A tecnologia que promete espalhar a energia geotérmica pelo mundo
A Islândia foi um dos primeiros países a alcançar um modelo de eletricidade 100% renovável. Isso ocorreu, em grande parte, porque os islandeses aproveitaram a energia geotérmica produzida por sua geologia única, repleta de vulcões. Em outros lugares, porém, esse recurso não está disponível tão prontamente. Mas uma nova tecnologia promete tornar a energia geotérmica acessível em qualquer lugar. A empresa que a desenvolveu pretende testá-la de um jeito muito específico: implantando poços geotérmicos em usinas que atualmente funcionam à base de combustíveis fósseis.
A Quaise Energy, startup que acaba de ser contemplada com um financiamento de US$ 40 milhões liderado pela Safar Partners, usa sistemas de perfuração de “onda milimétrica” para alcançar até 19 km no subsolo – distância 3 a 5 vezes mais profunda do que as perfurações comuns de petróleo e gás –, atingindo camadas de rochas acima de 370 graus Celsius. Esse calor pode ser utilizado como uma fonte de energia constante em praticamente qualquer lugar do planeta.
“Quando pensamos na escala da transição energética, as medidas são calculadas em terawatts – trilhões de watts. É essa a dimensão de energia necessária para abastecer o mundo”, explica Carlos Araque, CEO e cofundador da Quaise Energy. “Quando você se depara com essa escala, fica evidente que não seremos capazes de fazer a transição completa para a energia renovável contando apenas com as energias eólica e solar”.
Tanto a eólica quanto a solar são fontes intermitentes de energia, o que significa que nem sempre estão disponíveis (o sol, obviamente, nem sempre brilha), e armazenar essa energia renovável em baterias ainda é bastante caro. A energia eólica e a solar também ocupam bastante espaço. Se a energia geotérmica for acessível em qualquer lugar, pode ajudar a preencher uma lacuna importante na obtenção de eletricidade 100% renovável.
Tecnicamente, é possível perfurar subterrâneos muito profundos usando equipamentos tradicionais. Mas, quanto mais longe se chega, mais é preciso parar de perfurar para trocar a broca. O processo fica caro demais para ser viável. “Não é uma questão de ser possível fazer ou não, mas de economia”, diz Araque. Sua startup traz uma nova tecnologia desenvolvida no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). Ela consiste em empregar, na ponta de uma furadeira, a energia de ondas milimétricas, cuja frequência é muito mais alta do que a de um microondas doméstico. Essas ondas milimétricas derretem e vaporizam a rocha.
Mais para frente, a startup planeja começar a implantar essa tecnologia em usinas de combustível fóssil já existentes. Na maioria das usinas, se queima combustível fóssil para aquecer a água, transformá-la em vapor e usá-lo para produzir eletricidade com uma turbina. “A geotérmica substitui a queima de combustíveis fósseis – o vapor vem do solo”, explica Araque. Ao fazer perfurações nas usinas de energia existentes, a empresa pode evitar a construção de outras infraestruturas. “Imagine a economia em novos capitais de infraestrutura para descarbonizar a maioria dos ativos de produção elétrica do mundo”, propõe.