200 gramas deste pó amarelo consegue capturar tanto CO2 quanto uma árvore

Um novo material desenvolvido na Universidade da Califórnia pode ajudar a reduzir o custo da captura de dióxido de carbono do ar

Crédito: Zihui Zhou/ UC Berkeley

Adele Peters 3 minutos de leitura

No início deste ano, os cientistas da Universidade da Califórnia, em Berkeley, encheram um dispositivo com um pó amarelo brilhante, conectaram ele a um tubo e enfiaram esse tubo na parede de um laboratório.

Nos 20 dias seguintes, eles usaram esse material para extrair CO2 do ar externo. Em seguida, extraíram o CO2 do pó, repetindo o processo 100 vezes.

O material é capaz de capturar o gás de efeito estufa dentro de bilhões de poros minúsculos. Bastam 200 gramas para capturar cerca de 20 quilos de CO2 em um ano – mais ou menos a mesma quantidade que uma árvore grande captura.

Como o material é eficiente em termos de energia e extremamente durável, ele poderia ajudar a reduzir consideravelmente o custo das usinas de captura direta de ar que removem dióxido de carbono da atmosfera.

O desafio que temos pela frente ainda é enorme. Os níveis de CO2 na atmosfera atingiram recordes este ano, contribuindo para a ocorrência de condições climáticas extremas, de ondas de calor a furacões.

Mesmo que todas as novas emissões parassem agora, para ajudar a estabilizar o clima, ainda existiriam centenas de bilhões de toneladas de emissões antigas na atmosfera que precisam ser removidas. A extração de CO2 do ar é tão necessária quanto a descarbonização da economia. Mas a tecnologia atual de captura direta do ar é muito cara para ser viável em grande escala.

As primeiras gerações da tecnologia de captura direta do ar usavam um líquido para capturar o CO2. Mas o processo consumia muita energia e os próprios líquidos eram tóxicos, o que representava um desafio para o seu descarte. Algumas empresas agora usam materiais sólidos, o que reduz parcialmente o uso de energia, mas esses materiais não duram o suficiente.

Zihui Zhou, estudante de graduação da Universidade da Califórnia, usou uma amostra de teste de 100 miligramas do material. A amostra foi colocada no analisador atrás dele para medir a adsorção de dióxido de carbono de uma mistura de ar semelhante à do ar ambiente.

Zihui Zhou (Crédito: Robert Sanders/ UC Berkeley)

Uma das principais maneiras pelas quais o novo material pode reduzir os custos é que ele pode ser usado várias vezes sem se degradar. “Quando você tem um bom material e o utiliza por um longo período, todo o processo se torna mais barato”, diz Omar Yaghi, professor de química que liderou o desenvolvimento do material, chamado COF-999.

COF significa “estrutura orgânica covalente”, uma estrutura química extraforte desenvolvida pelo laboratório de Yaghi. O material tem potencial para capturar CO2 e liberá-lo para armazenamento por dezenas de milhares de ciclos antes de precisar ser substituído.

Nas instalações atuais de captura direta de ar, os materiais que capturam o CO2 tendem a ser danificados pela umidade. Por isso, as empresas precisam usar mais energia para secar o ar antes que ele seja puxado pelos filtros para capturar o CO2. Com o novo material, esse problema não existe.

Crédito: Atoco

Ele também usa muito menos energia quando o CO2 é liberado para armazenamento. O material libera CO2 quando é aquecido a apenas cerca de 60ºC, em comparação com os 120ºC de outros sistemas.

A temperatura mais baixa “abre a possibilidade de utilização de calor residual ou até mesmo de fontes de energia ambiente de baixa qualidade”, explica Samer Taha, CEO da Atoco, a empresa que comercializa a pesquisa de Berkeley.

Atualmente, a captura direta de ar pode custar de US$ 600 a US$ 1 mil por tonelada de CO2. O setor quer baixar para US$ 100 por tonelada, o que Taha diz ser viável. “Quando ampliarmos a escala, a eficiência energética obtida com essa tecnologia nos permitirá atingir essa meta ou até superá-la.”

Os cientistas continuam desenvolvendo o material, que tem o potencial de capturar ainda mais CO2 em seus poros. Enquanto isso, os engenheiros da Atoco estão ajustando o material para uso na indústria, de modo que ele possa ser colocado em instalações que já fazem a captura direta de CO2 do ar. A Atoco planeja ampliar a produção comercial total dentro de dois anos.


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais