Invasão no LinkedIn: metade dos posts têm pelo menos um toque de IA

Mais de 50% das postagens longas no LinkedIn provavelmente foram feitas com alguma ajuda da IA. A prova disso está no seu feed

Crédito: stepintofuture/ Pixabay

Henry Chandonnet 4 minutos de leitura

O LinkedIn é uma rede tão cheia de blá-blá-blá corporativo que é quase impossível de ler. E a culpada disso talvez seja a inteligência artificial. Um novo estudo da Originality AI, uma startup de detecção de conteúdos criados com IA, revela o quanto o conteúdo criado com a assistência dessa tecnologia invadiu o feed da rede social.

De acordo com o estudo, mais da metade das postagens longas em inglês no LinkedIn mostraram sinais de uso de IA. Obviamente o LinkedIn era um alvo fácil para a IA, especialmente por causa da sua linguagem corporativa – que já virou até motivo de piada.

Mas a própria empresa ajudou a criar esse problema, ao introduzir rapidamente ferramentas de inteligência artificial sem estabelecer barreiras para garantir a autenticidade.

A Originality analisou 8.795 postagens públicas do LinkedIn com mais de 100 palavras, publicadas entre janeiro de 2018 e outubro de 2024. Nos primeiros cinco anos, o uso de IA foi quase inexistente.

A plataforma observou um aumento no início de 2023, depois que o ChatGPT se tornou disponível no final do ano anterior, levando a um aumento de 189% no uso de IA de janeiro a fevereiro. Desde então, o uso de IA estabilizou.

No entanto, a tendência persistente de conteúdo criado com ajuda de IA ainda é perceptível. Isolando outubro de 2024, a Originality descobriu que 54% das postagens mostraram sinais de terem sido feitas com IA. Isso significa que é mais provável que a postagem tenha sido redigida por uma ferramenta de IA.

Adam Walkiewicz, chefe de relevância de feed do LinkedIn, observa que eles não monitoram com que frequência a IA é usada nas postagens. "Temos defesas robustas para identificar conteúdo de baixa qualidade e conteúdo totalmente duplicado ou quase totalmente", escreve Walkiewicz em uma declaração. "Quando detectamos esse tipo de conteúdo, tomamos medidas para garantir que ele não seja muito promovido."

MUDANÇA NA COMPOSIÇÃO DAS POSTAGENS

Com o advento do ChatGPT, o número de palavras nas postagens do LinkedIn também aumentou. Na verdade, o padrão do comprimento das postagens seguiu paralelamente o do uso de IA: teve um pico no início de 2023, antes de se estabilizar em um ponto médio.

Há apenas três anos, a média de palavras de uma postagem no LinkedIn era bem abaixo de 500. Agora, de acordo com o aumento dos textos gerados por IA, a média chegou a pouco menos de 1,5 mil palavras.

Crédito: Bolivia Inteligente/ Unsplash

O que não está claro nesses dados é o quanto a IA está manipulando o conteúdo. Embora o LinkedIn seja um local com uma boa quantidade de "lixo" gerado por IA, com cópias e colagens de chatbots para a plataforma, também existe uma quantidade significativa de edição alimentada por IA.

O número de 54% combina essas duas funções, embora uma seja certamente mais desestabilizadora que a outra. O nível de substituição de textos de por humanos por textos de IA (em comparação com pequenas modificações feitas por IA) é algo que ninguém sabe.

O LINKEDIN ABRIU AS PORTAS DA IA

De todas as plataformas de redes sociais, o LinkedIn foi uma das mais preparadas para a invasão de conteúdo gerado por IA. A linguagem do aplicativo é intencionalmente artificial e editada, transmitindo um tom de profissionalismo.

A atmosfera é bem diferente da de plataformas como o TikTok, que exige um nível de originalidade e de humor que não é facilmente captado por um grande modelo de linguagem (LLM, na sigla em inglês).

De qualquer forma, o LinkedIn tem trabalhado para incorporar IA em sua interface mais rápido do que outras redes sociais. Membros do LinkedIn Premium podem pedir para a IA escrever suas postagens diretamente no app e usá-la para pensar em comentários inteligentes sobre um artigo compartilhado. Podem até usar a IA para aprimorar seus perfis.

Com o ChatGPT, a media de palavras nas postagens do LinkedIn aumentou de 500 para 1,5 mil.

Isso não é necessariamente um conteúdo “lixo”, mas é artificial – e, hoje em dia, é impossível saber se um comentário foi escrito por um ser humano ou por um bot do próprio aplicativo. Enquanto Meta e X/ Twitter optaram por chatbots alternativos, o LinkedIn introduziu a IA na própria postagem, alimentando esse número de 54%.

Todas essas plataformas estão lidando com o excesso de conteúdos gerados por ou com inteligência artificial. O Facebook está mergulhado em imagens bizarras, como o "Jesus camarão”, e a indústria de infográficos do Instagram foi dominada por recriações ruins feitas por IA.

Mas a cifra de 54% das postagens do LinkedIn é particularmente alta – e um sinal de que talvez seja hora de você olhar com mais atenção e cuidado para o seu feed nessa rede profissional.


SOBRE O AUTOR

Henry Chandonnet é escritor e editor baseado em Nova York. Atualmente, trabalha como estagiário editorial na Fast Company, onde cobre ... saiba mais