52 milhões de toneladas. É o que o mundo produz de lixo plástico todo ano

Isso é o suficiente para encher o Central Park, em Nova York, com resíduos plásticos da altura do edifício Empire State por ano

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Seth Borenstein 4 minutos de leitura

O mundo gera 52 milhões de toneladas de poluição plástica a cada ano, que se espalham desde os oceanos mais profundos até o topo das montanhas mais altas – sendo encontrados inclusive no corpo humano. Um novo estudo revela que mais de dois terços dessa poluição vêm do Sul Global.

Essa quantidade de poluição anual seria o suficiente para encher o Central Park, em Nova York, com resíduos plásticos até a altura do Empire State Building, de acordo com pesquisadores da Universidade de Leeds, no Reino Unido. Eles examinaram a produção de resíduos em mais de 50 mil cidades e vilarejos em todo o mundo para um estudo publicado na revista “Nature”. 

O estudo focou nos plásticos que acabam no meio ambiente, e não nos que vão parar em aterros sanitários ou são corretamente incinerados. Para 15% da população mundial, os governos não conseguem coletar e descartar os resíduos de maneira adequada, afirmam os autores do estudo. Esse é um dos motivos pelos quais o Sudeste Asiático e a África Subsaariana são as regiões que mais geram resíduos plásticos.

Lagos, na Nigéria, é a cidade que mais emite poluição plástica no mundo, de acordo com o autor do estudo, Costas Velis, professor de engenharia ambiental da Universidade de Leeds. Outras cidades que estão entre as maiores poluidoras são Nova Délhi, na Índia; Luanda, em Angola; Karachi, no Paquistão; e Al Qahirah, no Egito.

A Índia lidera o ranking mundial de geração de poluição plástica, com 9,3 milhões de toneladas por ano, mais que o dobro da quantidade produzida pela Nigéria e pela Indonésia, que ocupam a segunda e a terceira posição, respectivamente. A China está em quarto lugar, mas tem avançado bastante na redução de resíduos, segundo Velis.

Outros grandes poluidores plásticos incluem Brasil, Rússia, Paquistão e Bangladesh. Esses oito países são responsáveis por mais da metade da poluição plástica mundial, de acordo com os dados do estudo.

A indústria de plástico é uma grande emissora de gases de efeito estufa.

Os pesquisadores usaram inteligência artificial para analisar plásticos que foram queimados de maneira inadequada – cerca de 57% da poluição – ou simplesmente descartados no meio ambiente. Em ambos os casos, microplásticos e nanoplásticos são os grandes responsáveis por transformar o problema de uma ameaça à vida marinha a um risco à saúde humana.

“Já estamos enfrentando um enorme problema de dispersão. Esses plásticos estão nos lugares mais remotos… no topo do Everest, na Fossa das Marianas, no ar que respiramos, no que comemos e bebemos”, observa Velis, ressaltando que este é “um problema de todos” e que continuará assombrando as futuras gerações.

A RESPONSABILIDADE DA INDÚSTRIA

Especialistas alertam que focar apenas na poluição, e não na produção de plásticos, pode tirar a responsabilidade da indústria, que é uma grande emissora de gases de efeito estufa que contribuem para as mudanças climáticas.

“Eles definiram a poluição plástica de uma forma muito restrita, considerando apenas os macroplásticos que são descartados no meio ambiente após o consumo. Corre-se o risco de desviar o foco da produção e nos fazer acreditar que tudo o que precisamos é melhorar a gestão dos resíduos”, avalia Neil Tangri, diretor de ciência e políticas da GAIA, rede global de organizações que promovem o lixo zero e justiça ambiental. “Isso é necessário, mas não resolve todo o problema.”

Theresa Karlsson, consultora científica e técnica da Rede Internacional para Eliminação de Poluentes (outra coalizão de grupos de defesa ambiental), afirma que o volume de poluição identificado pelo estudo é “alarmante” e demonstra que a quantidade de plástico produzida hoje é “incontrolável”.

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Mas ressalta que o estudo não aborda o papel do comércio global de lixo plástico, no qual países ricos exportam seu lixo para nações pobres. O estudo sugere que o comércio de lixo plástico está diminuindo, com a China proibindo importações, mas Karlsson argumenta que, na verdade, está crescendo. Ela cita o aumento nas exportações da União Europeia, que subiram de 100 mil toneladas em 2004 para 1,3 milhão de toneladas em 2021.

“Este estudo reforça que a falta de coleta e gestão adequada de resíduos é o maior responsável pela poluição plástica e que priorizá-las é essencial para acabar com o problema”, diz Chris Jahn, secretário do Conselho Internacional de Associações de Química. A indústria, no entanto, se opõe a um limite para a produção em negociações de tratados.

As Nações Unidas preveem que a produção de plásticos deve crescer de aproximadamente 400 milhões de toneladas por ano para mais de 1,1 bilhão de toneladas, alertando que “nosso planeta já está sufocando em plástico”.

Jennifer McDermott contribuiu para esta matéria.


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