IA pode nos dar superpoderes, diz Reid Hoffman, cofundador do LinkedIn

Em seu novo livro, “Superagência”, o empreendedor e investidor defende que a IA pode ser usada para revolucionar nossa rotina de trabalho

Crédito: Gerd Altmann/ Pixabay

Robert Safian 6 minutos de leitura

Cofundador do LinkedIn (vendido para a Microsoft em 2016), o empreendedor e investidor Reid Hoffman é hoje sócio da empresa de capital de risco Greylock Partners. Ele acaba de lançar um novo livro, “Superagency:  What Could Possibly Go Right With Our AI Future” (Superagência: o que poderi dar certo no futuro da IA, em tradução livre), em coautoria com o escritor e colunista Greg Beato).

No livro, Hoffman pinta um quadro positivo sobre o futuro da inteligência artificial. Nesta entrevista ao programa Rapid Response, apresentado pelo ex-editor-chefe da Fast Company Robert Safian, ele compartilha sua visão sobre como será um dia de trabalho com IA integrada e como devemos lidar com os maiores medos da sociedade em relação à tecnologia.

Rapid Response – Para começar, o que é “superagência”?

Reid Hoffman – Agência é a nossa capacidade de nos expressar no mundo, de fazer escolhas, de moldar nosso ambiente, de dizer “isto é... o que eu quero que aconteça comigo e ao meu redor.” Obviamente, ninguém tem agência infinita, mas todos temos alguma.

A IA, assim como outras tecnologias de uso geral que vieram antes, nos dá superpoderes. Superpoderes são como um carro, que dá superpoder de mobilidade, ou um telefone, que dá superpoderes de conectividade e informação. A IA proporciona superpoderes no mundo da informação, navegação, tomada de decisões etc.

A superagência não é apenas quando você, como indivíduo, ganha esse superpoder, mas quando você e muitas pessoas ao seu redor, milhões de pessoas, adquirem essa capacidade.

Assim como um carro não transforma apenas sua mobilidade, mas também a de outros – permitindo que um médico faça uma visita em domicílio ou que um amigo venha te visitar –, a sociedade que experimentamos com essa superagência surge quando muitas pessoas têm os mesmos superpoderes, beneficiando-se mutuamente.

Rapid Response – As preocupações com a IA geralmente giram em torno do medo de que ela eventualmente limite o controle humano. Quando você fala sobre superagência, parece estar sugerindo o oposto: que teremos mais controle.

Reid Hoffman – Na verdade, é diferente, mas, em alguns aspectos importantes, é mais controle. Essas transformações tecnológicas na agência nunca são apenas aditivas.

O avanço tecnológico cria novos requisitos para as profissões, e a IA será definitivamente um deles.

Por exemplo, o carro aumentou a mobilidade, mas se sua agência antes dependia de conduzir carruagens, o que aconteceu é que essa agência mudou. Com um telefone, você pode entrar em contato com outras pessoas, mas elas também podem entrar em contato com você. Assim, a agência se transforma nesses casos.

Se você começou a experimentar ferramentas de IA, já pode perceber que agora consegue fazer coisas que antes não podia. Isso expande sua capacidade de aprender, de se comunicar e de executar tarefas de maneira mais rápida e inovadora.

Por isso, é fundamental que as pessoas realmente interajam com essas tecnologias, que façam uso sério delas.

Rapid Response – Você vem defendendo o potencial da IA há algum tempo, mas nem todo mundo está convencido. O que você é preciso para superar essa resistência?

Reid Hoffman – Minha maior esperança e estratégia de persuasão é que as pessoas que têm medo ou que são céticas em relação à IA comecem a ter alguma curiosidade sobre ela e pensem: “talvez eu devesse experimentar isso.”

Reid Hoffman,, empreendedor, investidos, cofundador do LinkedIn

Parte do conceito de superagência envolve reconhecer que não se trata apenas de você, mas também de outras pessoas tendo acesso a essas ferramentas, o que pode ser benéfico para sua própria vida. Por exemplo, se eu tiver um smartphone, posso ter um assistente médico tão bom quanto um médico mediano (ou até melhor).

Se você precisar de uma análise de raio-X, preferiria que um radiologista fizesse isso sozinho ou que ele usasse uma IA? A resposta certa é com uma IA, sempre, porque isso melhora enormemente o resultado da análise.

Então, não se trata apenas de meus superpoderes individuais, mas de que se outras pessoas também adquirirem superpoderes, isso me beneficia.

Rapid Response – Ou seja, mesmo que alguém não adote a tecnologia da melhor maneira, ainda assim essa pessoa receberá parte dos benefícios culturais e sociais que ela proporciona.

Reid Hoffman – As pessoas adotam e adaptam seu estilo de vida a novas tecnologias quando percebem: “isso realmente é algo bom.”

No início, os carros eram considerados tão perigosos que precisavam de uma pessoa caminhando à frente deles com uma bandeira laranja. Mas logo as pessoas perceberam que, embora houvesse perigos, os benefícios superavam em muito os riscos. A mesma lógica se aplica à superagência e à IA.

Rapid Response – O que parece assustar mais as pessoas sobre a IA é a ideia de que ela possa agir de forma autônoma. Mas acredito que a maior ameaça ao meu emprego não seja perder meu trabalho diretamente para uma IA, e sim para alguém que saiba usá-la melhor do que eu – embora, se perder meu emprego, talvez não faça tanta diferença se foi para uma IA ou para um humano usando IA, certo?

Reid Hoffman – Uma das coisas que mais gosto ao pensar sobre tecnologia é que, sempre que surge um problema – mesmo um problema criado pela tecnologia –, podemos nos perguntar: ela também pode ser a solução?

Acredito que muitos empregos passarão a exigir o uso da IA como parte das habilidades profissionais, assim como hoje é impensável um profissional que não use um computador ou um smartphone. O avanço tecnológico cria novos requisitos para as profissões, e a IA será definitivamente um deles.

Se você começou a experimentar ferramentas de IA, já pode perceber que agora consegue fazer coisas que antes não podia.

Mas isso nos leva de volta ao conceito central do livro, que trata da agência humana: como podemos ajudar as pessoas a adquirirem as novas habilidades necessárias? Se o meu trabalho será substituído por um humano que usa IA, por que esse humano não pode ser eu? Ou, se esse emprego específico não existir mais, como a IA pode me ajudar a encontrar outro?

Acredito que chegaremos a esse ponto naturalmente, mas isso não significa que não possamos tornar essa transição melhor sendo mais intencionais no seu design. Não acho que tudo relacionado à tecnologia será positivo automaticamente. Precisamos orientar seu desenvolvimento de forma consciente.

Sempre que os humanos encontram novas tecnologias de uso geral, desde a imprensa até os dias de hoje, cometemos erros no processo de adaptação. É por isso que escrevi esse livro: para incentivar que essa transição seja feita da melhor forma possível.

Isso não significa que não haverá desafios ou sofrimento no processo. Mas, se abraçarmos a mudança com alguma agência, podemos torná-la menos dolorosa e criar mais oportunidades. Estamos entrando na era da revolução industrial cognitiva. Basta olhar para qualquer livro básico sobre a Revolução Industrial para entender que essas transições podem ser difíceis. Vamos fazer com que esta seja melhor.


SOBRE O AUTOR

Robert Safian é diretor e editor do The Flux Group. De 2007 a 2017, dirigiu as operações da Fast Company em mídia impressa, digital e ... saiba mais