Futuro do trabalho: como seria gerir uma equipe formada por agentes de IA?

Os profissionais que aprenderem a liderar agentes de IA vão definir o futuro do trabalho

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Tigran Sloyan 5 minutos de leitura

Há um medo crescente de que a inteligência artificial substitua o talento humano. Embora seja inegável que a IA vai impactar o mercado de trabalho, assim como qualquer tecnologia disruptiva, uma análise mais atenta revela um futuro diferente – e muito mais promissor.

Em vez de substituir profissionais altamente qualificados, a IA está criando um cenário onde trabalhadores do conhecimento podem deixar de ser meros contribuintes individuais para se tornarem gestores estratégicos, liderando equipes de agentes de IA capazes de executar tarefas com eficiência impressionante.

Longe de tornar a experiência e a criatividade humanas irrelevantes, elas serão ainda mais essenciais, pois será tarefa dos humanos orientar e direcionar os agentes de IA para alcançar os melhores resultados.

Atualmente, os sistemas de IA já demonstram domínio em tarefas que vão desde análise de dados e geração de relatórios até tomada de decisões em finanças, pesquisa jurídica e indústrias criativas.

A próxima evolução lógica são os agentes de IA, onde a tecnologia deixa de ser apenas uma ferramenta auxiliar para atuar ao lado das pessoas com um certo grau de autonomia. Não é difícil entender o receio que isso provoca: agentes de IA podem ser mais rápidos, eficientes e baratos do que humanos.

Mas até os melhores talentos precisam de um gestor. E os gestores que lideram equipes de alto desempenho são os mais valiosos dentro de uma organização. O futuro pertence aos profissionais que souberem canalizar as capacidades da IA para alcançar resultados muito superiores aos que conseguiriam sozinhos.

GESTÃO TÉCNICA NA LIDERANÇA DE EQUIPES DE AGENTES DE IA

Isso nos leva a uma pergunta essencial: o que significa ser gestor de equipes de agentes de IA?

A verdade é que a gestão eficaz sempre exigiu um conjunto de habilidades, seja para liderar pessoas ou sistemas de IA. De um lado, há a gestão de pessoas – o domínio do comportamento humano, motivação e emoções.

Por outro lado, gerenciar significa organizar, delegar e garantir que existam processos estruturados para executar uma visão estratégica. Não se trata apenas de definir um rumo, mas de assegurar que cada tarefa contribua para alcançar um objetivo comum.

Com a adoção da IA, os ganhos de eficiência em certas áreas vão demandar ainda mais operadores humanos.

Essas habilidades são especializadas e nem sempre transferíveis entre diferentes áreas. É por isso que um ótimo gerente de vendas pode ter dificuldades ao liderar uma equipe de engenharia e um grande gerente de produto pode não ter sucesso ao motivar uma equipe comercial.

Em um mundo onde os agentes de IA trabalham ao nosso lado, esses dois aspectos se tornam ainda mais críticos. Embora a IA possa executar muitas tarefas com velocidade e precisão, um gestor de equipes de agentes de IA precisa compreender tanto os mecanismos da tecnologia quanto os elementos humanos da colaboração para trabalhar com outros gestores que também estão liderando sistemas de IA.

A ideia de que bons gestores precisam apenas de habilidades interpessoais, sem um real entendimento do trabalho técnico, está completamente equivocada. Qualquer pessoa que já tenha trabalhado com um gestor desconectado da realidade prática sabe que a verdadeira liderança exige conhecimento operacional e visão estratégica.

A QUESTÃO DA SUBSTITUIÇÃO DE HUMANOS POR IA

Muitos temem que, conforme a IA vá se aprimorando, vamos precisar de menos funcionários, o que levaria ao desemprego em massa. Um bom contra-argumento para essa preocupação é o Paradoxo de Jevons: a ideia de que aumentos na eficiência, muitas vezes, levam a uma demanda ainda maior.

Embora a IA possa assumir tarefas que hoje são feitas por pessoas, os ganhos de eficiência em certas áreas vão demandar ainda mais operadores humanos. O erro comum é supor que a demanda por funcionários só pode diminuir. Isso presume que já atingimos um limite para a utilidade da inteligência e criatividade humanas, e que esse limite continuará caindo com o tempo.

Mas, se aceitarmos a possibilidade de que uma única pessoa gerenciando equipes de agentes de IA pode entregar resultados muito superiores ao que conseguimos hoje, não estaremos diante de um futuro com menos oportunidades.

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Da mesma forma, a Revolução Industrial eliminou inúmeros empregos manuais, especialmente no setor têxtil, mas também levou a uma explosão histórica de riqueza que continua até hoje, ainda que de forma desigual. Os preços de bens essenciais caíram, elevando o padrão de vida global.

O pessimismo em relação à IA ignora essas tendências históricas. É igualmente plausível que o aumento de produtividade proporcionado pela IA desbloqueie novas oportunidades – mercados, indústrias e produtos que sequer conseguimos imaginar agora.

Embora algumas funções desapareçam, outras vão surgir para compensar essa perda. A gestão de equipes de agentes de IA é apenas um exemplo.

COMO SE PREPARAR PARA ESSA MUDANÇA?

Assim como a Revolução Industrial trouxe uma fase de deslocamento no curto prazo, o mesmo vai acontecer com a IA, mas sem o choque sistêmico causado pela mecanização total da força de trabalho. Acredito que a evolução da IA será mais gradual e deliberada, e que há diversas ações que podemos tomar para tornar essa transição mais suave.

No caso dos trabalhadores, as empresas precisam incorporar a alfabetização em IA como parte de seu modelo de operação, capacitando funcionários em todos os níveis, do mais júnior até a alta liderança.

um gestor de agentes de IA precisa entender tanto os mecanismos da tecnologia quanto os elementos humanos.

Para os profissionais, especialmente aqueles cujas funções correm maior risco de serem impactadas pela tecnologia, é hora de agir. Comece a aprender. Nem todos precisam se tornar engenheiros de software, mas entender as ferramentas de IA, se familiarizar com fluxos de trabalho digitais e desenvolver habilidades de resolução de problemas fará toda a diferença.

Mas aqui está o ponto crucial: não basta apenas saber como usar a IA. É fundamental saber o suficiente para questioná-la.

A IA é poderosa, mas não infalível. Aceitar cegamente os resultados gerados por ela sem compreender sua lógica ou suas limitações é um erro grave. No final das contas, o papel do gestor de equipes de agentes de IA será desafiá-las quando for preciso. Vai se destacar nessa nova quem tiver pensamento crítico e souber entender quando confiar na IA e quando intervir.

A boa notícia é que há muitas maneiras de se capacitar: cursos gratuitos, treinamentos oferecidos por empregadores, bootcamps de IA e autoaprendizado. Os recursos estão disponíveis, só é preciso dar o primeiro passo.


SOBRE O AUTOR

Tigran Sloyan é cofundador e CEO da CodeSignal. saiba mais