Os bebês da era da IA chegaram. Será o ChatGPT capaz de ajudar os pais a criá-los?

Pais estão recorrendo à inteligência artificial para tirar dúvidas sobre a criação dos filhos – mas será que isso faz bem?

Crédito: Helena Lopes/ Pexels

Henry Chandonnet 3 minutos de leitura

Sam Altman está “completamente obcecado por bebês”. O CEO da OpenAI anunciou o nascimento do primeiro filho em fevereiro e, desde então, tem usado o ChatGPT – seu próprio produto – para tirar dúvidas sobre paternidade.

“Nas primeiras semanas, eu fazia uma pergunta atrás da outra. Agora, uso mais para entender as fases do desenvolvimento”, contou no podcast da empresa.

Altman não está sozinho. Na verdade, isso faz parte de uma nova tendência: cada vez mais, as pessoas estão recorrendo à inteligência artificial para tirar dúvidas sobre como cuidar dos filhos. Um estudo feito em 2024 mostra que 52,7% dos pais usam o ChatGPT especificamente para buscar orientações de cuidado.

O próprio Altman admite que depende bastante da ferramenta. “É claro que as pessoas criam filhos há séculos sem o ChatGPT”, disse. “Mas, sinceramente, não sei como eu conseguiria sem ele.” E aí surge a pergunta: será que existe algo como “conselhos demais” para lidar com os bebês da era da IA?

IA PRESENTE EM TODAS AS FASES DA CRIAÇÃO

Para dúvidas mais específicas, muitos pais têm recorrido a chatbots especializados. A psicóloga e influenciadora Becky Kennedy – conhecida como “dra. Becky” – criou o aplicativo Good Inside, que permite interagir com um chatbot treinado a partir de seus conteúdos. Já a Oath Care lançou o ParentGPT no início do boom da IA, mas a empresa encerrou as atividades no ano passado.

Apps voltados à gestação também estão ganhando espaço. O Soula, por exemplo, atua como uma espécie de doula virtual 24 horas por dia, oferecendo orientações baseadas em dados sobre gravidez e pós-parto.

A plataforma já recebeu US$ 750 mil em investimentos e conta com o apoio da ex-vice-presidente da Flo Health – famoso aplicativo de fertilidade e menstruação.

A Glow, responsável por um dos rastreadores de ovulação mais usados do mundo, também passou a incorporar IA em suas ferramentas voltadas a gestantes e mães recentes.

Além dos aplicativos, há uma variedade de dispositivos inteligentes de última geração. Por cerca de US$ 400, os pais podem adquirir a babá eletrônica Nanit, que usa IA para monitorar e registrar os movimentos do bebê.

Por US$ 1,5 mil, é possível adquirir um berço automatizado. E há até um carrinho que anda e embala o bebê sozinho, por cerca de US$ 2,5 mil.

QUANDO A BUSCA POR CONSELHOS VIRA EXAGERO

A inteligência artificial oferece uma quantidade enorme de informações que podem ser acessadas em segundos. Mas, em alguns casos, isso pode sobrecarregar os pais. Ainda que os estudos sobre IA e parentalidade estejam apenas começando, os impactos da internet nesse campo já vêm sendo analisados há anos.

Uma pesquisa de 2023 aponta que pais que se sentem inseguros ou estressados tendem a buscar ainda mais conselhos online – o que, ironicamente, só aumenta a ansiedade. Quanto mais pesquisam, mais dúvidas surgem. E o ciclo continua, como no caso dos pais de bebês da era da IA.

A psicóloga infantil Robyn Koslowitz percebeu uma mudança de comportamento. Antes, seus pacientes chegavam com diagnósticos tirados do Google. Agora, citam o ChatGPT. Os dados confirmam isso: um estudo de 2024 do Kansas Life Span Institute mostra que muitos pais confiam mais no ChatGPT do que em profissionais de saúde.

Crédito: Pngtree

“Os pais estão cheios de dúvidas hoje em dia”, diz Koslowitz. “Às vezes, o ChatGPT – ou qualquer outro chatbot – acaba decidindo por eles. Mas a única maneira de desenvolver discernimento e aprender a lidar com os desafios da parentalidade é confiar no próprio julgamento.”

A jornalista Amanda Hess, do “The New York Times”, viu de perto os efeitos de uma parentalidade cada vez mais digital. Em seu livro “Second Life: Having a Child in the Digital Age” (Second life: ter um filho na era digital), ela compartilha sua experiência com apps de fertilidade e grupos online durante a gravidez – e se diz preocupada com o impacto da IA.

“Algo se perde quando recorremos tão rapidamente à tecnologia para resolver questões relacionadas aos nossos filhos”, diz Hess. “Pedir ajuda a amigos, vizinhos e familiares constrói laços – conexões humanas que permanecem com a criança ao longo da vida.”

Como diz o velho ditado: “é preciso uma aldeia inteira para criar uma criança” – e não apenas um chatbot.


SOBRE O AUTOR

Henry Chandonnet é escritor e editor baseado em Nova York. Atualmente, trabalha como estagiário editorial na Fast Company, onde cobre ... saiba mais