Como a IA ajudou esta empreendedora a melhorar a autoestima e ganhar fãs

A missão dela agora é ajudar outras pessoas a usar a inteligência artificial para contar suas próprias histórias com sinceridade

Créditos: PNW Production/ Pexels/ Freepik

Patrice Poltzer 6 minutos de leitura

Imagine se todas as pessoas ao seu redor soassem como se estivessem gritando debaixo d’água. Pois esse é o mundo em que eu vivo quando não estou usando aparelho auditivo – uma realidade que escondo desde criança.

As palavras chegam até mim como uma mistura confusa de vogais e eu preciso juntar as peças observando os movimentos dos lábios, as expressões e os gestos das pessoas. E, se um ano atrás alguém me dissesse que a inteligência artificial me ajudaria a finalmente aceitar essa parte de mim, eu teria rido na cara dessa pessoa.

Deixa eu explicar.

Antes de as redes sociais facilitarem o encontro com “outras pessoas como você” por meio de um simples clique, eu era a única criança que conhecia que usava aparelho auditivo. Por isso, ainda muito nova, tomei uma decisão: esconder essa questão a qualquer custo. E me tornei especialista nisso.

Ironicamente, construí toda a minha carreira ajudando outras pessoas a compartilhar suas verdades. Como produtora do "Today Show" e depois como coach de storytelling para negócios, passei anos em salas de controle e reuniões, criando espaços seguros para que as pessoas pudessem se abrir.

Mas, ao mesmo tempo, eu mesma só aperfeiçoava minha própria estratégia para esconder minha realidade – posicionamento estratégico do cabelo (nunca preso), fones de ouvido levemente inclinados para evitar interferências no áudio da sala de controle e desculpas intermináveis para justificar por que eu precisava sentar em determinados lugares nas reuniões.

Eu era mestre em fazer os outros se sentirem vistos para contarem suas histórias, enquanto fazia de tudo para esconder um pedaço enorme da minha própria.

DA RESISTÊNCIA À DESCOBERTA

Vamos pular para 2023. Gerenciando minha empresa de storytelling em vídeo, ficava chateada quando via alunos entregando roteiros gerados por IA, sem alma nenhuma.

Eram meses ajudando-os a conectar os pontos das histórias de suas marcas, para eles depois colocarem tudo no ChatGPT e saírem com roteiros perfeitinhos, mas completamente sem vida. Eu odiava essa nova tecnologia.

Mas a jornalista dentro de mim não conseguiu ignorar uma pergunta insistente: será que poderíamos usar a IA para contar histórias mais humanas e autênticas?

Crédito: Freepik

Uma noite, resolvi testar essa ideia comigo mesma. Abri o ChatGPT e digitei: "quero abordar uma questão que escondo a vida toda. Uso aparelho auditivo e estou exausta de disfarçar. Você pode me ajudar a entender por que tenho tanta dificuldade em ser aberta sobre isso?"

A resposta da IA me pegou de jeito. Em vez de me dar conselhos genéricos, ela refletiu padrões na minha própria escrita – como quantas vezes eu usava palavras como “esconder”, “disfarçar”, “camuflar”.

A IA me mostrou que minha maior força como coach de storytelling era ajudar os outros a abraçarem o que os tornava diferentes – e que eu precisava fazer o mesmo comigo mesma.

Comecei a chorar ao enxergar minha própria história sob uma nova perspectiva. Esse momento inesperado me colocou em um caminho para ajudar outras pessoas a usar a IA para contar suas histórias de forma autêntica.

USANDO A IA COMO UM ESPELHO

Mas antes, eu precisava testar isso também comigo mesma. Comecei a usar a IA como um diário, registrando minhas observações sobre os maiores medos dos meus clientes e alunos, suas preocupações antes de dormir, seus sonhos secretos para seus negócios, o que os irritava nas redes sociais ou no trabalho (sempre de forma anônima, para proteger a privacidade deles).

Depois, resolvi explorar pensamentos mais sombrios: "será que sou realmente qualificada para fazer isso? E se todo mundo perceber que estou só improvisando?". Aí, pedia para a IA me ajudar a encontrar momentos da minha vida que poderiam provocar conexões com as dificuldades da minha audiência.

O processo foi iterativo, colaborativo, difícil e terapêutico. Onde antes eu via apenas experiências aleatórias sem relação com minha vida ou meu trabalho, a IA me ajudou a enxergar conexões valiosas.

