Fazer funcionar os agentes de IA é o verdadeiro desafio dos desenvolvedores
Mesmo com o impacto do DeepSeek, a indústria ainda está longe de descobrir como tornar a inteligência artificial verdadeiramente útil
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Levou cerca de uma semana para que a maioria das pessoas começasse a prestar atenção no DeepSeek R1, lançado no dia 20 de janeiro. Mas, quando isso aconteceu, o impacto foi imediato, com repercussões que vão desde avanços tecnológicos até implicações geopolíticas.
Entre os desdobramentos estão a queda no valor das fabricantes de chips, novas dúvidas sobre se ter acesso a uma enorme quantidade de recursos realmente garante vantagem na corrida da IA e a surpresa pelo fato de que as restrições do governo Biden à exportação dos chips mais avançados dos EUA para a China não impediram os pesquisadores de realizar um feito notável com o que tinham à disposição.
O impacto repentino do DeepSeek lembra o pânico causado há mais de 67 anos, quando a União Soviética colocou um satélite em órbita antes dos Estados Unidos. Mas a semelhança para por aí.
Enquanto os soviéticos operavam em completo sigilo, o DeepSeek está tornando público seu código e suas pesquisas sobre como criar uma IA mais eficiente. Isso permite que o mundo inteiro aproveite suas descobertas, acelerando o desenvolvimento da tecnologia em diversas áreas, em vez de conceder uma vantagem exclusiva para uma única empresa ou país.
O DeepSeek R1 – e outras tecnologias inspiradas em sua abordagem – pode forçar as gigantes da inteligência artificial a repensar suas estratégias. Mas isso está longe de ser o fim da linha para a indústria.
A inteligência artificial ainda tem muito espaço para crescer, e é difícil acreditar que empresas com recursos praticamente ilimitados não consigam alcançar avanços que aquelas com orçamentos menores não poderiam desenvolver.
O principal desafio, no entanto, é que, apesar das evoluções nos modelos de linguagem nos últimos anos, a aplicação prática da inteligência artificial ainda não acompanhou esse ritmo.
Agora que o hype em torno da IA generativa está começando a diminuir, ferramentas como o Copilot, da Microsoft, parecem versões preliminares de algo que ainda precisa de muitos ajustes para atingir seu verdadeiro potencial. O trabalho de integrar a inteligência artificial aos processos do dia a dia mal começou.
Os avanços trazidos pelo DeepSeek não vão atrapalhar o desenvolvimento dos agentes de IA.
Esse é o pano de fundo para a crescente obsessão da indústria com os chamados agentes de IA – um termo cada vez mais usado para se referir a sistemas capazes de executar tarefas complexas sem precisar de supervisão humana constante.
Embora já existam alguns projetos promissores, eles ainda são minoria em meio a diversas tentativas que mostram que a tecnologia, no momento, não está pronta para funcionar de forma autônoma.
O QUE SÃO AGENTES DE IA
Na semana passada, por exemplo, a OpenAI lançou o Operator, uma versão experimental disponível para usuários do ChatGPT Pro, que custa US$ 200 por mês. O Operator é capaz de digitar em navegadores e controlar o cursor do mouse – um primeiro passo para permitir que a IA realize tarefas humanas na web.
O jornalista Casey Newton, do “Platformer”, testou a ferramenta pedindo que ela criasse um plano de aula sobre o livro “O Grande Gatsby”. O resultado demorou vários minutos para ser gerado e não foi melhor do que o que o ChatGPT já entrega quase instantaneamente.
Quando Newton tentou usá-lo para fazer compras online – algo que um chatbot tradicional não consegue fazer –, percebeu que a versão atual do Operator ainda é bem limitada nessa função.
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Em dezembro, tive a oportunidade de ver uma demonstração do Project Mariner, os agentes de IA experimentais do Google, que também prometia facilitar compras de supermercado. A experiência foi frustrantemente lenta e não parecia ser um avanço real.
O fato de que nem o Operator nem o Mariner conseguem realizar uma tarefa simples, como comprar um litro de leite, não significa que esses projetos sejam um fracasso – apenas que o objetivo de tornar a inteligência artificial realmente autônoma ainda está distante, mesmo para gigantes como OpenAI e Google.
Os avanços trazidos pelo DeepSeek e outras inovações que ainda estão por vir não vão atrapalhar o desenvolvimento dos agentes de IA. Pelo contrário, devem torná-los mais acessíveis para mais pessoas com boas ideias.
Talvez a chegada do DeepSeek R1 marque um ponto de virada para as grandes empresas de tecnologia. Mas, se elas não forem capazes de inovar e expandir sua visão, correm o risco de se tornarem irrelevantes.