O que é AGI? Entenda por que a corrida pela Inteligência Artificial geral preocupa jornalistas

Especialistas alertam para o uso Inteligência Artificial Geral e como é um sistema complexo

Jornalistas palestrando no Congresso da Abraji
O evento reuniu especialistas para refletir sobre os impactos, os limites e as disputas em torno da evolução da IA. Créditos: Guynever Maropo/Fast Company

Guynever Maropo 3 minutos de leitura

A Inteligência Artificial está cada vez mais presente nas mais diferentes atividades do dia a dia. Com sua capacidade de produzir conteúdos e executar os mais variados comandos, a tecnologia passou a ocupar um papel central em tarefas que, até pouco tempo, eram exclusivas de humanos.

Neste cenário, especialistas voltam suas atenções para o futuro, mais especificamente, para o conceito de Inteligência Artificial Geral (AGI), um estágio em que máquinas superariam a capacidade humana em diversas atividades.

Esse foi um dos temas centrais discutidos durante o 20º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji, em São Paulo. O evento reuniu especialistas para refletir sobre os impactos, os limites e as disputas em torno da evolução da IA.

Participaram da mesa a mentora da Newsroom AI e jornalista investigativa Claudia Báez, o titular da Cátedra Knight em Jornalismo de Dados da Universidade Columbia, Jonathan Soma, e o jornalista e programador Pedro Burgos. A mediação foi conduzida por Ana Carolina Moreno, diretora da Abraji.

Claudia Báez destacou que a Inteligência Artificial não é uma entidade mágica ou autônoma, mas uma ferramenta treinada com dados humanos, que deve ser compreendida como extensão das capacidades humanas. Segundo ela, o uso da tecnologia deve ser pensado estrategicamente, mapeando gargalos nas equipes e otimizando tarefas operacionais, sempre com supervisão humana.

O painel também abordou usos problemáticos da IA. Claudia mencionou a criação de imagens e vídeos falsos com ferramentas generativas, com o objetivo de espalhar desinformação. Para ela, é urgente capacitar jornalistas para reconhecer e combater esse tipo de conteúdo.

Outro ponto de alerta foi o uso de IA em contextos de saúde mental. Claudia lembrou que essas tecnologias "não são terapeutas".

Vale citar que uma pesquisa recente da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, revelou que entre os 100 usos mais frequentes da IA neste ano grande parte se concentra em busca por apoio emocional e terapêutico.

Apesar das preocupações, os palestrantes reforçaram a importância da experimentação e da familiarização com a tecnologia, especialmente entre profissionais que ainda não exploram essas ferramentas. "Você não precisa usar IA, mas precisa saber o que é e como funciona", afirmou Claudia.

Pedro Burgos observou que os modelos atuais de IA ainda não são autônomos nem conscientes. Para ele, embora a AGI tenha potencial de transformar a economia, é importante evitar idealizações.

 "As pessoas estão mais interessadas em usar IA para resolver coisas simples, como criar um jogo ou um roteiro de presente", disse. 

Ele defendeu uma visão realista e crítica, destacando que produtividade não deve ser o único parâmetro de avaliação.

Jonathan Soma criticou o uso da narrativa da "corrida pela AGI" como estratégia de marketing das big techs. Segundo ele, a indústria alimenta o medo e a desinformação para atrair investimentos. Como contraponto, citou o modelo DeepSeek, que obteve resultados expressivos com menos recursos financeiros e foco em decisões eficientes de arquitetura e dados.

Soma também chamou atenção para a ausência de regulação sobre os erros gerados por sistemas automatizados, como os chatbots em atendimentos públicos. Para ele, a responsabilidade por essas falhas ainda se encontra em uma zona cinzenta que precisa ser esclarecida.

Brasil e a IA: adaptação é mais promissora que inovação do zero

Durante o painel, os especialistas analisaram também o papel do Brasil no cenário global do desenvolvimento da Inteligência Artificial. Pedro Burgos mencionou iniciativas como a Maritaca e a Jus IA, assistente jurídico do Jusbrasil, que buscam construir modelos treinados com dados nacionais.

Segundo Burgos, o país possui potencial para adaptar modelos estrangeiros à realidade local, principalmente em áreas como saúde e agricultura. No entanto, ele alertou que apostar apenas na requalificação para o uso de Inteligência Artificial. Como solução para o desemprego é uma ilusão. Com infraestrutura ainda limitada, ele defende que o Brasil invista na customização de ferramentas já existentes, em vez de tentar desenvolver modelos do zero.


SOBRE A AUTORA

Jornalista, pós-graduando em Marketing Digital, com experiência em jornalismo digital e impresso, além de produção e captação de conte... saiba mais