Por que a OpenAI vai ter que se adaptar à perda de liderança em seu setor

A indústria de inteligência artificial sempre foi altamente competitiva — e está ficando ainda mais. Um grupo relativamente pequeno de laboratórios disputa, a golpes rápidos, para lançar os modelos mais avançados e, por extensão, os chatbots mais inteligentes.
Desde que a OpenAI lançou o ChatGPT há três anos, a startup passou a ser vista como líder do setor. Mas esse status vem sendo seriamente questionado pelo novo modelo Gemini 3 Pro, do Google, e pelo app Gemini.
O crescimento do ChatGPT tem sido rápido: segundo a empresa, são 800 milhões de usuários ativos por semana. Já o Google afirma ter 650 milhões de usuários ativos por mês no chatbot Gemini — números difíceis de comparar diretamente.
A SimilarWeb oferece uma comparação mais clara: a fatia de tráfego na web do Gemini saltou de 5,7% há um ano para mais de 15% hoje. No mesmo período, a participação do ChatGPT caiu de 87% para 71,3%.
A OpenAI sente a pressão do Gemini — e provavelmente também do novo Claude Opus 4.5, da Anthropic. Segundo The Information e outros veículos, o CEO Sam Altman enviou um memorando interno na segunda-feira decretando um esforço de “código vermelho” para melhorar o ChatGPT.
A iniciativa inclui a redução de investimentos em recursos de saúde dentro do ChatGPT, além de cortes no trabalho voltado à experiência de compras e na publicidade que poderia vir junto com ela.
“Our focus now is to keep making ChatGPT more capable, continue growing, and expand access around the world—while making it feel even more intuitive and personal,” afirmou Nick Turley, líder de produto do ChatGPT, no X, na segunda-feira.
Em um panorama mais amplo, a OpenAI está perdendo bilhões — e gastando bilhões — algo que deve deixar seus investidores ao mesmo tempo inquietos e intrigados. Documentos vazados e estimativas de analistas indicam que a empresa deverá perder entre US$ 9 bilhões e US$ 11 bilhões em 2025, com despesas na casa de US$ 22 bilhões e receita estimada em US$ 13 bilhões.
A companhia também informou recentemente a investidores que seus gastos até 2029 podem chegar a US$ 115 bilhões. Altman já declarou que a empresa, seus parceiros e investidores devem investir até US$ 1,4 trilhão em infraestrutura — chips, data centers e afins — nos próximos oito anos.
A OpenAI funciona como uma agregadora, aponta o analista Ben Thompson. O fato de estar disposta a reduzir esforços em experiências de compras e publicidade — potenciais fontes de receita — mostra que a empresa ainda prioriza o crescimento da base de usuários, e não a expansão da receita.
A lógica de agregadores, como o Facebook, é se tornar “mais coisas para mais pessoas”, maximizando atenção e engajamento, independentemente de quantos usuários pagam pelo serviço. A monetização vem depois, quando esse público atinge massa crítica.
A confiança nesse modelo, que exige crescimento constante, deu à OpenAI certo ar de autoconfiança — até mesmo uma atitude despreocupada em relação aos retornos para investidores.
Em um podcast em outubro, Brad Gerstner, da Altimeter Capital, questionou Sam Altman sobre como explicar ao mercado gastos superiores a um trilhão de dólares em infraestrutura enquanto a empresa opera no vermelho. Visivelmente frustrado, Altman respondeu: “Brad, if you want to sell your shares, I’ll find you a buyer. I just . . . enough.”
Mas já não está claro que a OpenAI tem os melhores modelos e o chatbot mais procurado. Ao deixar de lado projetos ligados a compras e publicidade, a empresa parece acertar ao realocar talentos para desenvolver novos modelos e aprimorar habilidades do ChatGPT.
Isso pode significar também tirar profissionais de projetos “divertidos”, como o aplicativo Sora, que parece distante da missão de manter o ChatGPT como o chatbot de melhor desempenho. Por outro lado, o cenário da IA muda muito rápido. Há relatos de que a OpenAI estaria prestes a lançar um novo modelo de raciocínio, codinome “Garlic”, que superaria o Gemini 3 em vários testes importantes. Resta saber se o Garlic terá uma recepção melhor que a do GPT-5.