A invisibilidade da cultura negra nos grandes festivais de música
É urgente que empresas, anunciantes e patrocinadores se comprometam com a diversidade e invistam em eventos para a valorização da comunidade negra
Em um país como o Brasil, onde a cultura negra é tão rica, a falta de representatividade nos grandes festivais de música é um paradoxo gritante. Como amante da música brasileira em todas suas formas, sempre me incomodou essa disparidade, que se manifesta tanto na produção, quanto no público.
Já parou para pensar em quem está por trás dos grandes eventos? E, não menos importante, será que há diversidade na produção e no público?
Segundo o Mapa dos Festivais, em 2023, foram realizados 298 festivais de música, totalizando um aumento de aproximadamente 138% em relação ao ano anterior.
A pesquisa também mostrou que estão surgindo e ganhando destaque eventos direcionados a grupos minoritários. Isso reflete o atual contexto político de valorização desses grupos, ao mesmo tempo em que expressa uma identidade que os distingue dos demais.
Nos bastidores dos grandes festivais, a falta de diversidade é evidente. A baixa porcentagem de profissionais negros nas equipes de produção e curadoria perpetua a invisibilidade de artistas e talentos excepcionais.
Essa realidade se reflete na sociedade – na falta de espaços e investimentos para profissionais negros atuarem na economia criativa, apesar do potencial evidente da comunidade negra na cena cultural brasileira.
É frustrante ver como eventos independentes, promovidos por negros, enfrentam dificuldades para conseguir patrocínio, enquanto grandes festivais se tornam o ponto focal para indústria publicitária, contando com diversas marcas patrocinadoras e apoiadoras.
Um exemplo disso é o Salvador Capital Afro, que em 2023 não recebeu nenhum patrocínio do mercado, mesmo com mais de 20 eventos culturais e atrações internacionais.
Essa miopia das empresas e marcas impede a indústria de se conectar com um público majoritário no Brasil, quando mais da metade da população brasileira se identifica como negra, representando um mercado consumidor com enorme potencial.
Ao ignorar essas pessoas, as empresas perdem a chance de construir relações autênticas e de se beneficiar da riqueza cultural que elas têm a oferecer. Essa falta de apoio reforça as desigualdades estruturais. É como se a cultura negra fosse invisível, algo que me deixa profundamente indignado.
Nos bastidores dos grandes festivais, a falta de diversidade é evidente.
Diante desse cenário, é urgente que empresas, anunciantes e patrocinadores se comprometam com a diversidade e invistam em eventos para a valorização da comunidade negra, para além do mês de novembro. Essa ação é crucial para promover a inclusão, romper barreiras de invisibilidade e reconhecer a cultura negra como um agente de transformação social.
Os eventos são espelho para as principais tendências e preferências do mercado. Faço aqui, um apelo: é hora de quebrar essas barreiras e oferecer experiências enriquecedoras e diversificadas à população, garantindo que os grandes festivais de música sejam verdadeiramente representativos da riqueza cultural de nossas comunidades.