4 erros flagrantes sobre as alegadas “vantagens” do carvão como combustível

A produção de carvão hoje é mais limpa do que no passado, mas isso está longe de significar que ela seja limpa de fato

Crédito: Indigo Division/ Getty Images

Melissa Goldin e Jennifer McDermott 4 minutos de leitura

O presidente Donald Trump assinou quatro ordens executivas com o objetivo de impulsionar a indústria do carvão nos Estados Unidos. As medidas preveem a proteção de usinas e a aceleração da liberação de concessões para mineração em terras públicas.

Mas, ao destacar os supostos benefícios do carvão, Trump distorceu vários fatos sobre seu uso e impacto ambiental. Confira:

AFIRMAÇÃO 1

 

“Eu chamo de carvão bonito e limpo. Disse ao meu pessoal: nunca usem a palavra carvão sem dizer ‘bonito e limpo’.”

A realidade

É verdade que a produção de carvão hoje é mais limpa do que no passado, mas isso está longe de significar que ela seja limpa de fato. Segundo a Administração de Informação de Energia dos EUA (EIA), as emissões de CO2 da indústria do carvão diminuíram nos últimos 30 anos. Ainda assim, pesquisas apoiadas pela ONU indicam que a produção global de carvão precisa ser drasticamente reduzida para conter as mudanças climáticas.

Na prática, o carvão está entre as fontes mais caras de geração de energia.

Além do CO2, a queima do carvão libera dióxido de enxofre e óxidos de nitrogênio, que contribuem para a formação de chuva ácida, poluição atmosférica e doenças respiratórias, segundo a própria EIA. Nos últimos 15 anos, os EUA passaram a usar gás natural em vez de carvão para gerar energia, o que ajudou a reduzir as emissões de carbono no país.

Durante sua sabatina no Senado, o secretário de energia Chris Wright reconheceu que a queima de combustíveis fósseis – como carvão, petróleo e gás natural – é uma das principais causas do aquecimento global. Isso acontece porque sua queima libera grandes quantidades de CO2 na atmosfera, contribuindo para o aumento da temperatura do planeta.

AFIRMAÇÃO 2

 

“É barato, incrivelmente eficiente, com alta densidade e quase indestrutível.”

A realidade

Na prática, o carvão está entre as fontes mais caras de geração de energia. De acordo com estimativas da EIA, usinas recém-construídas gerariam eletricidade a um custo médio de quase US$ 90 por megawatt-hora. Mesmo assim, não há nenhuma nova usina de carvão sendo construída ou planejada atualmente nos EUA.

Por outro lado, a energia solar – mesmo sem armazenamento em bateria – é hoje a forma mais barata de geração elétrica, com custo médio de US$ 23 por megawatt-hora para os projetos que devem se conectar à rede elétrica dos EUA em 2028. As novas usinas de gás natural devem gerar eletricidade por aproximadamente US$ 43 por megawatt-hora, segundo as projeções.

AFIRMAÇÃO 3

“O valor do carvão ainda não explorado no nosso país é 100 vezes maior que todo o ouro de Fort Knox.”

A realidade

Embora os Estados Unidos possuam grandes reservas de carvão, seu valor estimado está bem longe do que Trump afirma. Atualmente, Fort Knox armazena abriga cerca de 147,3 milhões de onças troy (4,6 mil toneladas) de ouro, com valor contábil de aproximadamente US$ 6,2 bilhões, de acordo com o Departamento do Tesouro dos EUA.

Crédito: Bart van Dijk/ Unsplash

No mercado, porém, o ouro está cotado em US$ 2.990,20 por onça troy, o que eleva o valor total para cerca de US$ 440,6 bilhões (uma onça troy, usada para metais preciosos, equivale a cerca de 31,1 gramas).

Já as reservas de carvão dos EUA somavam, em 1º de janeiro de 2024, cerca de 469,1 bilhões de toneladas curtas (uma tonelada curta equivale a quase 907 quilos), segundo a EIA – sendo que apenas 53% delas estão disponíveis para mineração.

O valor total estimado dessas reservas é de aproximadamente US$ 598,3 bilhões. Ou seja, elas valem mais que o ouro de Fort Knox, mas estão muito longe de valer 100 vezes mais.

AFIRMAÇÃO 4

“Usinas de carvão estão sendo abertas por toda a Alemanha.”

A realidade

Essa afirmação é falsa. De acordo com o Ministério da Economia da Alemanha, o país fechou 18 usinas de carvão só em 2024. “Não há planos para construir novas usinas de carvão”, afirmou um porta-voz do ministério ao ser questionado sobre a declaração de Trump.

Ele também destacou que a Alemanha mantém o compromisso de eliminar completamente a geração de energia a partir do carvão até, no máximo, 2038.

É verdade que algumas usinas foram reativadas temporariamente em 2022 e 2023, como medida emergencial diante da escassez de gás natural causada pela guerra na Ucrânia. O governo permitiu que até seis gigawatts de capacidade voltassem a operar por tempo limitado.

Segundo o centro de estudos Agora Energiewende, com sede em Berlim, essas usinas emergenciais foram desativadas novamente até o fim de março de 2024.


SOBRE A AUTORA

Melissa Goldin e Jennifer McDermott são repórteres da Associated Press. saiba mais