Um momento inesperado me colocou em um caminho para ajudar outras pessoas a usar a IA para contar suas histórias.

Sabe aquele dia em que errei feio em um programa de TV ao vivo e quase fui demitida? De repente, ficou claro como isso se conectava ao medo de visibilidade da minha audiência.

Sabe a minha transição conturbada da TV para o empreendedorismo? Um reflexo perfeito das ansiedades deles sobre mudança de carreira.

Era como ter um espelho que enxergava além dos meus pontos cegos, me mostrando padrões que eu não conseguia ver sozinha e dando significado a momentos que eu havia descartado como “apenas coisas que aconteceram”.

A RESPOSTA DO PÚBLICO

Comecei a incluir essas revelações pessoais no meu próprio storytelling e a testar como essa nova vulnerabilidade afetava minha audiência. O impacto foi imediato. Histórias que havia descartado como “sem graça” ganharam força quando a IA identificou conexões que eu não tinha percebido.

Meu acervo de histórias se expandiu. Passei a me empolgar com a ideia de revisitar momentos desconfortáveis da minha vida, usando a IA como minha guia provocadora de reflexões.

O verdadeiro divisor de águas veio quando comecei a ensinar essa estratégia para outros líderes de negócios. Juntos, usamos a IA para explorar os significados mais profundos por trás de suas decisões empresariais, revelando histórias que eles nunca imaginaram contar.

Criamos perguntas como:

  • "Que temas recorrentes aparecem na forma como falo sobre minha trajetória?"
  • "Onde estou me prendendo por medo?"
  • "Como minhas dificuldades podem, na verdade, ajudar minha audiência?"

Vi empreendedores que passaram anos escondidos atrás de seus logotipos finalmente se colocarem no centro de suas histórias com confiança.

Uma fundadora de uma marca de sabonetes revelou o verdadeiro motivo de ter deixado o mercado financeiro para trabalhar com conservação dos oceanos. De repente, compartilhar sua história pessoal deixou de parecer uma forma de “exibição” e passou a ser essencial para se conectar com seus clientes.

Outra empreendedora percebeu que sua obsessão por construir culturas corporativas acolhedoras vinha da perda do pai na infância.

Essas não eram apenas histórias melhores para o marketing, eram momentos de clareza profunda. Vi fachadas profissionais desmoronarem quando essas pessoas entenderam que suas experiências pessoais não eram distrações para seus negócios, mas sim partes essenciais deles.

CRIANDO UMA FERRAMENTA DE STORYTELLING COM IA

Essas transformações foram tão impactantes que percebi que precisava tornar esse processo acessível para mais pessoas. O problema é que a maioria das ferramentas de IA não foi criada para esse tipo de trabalho reflexivo. Elas foram projetadas para gerar conteúdo, não para desbloquear histórias humanas autênticas.

Foi aí que criei o StoryPro, uma ferramenta de storytelling com IA projetada para unir tecnologia e humanidade. Não para escrever histórias para as pessoas (embora ele faça isso quando sente que você já revirou sua verdade o suficiente), mas para ajudá-las a descobrir as histórias dentro de si que precisam ser contadas.

Foi assim que cheguei ao meu momento de falar a verdade. Decidi contar publicamente minha história com o aparelho auditivo pela primeira vez. Com a ajuda do StoryPro, escrevi um roteiro de vídeo sobre minha experiência com uma clareza que nunca tinha sentido antes.

Quando finalmente postei o vídeo no LinkedIn, ele viralizou, alcançando milhões de visualizações. Surgiram muitos convites para palestras e podcasts. Mas a verdadeira transformação não veio nos números, e sim na forma como passei a me enxergar. Entendi, pela primeira vez, que minha perda auditiva não era uma fraqueza a ser escondida.

Hoje, aquele aparelho auditivo que passei décadas tentando disfarçar está visível em todas as minhas reuniões e palestras. Não porque a IA escreveu uma história perfeita para mim, mas porque ela me ajudou a ver a história que sempre esteve lá – e a assumi-la com orgulho.


SOBRE A AUTORA

Patrice Poltzer desenvolveu o My StoryPro, plataforma que combina IA com coaching para ajudar empreendedores a descobrir e compartilha... saiba mais