5 desafios para tornar realidade as promessas de salvar o planeta

O que precisa mudar em 2023 para nos aproximarmos das mais importantes e ambiciosas metas para o clima e os ecossistemas do nosso planeta

Crédito: chekat/ iStock

Zack Parisa 4 minutos de leitura

Tenho uma relação de amor e ódio com promessas de ano novo. Adoro o clima de reflexão e otimismo que esta época do ano traz. Todos ficam motivados a fazer mudanças positivas. O simples fato de nos comprometermos a cumpri-las já é um grande passo.

Mas mudar de verdade é algo difícil. Requer disciplina, tempo e disposição para avaliar de forma honesta nosso próprio progresso. Por melhores que sejam nossas intenções, elas não significam nada sem esse acompanhamento.

Estamos criando metas ambiciosas, mas o que é preciso fazer para ficarmos mais próximos de alcançá-las?

O mesmo vale para as promessas de proteger e restaurar o clima e os ecossistemas do planeta. Como comunidade global, estamos criando metas ambiciosas e promissoras.

Em 2020, falamos em liderar a Década da Restauração de Ecossistemas. Em 2021, prometemos acabar com o desmatamento e manter o aquecimento global abaixo de 1,5ºC. No ano passado, anunciamos na COP15 que, por meio da iniciativa global 30×30, conservaremos 30% da superfície da Terra para ecossistemas selvagens até 2030.

Mas o que precisa mudar em 2023 para nos aproximarmos das mais importantes e ambiciosas metas para o clima e os ecossistemas do mundo? Aqui estão cinco grandes mudanças que espero ver.

1 . Comunidades indígenas recebendo por suas contribuições

Embora as comunidades indígenas em todo o mundo frequentemente sofram com as consequências das mudanças climáticas e da degradação do ecossistema, elas são totalmente excluídas ou recebem muito menos do que deveriam quando se trata de compensação por suas contribuições para a proteção da natureza.

Ao longo de décadas, essas comunidades lutaram e conseguiram ter mais voz nas reuniões internacionais que decidem os caminhos para o planeta, e estão exigindo financiamento dos governos para auxiliar seus esforços.

Apesar do importante papel dos governos na criação e apoio das principais metas para o meio ambiente, as decisões do dia a dia e a proteção e restauração dos ecossistemas mais vitais da Terra geralmente são feitas pelos povos indígenas, que precisarão de recursos para mudar o que acontece no mundo.

Eles deixaram claro para a comunidade climática internacional o que precisam. Este ano, espero que todos se comprometam a ouvi-los mais e proporcionem a eles os recursos necessários para garantir as mudanças de que precisamos.

2 . Sensoriamento remoto aplicado de forma mais ampla para aumentar a qualidade e a escala das soluções climáticas baseadas na natureza

Se quisermos ampliar os esforços para reduzir o

Mitigar as mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, restaurar a natureza exigirá uma abordagem diferenciada.

desmatamento, precisamos de uma base de medição e também de financiamento adequado. Para tal, é necessário que passemos a usar a tecnologia de sensoriamento remoto para verificar e fechar contratos.

Em 2023 veremos, pela primeira vez, essas medições avaliando o “grau financeiro” em escala. Isso pode gerar o impacto que não conseguimos alcançar até agora.

3 . Créditos de carbono "nature positive" surgindo como uma oferta diferenciada

O problema dos sistemas naturais é que não se pode mudar uma coisa sem afetar muitas outras. Otimizar extensivamente o armazenamento de carbono pode ser bastante benéfico, mas não traria nada de positivo para a complexa teia ecológica nativa. A natureza não é um bloco homogêneo e as ações terão consequências boas e más.

Mitigar as mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, restaurar a natureza exigirá uma abordagem diferenciada. Temos a tecnologia para dar início a isso, mas os primeiros passos podem ser um pouco tímidos.

Espero ver estes primeiros esforços ganhando atenção e incentivo daqueles que querem pensar além de “apenas” carbono.

4 . Uma avaliação abrangente do risco de créditos de carbono

Você se lembra que, no ano passado, a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) propôs exigir dados sobre risco climático em documentos financeiros? Bem, os CFOs certamente se lembram.

exigir dados sobre risco climático em documentos financeiros tornaria mais difícil o "greenwashing".

Se a SEC começasse a examinar as alegações climáticas feitas pelas empresas, exigindo a divulgação do risco de os créditos de carbono não darem certo, elas estariam mais preocupadas em garantir que estão compensando adequadamente esse risco.

Isso, por sua vez, dificultaria o “greenwashing” (seja ele intencional ou não), já que forçaria os participantes do mercado a garantir que seus créditos de carbono representem benefícios reais para o clima.

5 . O capital natural sendo tratado como um ativo financeiro

Um dos anúncios mais empolgantes que ouvi na COP27 foi o Global Carbon Trust, que pretende ser a infraestrutura central para as transações do mercado de carbono.

Para que nossos esforços para salvar o planeta tenham sucesso, precisaremos de um desenvolvimento rápido de infraestrutura econômica para lidar com transações em grande escala, apoiando a conservação do capital natural.

Os mercados de commodities ajudaram a facilitar a avaliação de ativos naturais por anos. Embora o capital natural, como biodiversidade e armazenamento de carbono, seja diferente do cobre e do milho, ele também se beneficia de uma infraestrutura semelhante para ajudar a garantir que o mercado o valorize. Isso é o que ajudará a implementar ações climáticas baseadas na natureza em grande escala.


SOBRE O AUTOR

Zack Parisa é cofundador e CEO do marketplace de créditos de carbono NCX. saiba mais