IA de código aberto coloca dados sobre o planeta ao alcance de ONGs e governos

Nova plataforma de inteligência artificial quer ajudar governos e organizações sem recursos a usar tecnologia geoespacial de ponta

inteligência artificial de código aberto
Crédito: OlmoEarth/ Instituto Allen de Inteligência Artificial

Steven Melendez 3 minutos de leitura

Uma nova plataforma de inteligência artificial de código aberto, criada pela organização sem fins lucrativos do falecido cofundador da Microsoft Paul Allen, pretende tornar imagens de satélite e outros dados sobre o planeta mais acessíveis e úteis.

O Instituto Allen para Inteligência Artificial (Ai2) apresentou a OlmoEarth Platform, desenvolvida a partir de uma família de modelos de IA treinados com cerca de 10 terabytes de dados – resultado de milhões de observações da Terra, incluindo imagens de satélite, leituras de radar e mapas de cobertura florestal e outros elementos naturais.

Os modelos da OlmoEarth podem ser ajustados para diferentes finalidades, como identificar mudanças na vegetação, com a ajuda de uma ferramenta complementar chamada OlmoEarth Studio.

O Ai2 já trabalha com diversas organizações que aplicam a tecnologia em projetos ambientais. Algumas usam a IA para aprimorar o monitoramento e a resposta a incêndios florestais. O Instituto Internacional de Pesquisa em Políticas Alimentares (IFPRI, na sigla em inglês), por exemplo, utiliza o sistema para atualizar com mais frequência os mapas de cultivo em uma região do Quênia.

A Amazon Conservation usa a tecnologia para detectar desmatamento de forma mais rápida. Já o projeto Global Mangrove Watch utiliza a OlmoEarth para monitorar áreas de manguezais e identificar rapidamente ameaças a florestas costeiras.

os modelos podem ser usados de forma tão intuitiva quanto buscar um endereço no Google Maps.

A iniciativa surgiu da constatação de que, embora a IA possa transformar o uso de imagens e dados – tanto novos quanto históricos –, colocar essa tecnologia em prática ainda é um desafio para muitas organizações, incluindo agências governamentais e ONGs que realizam trabalhos fundamentais.

“Há um consenso de que esse tipo de tecnologia tem um enorme valor, mas é muito difícil de usar”, conta Patrick Beukema, principal pesquisador da equipe da OlmoEarth no Ai2.

“Não vimos ainda uma adoção em larga escala desses modelos, como aconteceu com os grandes modelos de linguagem. O potencial transformador da inteligência artificial ainda não se concretizou nesse campo.”

TECNOLOGIA DE PONTA

Para preencher essa lacuna, o Ai2 desenvolveu o que Beukema chama de modelos de ponta, baseados na tecnologia de transformadores de visão – semelhante à usada por chatbots como o ChatGPT e o Claude –, acompanhados de um conjunto de ferramentas que facilita seu uso no dia a dia.

Entre elas está o OlmoEarth Studio, que simplifica o processo de treinamento dos modelos para tarefas específicas a partir de dados rotulados manualmente, como áreas de cultivo, regiões de manguezais ou trechos de floresta mais suscetíveis a incêndios.

Depois de ajustados, os modelos podem ser usados para analisar qualquer região em um determinado período, de forma tão intuitiva quanto buscar um endereço no Google Maps ou marcar um evento no calendário do celular.

página inicial da IA de  monitoramento OlmoEarth
Crédito: Ai2

“O usuário pode simplesmente pedir: ‘quero ver os manguezais da Indonésia nos últimos seis meses’ ou ‘quero uma análise global dos últimos quatro anos’”, explica Beukema. “A ideia é oferecer flexibilidade para que cada um escolha exatamente o que precisa.”

Os resultados podem ser publicados ou compartilhados em mapas interativos visualizados no OlmoEarth Viewer, que permite selecionar regiões e períodos específicos.

Tanto o Studio quanto o Viewer podem ser usados sem necessidade de programação, embora o Ai2 também tenha disponibilizado ferramentas de automação e APIs para quem quiser personalizar o uso da tecnologia.

LEVANDO FERRAMENTAS A QUEM PRECISA

Segundo Beukema, o objetivo do OlmoEarth é oferecer gratuitamente às organizações uma tecnologia comparável às soluções comerciais e acadêmicas mais avançadas, permitindo que analisem e visualizem dados de forma eficiente, mesmo sem os recursos para desenvolver seus próprios modelos de IA.

modelos podem ser usados para analisar qualquer região em um determinado período.

O Ai2 pretende tornar a plataforma acessível a uma ampla gama de instituições, com a maioria dos recursos disponível gratuitamente. Algumas funções, como o ajuste de modelos, exigem coordenação direta com o Ai2, para garantir que o sistema não seja usado de forma inadequada.

Beukema reforça que o instituto quer colaborar com organizações interessadas em aplicar a tecnologia. “Se você acredita que essa ferramenta pode ajudar a acelerar sua missão, entre em contato”, diz ele. “Estamos aqui para ajudar.”


SOBRE O AUTOR

Steven Melendez é jornalista independente e vive em Nova Orleans. saiba mais