não morreu: IA leva o espectador a uma experiência imersiva com o astro
Espetáculo inédito mistura inteligência artificial, teatro e efeitos sensoriais para reviver momentos marcantes da trajetória do ícone da música

Sentir medo do palco não é algo que costumamos associar a Elvis Presley. Mas, em 1968, ele estava tomado pelo nervosismo. Às vésperas de um especial de TV decisivo para retomar sua carreira, após anos em baixa em Hollywood, o Rei do Rock hesitou.
O astro confessou ao diretor do programa, Steve Binder, que estava apavorado. “Não sei se vou conseguir... só eu e um violão na frente de todo mundo?”, disse, ainda cogitando, meio em tom de brincadeira, fugir para o Havaí.
Esses momentos de fragilidade, até hoje, só eram conhecidos por pessoas muito próximas a ele. Mas, a partir de agora, em Londres, quem for ao espetáculo “Elvis Evolution” poderá reviver essa e outras passagens marcantes da vida do cantor – com a ajuda de uma versão criada por inteligência artificial.
A experiência, totalmente imersiva, combina diferentes tecnologias, mas os criadores garantem que o objetivo é transportar o público no tempo, e não apenas impressionar com recursos digitais.
A responsável pelo projeto é a produtora Layered Reality, que desenvolve experiências baseadas em três “camadas”: tecnologia, teatro e estímulos físicos. A parte tecnológica inclui realidade aumentada e som 3D; o teatro entra com cenários e atores reais; e os estímulos físicos envolvem sentidos como tato e paladar.
“Esses elementos geralmente são tratados de forma isolada. Mas acreditamos que, juntos, funcionam muito melhor”, afirma o fundador e CEO Andrew McGuinness.
UMA VIAGEM PELA VIDA DE ELVIS PRESLEY
A proposta é levar o público por uma narrativa que percorre os principais momentos da vida de Elvis – da infância ao auge nos anos 1950, passando pela era de opulência em Las Vegas – em cenários montados no Immerse LDN, novo centro de entretenimento imersivo às margens do rio Tâmisa.
Os visitantes vão caminhar por ambientes como uma lanchonete dos anos 50 e um camarim. Em certos momentos, os próprios cenários se movimentam ao redor do público. A experiência também muda de perspectiva. “Vai ter um momento em que você literalmente vai entrar no lugar dele”, explica Simon Reveley, diretor de estúdio.
A equipe faz mistério sobre os detalhes para não estragar as surpresas. Mas, como era de se esperar, a música terá papel central. Durante toda a experiência, a inteligência artificial é usada para remasterizar faixas e melhorar a qualidade dos vídeos antigos.
Mas a grande estrela da tecnologia é o próprio “Elvis digital”. O público verá uma recriação digital hiperrealista do cantor, feita a partir de milhares de fotos, vídeos caseiros, gravações de shows e outros registros.
Segundo Reveley, as ferramentas mais recentes de IA generativa permitem que o algoritmo se baseie diretamente no material original, mais do que um ator conseguiria.
Isso possibilita capturar detalhes minuciosos – essenciais ao retratar alguém como Elvis, conhecido por trejeitos icônicos, como o famoso movimento do lábio. “Todo mundo reconhece esses gestos e o algoritmo aprendeu a reproduzi-los”, afirma Reveley.
Uma das missões do Elvis digital é justamente reconstituir momentos reais que nunca foram filmados – como o nervosismo antes do especial de TV, em 1968.
ELVIS DIGITAL: ENTRE A TECNOLOGIA E A ÉTICA
Recriar momentos íntimos que não chegaram a ser registrados – ainda que baseados em fatos reais – levanta questões éticas: será que Elvis gostaria que essas memórias fossem expostas ao público? Mas, segundo os criadores, o objetivo não é inventar o que nunca aconteceu.
“A IA, aqui, atua como uma arquivista digital, não como uma roteirista”, diz Andrew McGuinness, fundador e CEO da Layered Reality. Além disso, o projeto conta com o aval e a colaboração direta da família Presley, que concedeu acesso completo ao acervo.

Para criar o Elvis digital, a Layered Reality se uniu ao The Mill, estúdio de efeitos visuais que ganhou um Oscar por recriar o ator Oliver Reed digitalmente em “Gladiador”.
O The Mill fazia parte do Technicolor Group – gigante da pós-produção que, desde 1915, foi referência no setor. Mas, em fevereiro, o grupo declarou falência, após anos de dificuldades financeiras.
Isso atrasou a produção. Apesar de a Layered Reality já ter os direitos sobre o Elvis digital, ainda havia trabalho a ser feito. A solução foi contratar artistas do The Mill como freelancers para finalizar os detalhes. A estreia, inicialmente prevista para março, precisou ser adiada duas vezes.
Agora, com tudo pronto, o espetáculo começou a receber o público esta semana – e dar início, segundo McGuinness, a uma verdadeira “revolução no entretenimento ao vivo”.
Para ele, os concorrentes do “Elvis Evolution” não são outras empresas de tecnologia ou inteligência artificial, mas qualquer outra atividade de lazer: de musicais e minigolfe até “aquele restaurante italiano da esquina, onde você vai acabar gastando £130”.
A aposta da empresa está no crescente interesse do público por experiências imersivas. O conceito de “economia da experiência” existe desde 1998, quando foi apresentado pela primeira vez na “Harvard Business Review”. E, depois da pandemia, eventos como esse ganharam ainda mais força – vide o sucesso da Esfera, em Las Vegas.
É nesse contexto que "Elvis Evolution" pretende se destacar. E, quem sabe, promover um novo “comeback” para o Rei do Rock – desta vez, em versão digital.

