O lado humano da IA: um robô para ajudar pacientes a vencer o medo e a solidão

Robin tem autonomia limitada para interagir com pessoas hospitalizadas e operadores humanos supervisionados por profissionais de saúde

Créditos: Expper Technologies/ Steve Johnson/ Pexels

Hallie Golden 3 minutos de leitura

Dias depois de o filho de seis anos de Meagan Brazil-Sheehan ser diagnosticado com leucemia, os dois caminhavam pelos corredores do centro médico para crianças da Faculdade de Medicina da Universidade de Massachusetts, nos EUA, quando encontraram Robin, o Robô.

“Luca, como você está?” perguntou a máquina, com uma voz aguda programada para soar como a de uma menina de sete anos. “Faz tempo que não nos vemos.”

Sheehan contou que eles haviam se encontrado apenas uma vez com o robô de 1,2 metro de altura, equipado com uma tela que exibe traços estilizados, alguns dias antes, logo após a internação. “O rosto dele se iluminou”, disse sobre a reação do filho. “Foi especial porque o robô se lembrou dele.”

Robin é um robô terapêutico movido por inteligência artificial, programado para agir como uma criança enquanto oferece apoio emocional em lares de idosos e alas pediátricas de hospitais, além de ajudar a compensar a falta de profissionais de saúde. Cinco anos após sua estreia nos Estados Unidos, já se tornou uma presença familiar em 30 instituições de saúde, espalhadas por quatro estados.

“Enfermeiros e médicos estão sobrecarregados, sob enorme pressão e, muitas vezes, não conseguem dedicar tempo para engajamento e conexão com os pacientes”, diz Karen Khachikyan, CEO da Expper Technologies, criadora do robô. “Robin ajuda a aliviar parte dessa carga.”

Robin, robô terapêutico que interage com pacientes em hospitais
Crédito: Expper Technologies

Atualmente, Robin opera de forma autônoma em cerca de 30% das interações. O restante é controlado por uma equipe remota, sempre supervisionada por profissionais de saúde. Segundo Khachikyan, cada conversa gera dados que aproximam a empresa de uma versão capaz de funcionar de forma independente.

“Imagine uma inteligência emocional pura, como o WALL-E. É isso que estamos tentando criar”, explica, em referência à animação lançada em 2008.

INTERAÇÕES PERSONALIZADAS

Numa sexta-feira recente, no Hospital Pediátrico HealthBridge, na Califórnia, uma funcionária listou os pacientes que Robin deveria visitar, incluindo o tempo de permanência em cada quarto

Com um design triangular branco e liso, projetado para facilitar abraços, o robô entrou no quarto de um adolescente vítima de acidente de carro. Tocou o que dizia ser a música favorita do paciente, que começou a dançar.

Robin, robô terapêutico que  interage com  pacientes em hospitais
Crédito: Expper Technologies

No corredor, fez uma criança rir ao usar óculos engraçados e um nariz vermelho. Em outro quarto, jogou uma versão simplificada da velha brincadeira "jogo da velha”.

Para a fonoaudióloga Samantha da Silva, os encontros são transformadores: “Os pacientes se iluminam quando Robin entra no quarto, lembrando não só seus nomes, mas também suas músicas preferidas. Ele traz alegria para todos.”

Segundo Khachikyan, Robin espelha as emoções do paciente. Se ele ri, o robô ri junto. Se compartilha algo difícil, seu rosto exibe tristeza e empatia.

Em lares de idosos, Robin conduz jogos de memória com pessoas que sofrem de demência, orienta exercícios de respiração em dias difíceis e oferece uma companhia que remete à relação entre avós e netos.

Robin, robô terapêutico que interage com pacientes em hospitais
Crédito: Expper Technologies

Mas, diante da projeção da Associação de Faculdades de Medicina de que os EUA terão déficit de até 86 mil médicos nos próximos 11 anos, a visão de Khachikyan para Robin vai muito além.

Sua equipe trabalha para que o robô consiga medir sinais vitais, monitorar o estado dos pacientes e enviar informações diretamente às equipes médicas. A longo prazo, a ideia é que Robin também ajude idosos a trocar de roupa e ir ao banheiro.

“O objetivo é desenvolver a próxima evolução de Robin, que assumirá cada vez mais responsabilidades e se tornará parte essencial do cuidado”, afirma Khachikyan, ao ressalar que a proposta não é substituir profissionais de saúde, mas preencher a falta de mão de obra no setor.

ROBÔ TERAPÊUTICO, O NICHO CERTO

Antes de chegar aos hospitais, os desenvolvedores testaram o robô em diversos setores, até que um investidor sugeriu que unidades pediátricas seriam o ambiente ideal, já que crianças internadas sofrem com estresse e solidão.

Desde sua criação, a personalidade de Robin mudou bastante, moldada pelas reações do público. Um exemplo citado por Khachikyan foi a resposta à pergunta “qual é o seu animal favorito?”

Primeiro, o robô dizia cachorro. Depois, gato. Mas quando respondeu “galinha”, as crianças caíram na risada – e a escolha ficou. “Criamos a personalidade de Robin levando os usuários para dentro da equação. Costumamos dizer que foi o público quem realmente desenhou Robin.”

Com a colaboração de Damian Dovarganes, da Associated Press


SOBRE A AUTORA

Hallie Golden é repórter da Associated Press. saiba mais