Oracle surfa onda da IA, mas analistas temem uma nova bolha

Empresa fecha acordo bilionário com a OpenAI e leva patrimônio de Larry Ellison a novo recorde, em meio a alertas de euforia excessiva no setor

Crédito: Oracle

Chris Morris 2 minutos de leitura

Mesmo quem acompanha apenas de longe o mundo dos negócios dificilmente deixou de notar a semana fenomenal da Oracle. As ações da companhia dispararam quase 40% na quarta-feira (dia 10) e o CEO Larry Ellison chegou a ultrapassar Elon Musk como o homem mais rico do planeta — hoje os dois estão praticamente empatados. A Oracle também fechou um acordo bilionário com a OpenAI: US$ 300 bilhões em poder computacional pelos próximos cinco anos.

Mesmo no universo acelerado da inteligência artificial, esse é um salto impressionante em pouco tempo. Investidores celebraram, mas parte de Wall Street começa a se perguntar se a empolgação não está inflando ainda mais uma bolha de IA e tornando um eventual colapso ainda mais preocupante.

A DISPARADA DA ORACLE

As ações dispararam após a divulgação do balanço do primeiro trimestre fiscal, na terça-feira. Embora a empresa tenha ficado aquém das expectativas de analistas em receita e lucro por ação, o mercado ignorou o tropeço diante da forte demanda por serviços em nuvem.

A Oracle anunciou ter US$ 455 bilhões em contratos a serem reconhecidos – mais de três vezes e meia do que um ano antes e muito além dos US$ 180 bilhões previstos por Wall Street

Na última quarta-feira, o "Wall Street Journal" revelou o acordo com a OpenAI, considerado um dos maiores contratos de nuvem já assinados, com demanda equivalente ao consumo de energia de quatro milhões de residências. O efeito combinado fez Ellison registrar o maior salto diário de patrimônio já medido pela "Bloomberg".

O movimento lembra a disparada da Nvidia a partir de 2023, uma escalada que ainda não arrefeceu. Mas a valorização também desperta cautela.

“Estamos em uma fase de excesso de euforia com IA? Na minha opinião, sim”, disse Sam Altman, fundador da OpenAI, no mês passado. “Mas a IA também é a coisa mais importante que aconteceu em muito tempo.”

Apesar do alerta, a Oracle tem bases sólidas: as projeções de receita em nuvem e o contrato com a OpenAI dão sustentação à disparada.

O RISCO DA BOLHA DE IA

O debate sobre uma bolha de IA não começou esta semana. Em julho, Torsten Slok, economista-chefe da Apollo Global Management, já havia alertado que as ações de empresas de inteligência artificial estão ainda mais supervalorizadas do que as da era pontocom em 1999.

“A diferença entre a bolha de tecnologia dos anos 1990 e a da IA hoje é que as 10 maiores empresas do [índice] S&P 500 estão mais sobrevalorizadas agora do que estavam naquela época”, escreveu em nota a investidores.

Joe Tsai, presidente do Alibaba, e Tom Siebel, veterano da indústria de tecnologia e ex-CEO da C3.ai, também emitiram alertas. O que preocupa é a concentração: as cinco maiores empresas do S&P 500 representam hoje 30% da riqueza do índice – um patamar superior ao da era pontocom e bem acima do registrado com as “Nifty Fifty” (as 50 empresas de grande capitalização na Bolsa de Valores de Nova York) nos anos 1970.

Isso, por si só, não prova a existência de uma bolha de IA, mas evidencia a dependência do mercado em relação a um punhado de companhias centradas no mesmo setor. Se algo der errado, o impacto pode ser devastador.


SOBRE O AUTOR

Chris Morris é jornalista, escritor, editor e apresentador especializado em tecnologia, games e eletrônicos. saiba mais