A tecnologia climática vai bem, mas precisa de outsiders para implementá-la
Neste momento, a questão não é mais inovação, mas sim descobrir como colocá-la em prática

O setor de tecnologia climática está em um momento decisivo. Já temos as ferramentas para combater as mudanças climáticas, o grande obstáculo agora é como expandi-las e implementá-las em larga escala. E é aí que entram os “novatos” do setor – pessoas de fora que podem trazer novas perspectivas e conhecimentos essenciais.
Na Epic Cleantec, empresa que cofundamos para enfrentar a escassez de água por meio de tecnologia de reuso, ninguém da equipe tinha formação ambiental. E, surpreendentemente, isso se mostrou uma grande vantagem.
Quando entrei nesse setor, sabia pouco sobre água. Não era engenheiro ambiental nem civil, o que significava que nunca aprendi como as coisas “deveriam” ser feitas. Essa falta de experiência tradicional nos permitiu fugir das soluções convencionais e encontrar abordagens inovadoras para problemas antigos.
Minha trajetória até a tecnologia climática foi tudo, menos convencional. Já pensei em ser veterinário, chef de cozinha, promotor de eventos, historiador, lobista político e advogado. Não é de se espantar que, em conferências e eventos do setor, nossa abordagem incomum tenha sido recebida com desconfiança.
A questão é que resolver a crise climática não significa apenas criar novas tecnologias, mas também transformá-las em soluções acessíveis e escaláveis. E isso exige um tipo específico de conhecimento operacional – muitas vezes encontrado em pessoas que já administraram negócios, lidaram com regulamentações complexas e expandiram operações globais.
O SETOR PRECISA DE OLHARES DE FORA
Até agora, a tecnologia climática tem sido impulsionada principalmente por cientistas ambientais e formuladores de políticas. Mas enfrentar a crise exige mais do que avanços científicos – requer uma revolução no mundo dos negócios.
Para que essas soluções sejam adotadas globalmente, precisamos da mesma expertise que transformou setores como fintech, e-commerce e computação em nuvem.
A tecnologia climática não é apenas o futuro da inovação – é o futuro dos negócios.
Os investidores já perceberam isso. Larry Fink, CEO da BlackRock, previu que a próxima geração de empresas bilionárias virá da tecnologia climática.
Mas, para construir essas empresas, não basta paixão. Precisamos de profissionais que entendam como fazer um negócio crescer: gerentes de produto que saibam lançar softwares, especialistas em operações que otimizem cadeias de suprimentos e estrategistas que impulsionem a adoção dessas tecnologias no mercado.
O que realmente precisamos são pessoas capazes de transformar boas ideias em negócios sustentáveis e escaláveis, sabendo navegar pelas complexas regulamentações do setor. No fim das contas, o impacto climático do futuro vai depender do sucesso comercial dessas soluções.
AS SOLUÇÕES JÁ EXISTEM, FALTA IMPLEMENTÁ-LAS
Muitas das tecnologias necessárias para reduzir emissões e fortalecer a resiliência climática já estão disponíveis. Armazenamento de energia, eletrificação, reuso de água, agricultura regenerativa – tudo isso já existe. O problema não é mais criar novas soluções, e sim garantir que elas sejam implementadas de maneira eficiente.
Setores como software como serviço (SaaS) e fintech cresceram rapidamente graças à automação, a redes eficientes e a capital inteligente. Se aplicarmos essas mesmas estratégias à tecnologia climática, podemos alcançar as metas ambientais muito mais rápido.

Imagine o impacto de usar as lições aprendidas com o crescimento acelerado de serviços como transporte por aplicativo, da computação em nuvem na expansão da energia solar, das baterias de longa duração ou da descarbonização industrial.
A tecnologia climática não é apenas sobre desenvolver novas soluções, mas sim sobre transformar sistemas inteiros. Isso significa lidar com regulamentações complexas, adaptar-se a metas corporativas de sustentabilidade que mudam constantemente e convencer indústrias tradicionais a adotarem novas práticas.
Profissionais que já atuaram em setores altamente regulados, como saúde, finanças e transporte, estão bem preparados para liderar essa transformação.
MOMENTO DECISIVO PARA A TECNOLOGIA CLIMÁTICA
A tecnologia climática deixou de ser um nicho e se tornou um dos campos mais promissores da inovação. Cada vez mais profissionais da tecnologia e do mundo dos negócios estão buscando carreiras com propósito, e esse setor oferece uma combinação única de impacto ambiental e oportunidades de mercado. A entrada de novas perspectivas não é apenas bem-vinda – é fundamental.
Para que essa indústria cresça, precisamos atrair talentos com experiências diversas. Líderes do setor devem buscar profissionais com habilidades transferíveis e os investidores precisam reconhecer o valor de equipes que combinam conhecimento técnico com visão de negócios.
A oportunidade é enorme, mas a urgência é ainda maior. Se quisermos atingir nossas metas globais, precisamos pensar diferente e trazer pessoas dispostas a desafiar o status quo. Para quem tem curiosidade sobre esse setor, nunca houve um momento melhor para entrar. A tecnologia climática não é apenas o futuro da inovação – é o futuro dos negócios.