Infraestrutura: o verdadeiro poder na era dos agentes de IA
O jogo da IA não acontece apenas na camada visível. Ele acontece, principalmente, em tudo o que permite que essa camada exista

No AI Ascent, evento fechado promovido pela Sequoia Capital no início de maio em São Francisco, nos EUA, consolidou-se uma tese clara: a nova fronteira tecnológica está na camada de aplicação. Executivos, investidores e especialistas reuniram-se para discutir o que muitos consideram inevitável: a era dos agentes de IA começou.
O evento – que contou com nomes como Sam Altman, da OpenAI, Jensen Huang e Jim Fan, da Nvidia, e Jeff Dean, do Google – destacou o avanço dos assistentes digitais capazes de executar tarefas complexas como a próxima grande onda de inovação.
Demonstrações de agentes que reservam viagens, gerenciam calendários e até negociam contratos empolgaram investidores ávidos pela próxima grande aposta.
E faz todo sentido. Agentes são, sim, uma disrupção relevante. A promessa de delegar tarefas a assistentes ultra competentes ressoa com o sonho de produtividade que a humanidade persegue desde a Revolução Industrial. Multiplicar nossa capacidade sem multiplicar nosso tempo é uma ideia poderosa.
Mas a história da tecnologia é implacável. O valor mais duradouro quase sempre fica com quem controla a infraestrutura de IA subjacente.
Foi assim na era da Lei de Moore, que impulsionou décadas de avanço exponencial em software, enquanto fabricantes de chips acumulavam fortunas fornecendo o hardware que tornava tudo possível. E é assim agora, na corrida por chips especializados, data centers e energia que sustentam essa revolução.
TUDO DEPENDE DA INFRAESTRUTURA DE IA
É razoável supor que, além dos palcos do AI Ascent, discussões mais pragmáticas tenham ocorrido. Conversas sobre os verdadeiros gargalos: capacidade computacional, eficiência energética e acesso a recursos escassos.
Enquanto startups de agentes disputam a atenção do mercado, os gigantes da infraestrutura seguem ampliando silenciosamente sua capacidade, cientes de que cada nova aplicação depende fundamentalmente deles.
Basta olhar para a Nvidia, que se tornou símbolo da corrida por capacidade computacional. A empresa de Jensen Huang transformou-se na fornecedora indispensável dos chips que viabilizam a IA generativa.

Seu valor de mercado superou, ainda que de forma pontual, a marca de US$ 3 trilhões. Não porque vende produtos finais aos consumidores, mas porque fornece as pás e picaretas da corrida do ouro da inteligência artificial.
Ou para a Oracle, que discretamente se posicionou como protagonista na infraestrutura que sustenta essa nova era. Sob a liderança de Larry Ellison, a empresa se tornou parceira estratégica para armazenamento e processamento de dados em larga escala.
Enquanto o mercado se deslumbra com os grandes modelos de linguagem, a Oracle expande sua rede de data centers otimizados para IA, sabendo que cada token processado precisa, antes de tudo, de espaço físico, energia e capacidade computacional.
COMPONENTES, ENERGIA, REDES: A AMEÇA DA ESCASSEZ
Uma verdade que pairou nas entrelinhas do AI Ascent é que a escassez de infraestrutura já limita a inovação. Startups enfrentam filas para acessar GPUs. Modelos cada vez mais complexos demandam investimentos crescentes em hardware. E o consumo energético dos data centers cresce rapidamente, criando novas pressões e desafios.
O valor mais duradouro quase sempre fica com quem controla a infraestrutura subjacente.
Enquanto o mercado se deslumbra com os agentes, fascinado pela camada de aplicação, quem olha para infraestrutura está, na prática, focando no alicerce que sustenta tudo isso. E a história sugere que, quando a poeira baixar, serão esses players que ocuparão as posições mais defensáveis.
O jogo da IA não acontece apenas na camada visível. Ele acontece, sobretudo, em tudo que permite essa camada existir: nos chips, nos data centers, nas redes e na energia. Quem controla esses recursos fundamentais está, silenciosamente, construindo os impérios que definirão a próxima década.
Enquanto o AI Ascent celebrava os avanços na camada de aplicação e o potencial dos agentes autônomos, vale refletir. Os verdadeiros arquitetos do futuro podem ser aqueles que mantêm os pés firmemente no chão, construindo as fundações sem as quais nenhum sonho tecnológico pode se sustentar.