A era da engenharia climática começou. Mas há mais perguntas que respostas

Agora os países terão mais chances de culpar a engenharia climática por eventos extremos, independentemente das evidências

Crédito: Thomas Vogel/ iStock

Ben Kravitz e Tyler Felgenhauer 4 minutos de leitura

O histórico Acordo Climático de Paris deu início a um movimento nos países em desenvolvimento: "1,5 para sobrevivermos". A expressão se refere à meta de manter o aquecimento global abaixo de 1,5 °C em relação à era pré-industrial.

No entanto, é bem provável que o mundo ultrapasse esse limite na próxima década, já que o aquecimento global não está dando sinais de desaceleração.

O único método conhecido capaz de deter rapidamente esse aumento de temperatura é a engenharia climática – às vezes chamada de geoengenharia, métodos de redução da luz solar ou intervenção climática solar. Trata-se de um conjunto de ações propostas para alterar o clima.

Essas ações incluem imitar os efeitos de resfriamento de grandes erupções vulcânicas, lançando grandes quantidades de partículas reflexivas na atmosfera, ou fazer com que nuvens baixas sobre o oceano fiquem mais brilhantes. Ambas as estratégias refletiriam a luz solar de volta ao espaço, resfriando o planeta.

No entanto, há muitas perguntas sem resposta sobre os efeitos de se alterar intencionalmente o clima, e não há consenso sobre até que ponto é uma boa ideia descobrir isso na prática.

Fonte: Chelsea Thompson/ NOAACIR

Uma das maiores preocupações de muitos países com relação às mudanças climáticas é a segurança nacional. Os riscos ao abastecimento de alimentos, energia e água são questões de segurança nacional, assim como a migração induzida pelo clima.

Será que a engenharia climática poderia ajudar a reduzir os riscos de segurança das mudanças climáticas ou pioraria a situação? A resposta a essa pergunta não é simples, mas os pesquisadores que estudam as questões de mudança climática e segurança nacional têm uma ideia dos riscos que estão por vir.

QUEM PODE EXPERIMENTAR A ENGENHARIA CLIMÁTICA?

Espera-se que a engenharia climática seja barata em comparação como custo de acabar com as emissões de gases de efeito estufa. Porém, ainda assim, custaria bilhões de dólares e levaria anos para desenvolver e construir uma frota de aviões que transportassem megatons de partículas refletoras para a estratosfera.

Qualquer bilionário que considerasse tal empreendimento ficaria sem dinheiro rapidamente, ao contrário do que a ficção científica venha a sugerir. No entanto, um único país ou uma coalizão de países que testemunhe os danos da mudança climática poderia fazer um cálculo geopolítico e de custo e decidir iniciar um projeto de engenharia climática por conta própria.

a engenharia climática poderia ajudar a reduzir os riscos de segurança das mudanças climáticas ou pioraria a situação?

Esse é o chamado problema do "cada um por si", o que significa que um país de riqueza no mínimo mediana poderia afetar unilateralmente o clima no mundo inteiro.

Por exemplo, países com ondas de calor cada vez mais perigosas podem querer causar um resfriamento, enquanto países que dependem da chuva de monções podem querer restaurar alguma previsibilidade que a mudança climática tenha comprometido.

Atualmente, a Austrália está estudando a viabilidade de resfriar rapidamente a Grande Barreira de Corais, para evitar seu desaparecimento.

PROBLEMAS PARA OS VIZINHOS E O RISCO DE CONFLITOS

O clima não respeita as fronteiras nacionais. Portanto, é provável que um projeto de engenharia climática afete a temperatura e as chuvas nos países vizinhos. Isso pode ser bom ou ruim para as plantações, para o abastecimento de água e para o risco de enchentes ou para consequências não intencionais generalizadas.

Alguns estudos mostram que uma quantidade moderada de engenharia climática provavelmente traria benefícios generalizados em comparação com as mudanças climáticas. Mas nem todos os países seriam afetados da mesma forma.

A engenharia climática pode provocar conflitos entre países, levando a sanções e pedidos de indenização. Já a mudança climática pode deixar as regiões mais pobres mais vulneráveis a danos. 

A engenharia climática não deveria exacerbar esses danos. Mas alguns países se beneficiariam dela e, portanto, seriam mais resistentes a conflitos geopolíticos, enquanto outros seriam prejudicados e ficariam mais vulneráveis.

Até hoje, ninguém realizou engenharia climática em larga escala, o que significa que muitas informações sobre seus efeitos dependem de modelos climáticos. Mas, embora esses modelos sejam excelentes ferramentas para estudar o sistema climático, eles não são bons para responder a questionamentos sobre geopolítica e conflitos.

O clima não respeita as fronteiras nacionais.

De qualquer modo, decisões em âmbito global relativas à tecnologia climática estão a caminho. Na Assembleia das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, realizada em março, países africanos pediram uma moratória da engenharia climática, por precaução. Outros, como os Estados Unidos, pressionam pela formação de um grupo de cientistas que estude os riscos e benefícios antes de tomar qualquer decisão.

A engenharia climática poderia fazer parte de uma solução equitativa para as mudanças climáticas. Mas ela também traz riscos. Em suma, trata-se de uma tecnologia que não pode ser ignorada, mas é preciso mais pesquisas para que os formuladores de políticas possam tomar decisões informadas.

Este artigo foi republicado do The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original.


SOBRE O AUTOR

Ben Kravitz é professor assistente de ciências atmosféricas na Universidade de Indiana. Tyler Felgenhauer é pesquisador de engenharia ... saiba mais