O valor de ser humano em tempos de inteligência artificial
Em um futuro onde a IA continuará a automatizar tarefas, a inteligência artística destaca uma área onde a contribuição humana continua insubstituível

As discussões sobre inteligência artificial têm se intensificado. Casos como o do Duolingo – plataforma online de ensino de idiomas que recentemente recuou da decisão de adotar recursos de IA em substituição a funcionários humanos – despertam a atenção e provocam debates acalorados.
As dúvidas se justificam. Mas, de qualquer forma, incertezas sobre a aplicação de IA em maior ou menor escala nas empresas acabam sendo menos relevantes se comparadas ao que ouvimos de Eric Schmidt – ex-CEO do Google e figura respeitadíssima no mundo da tecnologia –, em recente entrevista a Bilawal Sidhu, curador do canal TED.
Schimdt fez apontamentos bastante equilibrados, mas projetou cenários preocupantes para os próximos cinco anos – como, por exemplo, um risco aumentado de eventual guerra nuclear, impulsionado pela corrida por uma superinteligência em IA entre os EUA e a China.
A declaração foi dada no contexto da discussão sobre a instabilidade que o rápido avanço para a superinteligência pode criar, especialmente se um país alcançar uma vantagem significativa sobre o outro, levando a cenários de preempção.
Se estamos falando de cinco anos, então ainda temos algum tempo para encontrar caminhos, controlar a situação e evitar que as piores previsões se concretizem.
Este texto pretende chamar a atenção para a oportunidade de nós, seres humanos – criadores e desenvolvedores, afinal, das plataformas de IA – adotarmos uma abordagem alternativa em relação à tecnologia que tem invadido nosso dia a dia.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL X INTELIGÊNCIA ARTÍSTICA
No artigo "AI Vs AI: Artificial Intelligence Vs Artistic Intelligence" (IA versus IA: inteligência artificial versus inteligência artística), Sylvain Bureau, professor da ESCP Business School de Paris e diretor da cadeira Improbable na mesma escola de negócios europeia, sugere um caminho para lidar com futuros prováveis, mas muitas vezes indesejáveis para a humanidade.
Por meio do Improbable Art Thinking (método criado por ele e pelo artista visual Pierre Tectin, que compõe o programa de educação empresarial da ESCP), Bureau mostra uma nova perspectiva sobre a natureza intrinsecamente humana da criatividade artística e a necessidade de repensar a relação entre a IA e as pessoas.
Ao incentivar habilidades genuinamente humanas para promover transformações criativas, pode-se gerar uma energia imaginativa e estratégica para encontrar soluções improváveis, quando cenários prováveis se tornam inaceitáveis.

Bureau argumenta que, embora a IA demonstre crescente capacidade em otimizar e desviar a criatividade, gerando obras e soluções a partir de dados e estilos existentes (como exemplificado pela obra "O Próximo Rembrandt"), ela esbarra na "criatividade subversiva".
Esta última, essencial para a verdadeira inovação e para gerar mudanças significativas na sociedade, reside na capacidade humana de desaprender, questionar e romper com normas estabelecidas – uma habilidade que a IA baseada em aprendizado de padrões ainda não possui e que demandará tempo de desenvolvimento até que alcance algo semelhante ao autoaperfeiçoamento recursivo.
INTELIGÊNCIA SUBVERSIVA
Nesse sentido, o debate sobre o valor humano em tempos de IA é claríssimo: a capacidade de questionar o estabelecido e de inovar através do desaprendizado permanece uma característica distintiva e essencialmente humana.
Em um futuro onde a IA continuará a automatizar tarefas, a inteligência artística, com sua ênfase na originalidade radical e na capacidade de desafiar paradigmas, destaca uma área onde a contribuição humana continua insubstituível para o progresso e a inovação genuínos.
embora a IA demonstre crescente capacidade em otimizar a criatividade, ela esbarra na "criatividade subversiva".
Essa abordagem, que integra humanidades e ciências sociais, pode nos ajudar a aprender a criar sem ser meramente reprodutores e a refletir sobre as implicações filosóficas, políticas e sociais das inovações tecnológicas.
Em suma, enquanto Eric Schmidt nos alerta para os riscos existenciais da corrida pela superinteligência, Sylvain Bureau nos lembra que a essência da criatividade humana, particularmente em sua forma subversiva, representa uma capacidade que a IA ainda não alcançou, reforçando a importância de uma abordagem que valorize e integre elementos humanos no desenvolvimento e na aplicação da IA.
O avanço da inteligência artificial é tão certo quanto o futuro de incertezas que isso trará. Cabe a nós, humanos, moldar o futuro que desejamos.