Oportunidade x riscos: as vantagens e desvantagens dos agentes de IA
Diretor de dados explica por que devemos prestar atenção à ascensão dos agentes autônomos de IA

Com todo o hype em torno da inteligência artificial, fica difícil separar o que realmente importa do que é só exagero. Então, se você não deu muita atenção às recentes discussões sobre agentes autônomos de IA – ou, apenas, agentes de IA –, é compreensível. Mas aqui vai um aviso: não os ignore. Essa tecnologia pode ser ainda mais revolucionária do que todo o hype sugere.
Os agentes de IA são capazes de interagir com o ambiente, tomar decisões, agir sozinhos e aprender com as próprias experiências. Isso representa uma mudança radical na forma como utilizamos a inteligência artificial, trazendo tanto oportunidades quanto riscos.
Até agora, a IA generativa operava, em grande parte, sob supervisão humana. Esses sistemas eram pré-treinados (daí o “P” em GPT) com grandes volumes de dados, como modelos de linguagem e bases de conhecimento, para então responder a perguntas e comandos dos usuários.
Esse método se mostrou impressionante para gerar respostas que soam humanas – mas, na prática, é como um bebê repetindo palavras sem realmente entendê-las.
Interessante? Sim. Mas dificilmente algo capaz de produzir uma obra-prima como os “Princípios Matemáticos da Filosofia Natural”, de Newton, ou uma sinfonia de Beethoven. Ou seja, essas ferramentas são realmente independentes e criativas? Provavelmente não. Mas isso pode estar prestes a mudar.
Uma nova abordagem permite que a inteligência artificial interaja diretamente com os dados e reaja de maneira mais dinâmica – muito mais parecido com o que nós, humanos, fazemos. Essa tecnologia, baseada em agentes de IA, promete revolucionar a indústria de software.
Bill Gates chegou a dizer que essa mudança será a maior revolução na computação desde que deixamos de digitar comandos para clicar em ícones. E talvez ele ainda esteja subestimando o impacto dessa transformação.
O QUE SÃO OS AGENTES DE IA?
Agentes de IA são sistemas capazes de tomar decisões sem intervenção humana para executar tarefas predefinidas (por enquanto). Eles podem buscar informações externas, analisar novos dados e agir com base nisso – funcionando mais como um ser humano explorando o mundo do que como um chatbot limitado a um banco de dados fixo.
Parece promissor, certo? O que poderia dar errado?
Essa tecnologia representa um salto gigantesco, substituindo modelos que apenas imitam a linguagem humana por algo que realmente pode interpretar novos estímulos e agir sem ser reprogramado. Em outras palavras, estamos deixando de ser os intermediários na tomada de decisões da IA.

E aí está o problema. Se essa tecnologia fosse uma criança aprendendo a andar, ela não estaria apenas dando os primeiros passos – já estaria dirigindo um carro, com a música no último volume e uma garrafa de tequila na mão.
Os benefícios são evidentes: menor necessidade de treinamento e supervisão, maior escalabilidade (limitada apenas pelos recursos computacionais) e a possibilidade de delegar um grande volume de tarefas sem depender de intervenção humana. Afinal, são agentes. Eles têm autonomia para tomar decisões – e, inevitavelmente, cometer erros.
O QUE PODE DAR ERRADO?
Diferente de um erro humano, que pode ser contido, uma falha em um agente de IA pode se espalhar rapidamente, gerando um efeito cascata imprevisível. Além disso, esses sistemas são alvos óbvios para ataques cibernéticos.
Os piores cenários incluem um agente descontrolado desencadeando uma onda de negociações na bolsa de valores ou, pior ainda, ativando uma resposta militar sem querer. Quando se trata de decisões que podem ter consequências catastróficas, a supervisão humana pode não ser perfeita mas, pelo menos, oferece um mínimo de segurança.
Há também riscos menos dramáticos, mas igualmente preocupantes, principalmente no mundo corporativo e jurídico. Muitas empresas já utilizam IA para gerenciar todo o ciclo de vida dos funcionários – desde a triagem de currículos até avaliações de desempenho, promoções e demissões. E cada vez mais, essas decisões estão sendo tomadas por agentes autônomos.
Agentes de IA são sistemas capazes de tomar decisões sem intervenção humana para executar tarefas predefinidas.
Embora essas ferramentas sejam vendidas como soluções que aumentam a precisão e a imparcialidade, pequenos erros no design ou na implementação podem gerar decisões injustas – um problema conhecido como viés algorítmico.
E os reguladores estão atentos a isso. Em alguns países já há leis que penalizam empresas que utilizam inteligência artificial de forma discriminatória contra funcionários, o que pode resultar em um aumento no número de processos judiciais.
Não há dúvida de que os agentes de IA podem trazer um enorme aumento na produtividade, automatizando tarefas repetitivas e permitindo que as pessoas se dediquem a atividades mais criativas e estratégicas. Mas os riscos são igualmente evidentes.
No caso de crianças, chega um momento em que precisamos soltar as rédeas e dar a elas autonomia, mas essa metáfora não se aplica tão bem à IA. Enquanto retiramos as “rodinhas” desses agentes autônomos, precisamos equilibrar o entusiasmo com uma boa dose de cautela, para garantir que essa revolução não acabe em desastre.