Uso frequente do ChatGPT pode “apodrecer” cérebro, revela estudo do MIT

O estudo aponta riscos no uso da IA para o desenvolvimento; confira

Pessoa usando o ChatGPT
No contexto atual, desenvolver a capacidade de usar a IA de forma crítica e estratégica é tão importante quanto saber realizar tarefas sem ela. Créditos:Freepik.

Guynever Maropo 2 minutos de leitura

Desde o surgimento do ChatGPT, há quase três anos, especialistas discutem os impactos da Inteligência Artificial (IA) no processo de aprendizagem. Enquanto alguns veem a tecnologia como ferramenta para personalização do ensino, outros levantam preocupações sobre possíveis prejuízos à formação do pensamento crítico.

Um estudo conduzido por pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) apontou que o uso do ChatGPT para redações pode causar “déficit cognitivo” e reduzir a capacidade de aprendizagem. O trabalho mediu o engajamento cerebral de adultos ao escreverem textos com e sem apoio da IA.

Durante quatro meses, 54 participantes produziram três redações, usando exclusivamente IA, um mecanismo de busca ou apenas seus próprios conhecimentos. Os resultados mostraram que o grupo que utilizou a IA apresentou menor atividade cognitiva, menor lembrança dos conteúdos e menor sensação de autoria em relação aos textos produzidos.

Na etapa final, os grupos inverteram os papéis. Aqueles que haviam usado IA escreveram sem auxílio e tiveram desempenho inferior ao grupo que já havia trabalhado sem a tecnologia. Os pesquisadores destacaram que essa diferença indicaria um déficit cognitivo acumulado pelo uso contínuo da IA.

Apesar dos dados, o próprio estudo reconhece limitações. Apenas 18 pessoas completaram todas as sessões, o que exige cautela na generalização dos resultados. Além disso, fatores como familiaridade com a tarefa podem ter influenciado o desempenho.

Segundo a pesquisa, a mudança na conectividade cerebral do grupo que não usou IA nas primeiras sessões pode ter resultado do chamado “efeito de familiarização”. Ao repetir tarefas, os participantes tornam-se mais eficientes. Já o grupo que passou a usar apenas o cérebro no final teve menos tempo para se adaptar.

A pesquisa também observou que, ao utilizar o ChatGPT estrategicamente, os participantes se saíram melhor quando já dominavam o tema, usando a IA como ferramenta complementar para aprimorar argumentos.

As conclusões do estudo reabrem o debate sobre como educadores devem incorporar a IA no ensino. O paralelo com o uso de calculadoras nos anos 1970 mostra que a tecnologia, quando bem integrada, pode elevar o nível das atividades e exigir maior raciocínio dos alunos.

Atualmente, muitos educadores mantêm as mesmas tarefas e exigências de antes da IA. Nesse cenário, a tecnologia pode de fato gerar passividade nos alunos, o que os autores classificam como “preguiça metacognitiva”.

No contexto atual, desenvolver a capacidade de usar a IA de forma crítica e estratégica é tão importante quanto saber realizar tarefas sem ela. O desafio está em equilibrar tecnologia e pensamento humano no processo educacional, para que ferramentas como o ChatGPT sirvam de apoio e não de substituição ao aprendizado real.


SOBRE A AUTORA

Jornalista, pós-graduando em Marketing Digital, com experiência em jornalismo digital e impresso, além de produção e captação de conte... saiba mais