Máquinas estão aprendendo a pensar como nós (mesmo sem nos entender)

Aprendizado em contexto é a nova fronteira da IA que está transformando a forma de “pensar” das máquinas

computador antigo sobre fundo representando uma teia de cálculos matemáticos
Créditos: Clarisse Croset/ Marissa Lewis/ Unsplash

Shashank Chaurasia 3 minutos de leitura

A inteligência artificial chegou a um ponto em que as máquinas não apenas seguem instruções, elas “absorvem” padrões e comportamentos observando exemplos, de modo semelhante aos humanos. Esse fenômeno é conhecido como aprendizado em contexto (in-context learning) e está mudando a forma como entendemos a inteligência das máquinas.

O aprendizado em contexto tem o potencial de revolucionar a maneira como sistemas de IA adquirem conhecimento, permitindo que se adaptem, raciocinem e generalizem a partir de exemplos sem precisar de reprogramação.

Compreender por que isso é importante ajuda a explicar como essa capacidade pode tornar as máquinas mais flexíveis e mais parecidas com a mente humana.

O QUE É O APRENDIZADO EM CONTEXTO

Imagine ensinar uma criança a resolver um problema de matemática. Em vez de dar uma fórmula, você mostra alguns exemplos:

  • 2 + 3 = 5
  • 4 + 6 = 10

Depois pergunta: “Quanto é 7 + 8?”. A criança descobre a resposta percebendo o padrão.

O aprendizado em contexto funciona de forma parecida. Grandes modelos de linguagem (como o GPT) conseguem resolver novos problemas ao reconhecer padrões nos exemplos fornecidos, sem alterar sua estrutura interna ou precisar ser novamente treinados. Eles aprendem “no ato”, a partir do contexto.

mão robótica segura cérebro envolto em fios de luz
Crédito: Freepik

O aprendizado de máquina tradicional exige um processo de treinamento: alimentar o modelo com dados e ajustar bilhões de pequenos parâmetros até que ele produza os resultados desejados. O aprendizado em contexto rompe com esse paradigma.

Nesse caso, as configurações do modelo não mudam. O “aprendizado” ocorre na forma como ele organiza temporariamente as informações ao processar os exemplos. É como alguém fazendo anotações mentais enquanto resolve um quebra-cabeça – anotações que ajudam nos próximos passos, mas desaparecem assim que o desafio termina.

Isso levanta questões fundamentais:

  • O modelo realmente “aprende” como um ser humano?
  • Ou apenas imita padrões de forma engenhosa, como um mágico executando um truque?

O QUE DIZEM AS PESQUISAS

Pesquisadores de IA vêm realizando experimentos para entender como e por que esses modelos conseguem se adaptar tão rapidamente. Alguns dos principais achados incluem:

  • Modelos implícitos dentro de modelos: grandes modelos de linguagem parecem simular modelos menores dentro de si ao processar instruções.
  • A escala faz diferença: quanto maior o modelo, mais confiável tende a ser seu aprendizado em contexto, o que sugere que o tamanho libera novas habilidades, e não apenas mais capacidade.
  • Limites persistem: essas IAs ainda têm dificuldades com tarefas que exigem raciocínio mais profundo, demonstrando que “compreender” ainda é algo distinto do pensamento humano.

Os resultados indicam que o aprendizado em contexto dá aos modelos de IA uma maneira flexível de ajustar o comportamento conforme as informações recebidas. Para o usuário, isso significa sistemas capazes de lidar com uma variedade maior de tarefas e perguntas usando a mesma base tecnológica.

Estamos na fronteira da compreensão sobre como os modelos de IA “pensam”.

À medida que a inteligência artificial evolui, o aprendizado em contexto pode se tornar o alicerce de ferramentas mais intuitivas e adaptáveis. Ele abre novas possibilidades para a colaboração entre humanos e máquinas, deslocando o foco da programação e do treinamento para a comunicação e a orientação.

Mas compreender seus limites será essencial para garantir que esses sistemas continuem confiáveis, transparentes e alinhados aos objetivos humanos.

O aprendizado em contexto pode redefinir como desenvolvemos e usamos a IA porque:

  • Não exige reprogramação: em vez de treinar novamente para cada tarefa, basta mostrar exemplos em linguagem natural.
  • Permite personalização em larga escala: assistentes virtuais podem se adaptar em tempo real ao estilo, ao setor ou às preferências de diferentes usuários.
  • Traz desafios éticos: se a IA pode aprender rapidamente com qualquer entrada, também pode assimilar e amplificar padrões prejudiciais com a mesma facilidade.

Estamos na fronteira da compreensão sobre como os modelos de IA “pensam”. Assim como cientistas já debateram se os pássaros realmente “voam” como aviões – e concluíram que os mecanismos são diferentes, embora o resultado seja semelhante –, agora nos perguntamos: as máquinas realmente “aprendem” como os humanos?

A resposta talvez não seja simples. Mas uma coisa é certa: o aprendizado em contexto dá à IA uma nova e poderosa forma de adaptação. Estudá-lo será essencial para moldar a próxima onda de avanços tecnológicos.


SOBRE O AUTOR

Shashank Chaurasia é cofundador e diretor de inteligência artificial da MooresLabAI. saiba mais