A próxima Conferência do Clima é daqui a 11 meses e já causa controvérsia
O Azerbaijão, que sediará a COP29 em novembro, acaba de nomear um ex-executivo do petróleo para liderar as discussões
O ministro da ecologia do Azerbaijão foi escolhido para liderar as negociações da Conferência do Clima da ONU neste ano, gerando preocupações entre ativistas climáticos devido às suas antigas ligações com a empresa estatal de petróleo do país.
O anúncio da nomeação de Mukhtar Babayev foi feito no X/ Twitter) pelos Emirados Árabes Unidos, que sediaram as discussões sobre o clima encerradas em dezembro, e confirmada na última sexta-feira pelas Nações Unidas.
Babayev, de 56 anos, é ministro da ecologia e recursos naturais de seu país desde 2018. Antes disso, trabalhou na estatal petrolífera do Azerbaijão por mais de duas décadas.
Preocupações semelhantes surgiram em relação ao sultão al-Jaber, chefe da companhia nacional de petróleo dos Emirados Árabes Unidos, enquanto presidia as discussões em Dubai, durante a COP28.
O presidente da COP é responsável por conduzir as negociações e garantir que quase 200 países cheguem a um acordo para ajudar a limitar o aquecimento global. Céticos questionaram se al-Jaber estaria disposto a enfrentar a indústria do petróleo.
A conferência resultou em um acordo final que, pela primeira vez, mencionou os combustíveis fósseis como causa das mudanças climáticas e reconheceu a necessidade de fazer a transição para fontes mais sustentáveis, mas não estabeleceu requisitos concretos para isso.
CONFLITO DE INTERESSES
O petróleo e o gás natural representam cerca de 90% das receitas de exportação do Azerbaijão e financiam aproximadamente 60% do orçamento do governo, de acordo com a Agência Internacional de Energia. Ativistas climáticos argumentam que o país precisa olhar além de seus próprios interesses em combustíveis fósseis se quiser promover negociações bem-sucedidas.
Mohamad Adow, do instituto de pesquisas sobre o clima Power Shift Africa, destaca que é “preocupante que mais uma vez as negociações climáticas mundiais estejam sendo coordenadas por um Estado que tem um grande interesse na produção de petróleo e gás”.
No entanto, ele se diz esperançoso de que os negociadores possam ter sucesso, já que “a COP em Dubai teve um desfecho mais positivo do que muitos esperavam”.
“Babayev tem um trabalho enorme pela frente”, diz Adow. “Ele precisará garantir que os países mais ricos forneçam financiamento sério e de longo prazo para enfrentar a crise climática.”
Harjeet Singh, diretor global de engajamento da Iniciativa do Tratado de Não Proliferação de Combustíveis Fósseis, reitera que “com outro Estado petrolífero sediando a conferência climática, nossas preocupações aumentam”.
Babayev “precisará transcender os interesses da poderosa indústria de combustíveis fósseis, que é a principal responsável pela crise climática”, acrescenta.
Melanie Robinson, diretora global do programa climático do World Resources Institute, não comentou diretamente sobre a nomeação, mas afirmou que “as apostas estarão altas” no Azerbaijão. Lá, as nações abordarão questões como o financiamento para adaptação e mitigação das mudanças climáticas, especialmente nos países mais pobres.
Petróleo e gás natural representam 90% das receitas de exportação do Azerbaijão e financiam 60% do orçamento do governo.
“Como acontece com todas as presidências, o mundo espera que o Azerbaijão contribua de forma justa para o resultado mais ambicioso possível”, observa Robinson.
A ONU organiza as discussões climáticas em todo o mundo, com diferentes regiões se revezando como anfitriãs. Geralmente, essas decisões são anunciadas com dois anos de antecedência. Por exemplo, já foi anunciado que a COP30 será no Brasil, em Belém do Pará.
Mas a escolha de realizar a conferência de 2024 no Azerbaijão foi feita apenas 11 meses antes do início das negociações. Isso ocorreu devido a um impasse de longa data entre as nações do Leste Europeu, região designada para sediar o evento.
Uma troca de prisioneiros entre o país-sede e a Armênia no início de dezembro levou à decisão de apoiar a candidatura do Azerbaijão para a COP29.