A verdade inconveniente sobre os diamantes produzidos em laboratório

Eles têm um ótimo preço, mas muitos não são tão sustentáveis quanto as empresas afirmam ser

Créditos: AP Photo/Matt Rourke

Isabella O'Malley 4 minutos de leitura

Nos Estados Unidos, as vendas de diamantes produzidos em laboratório aumentaram 16% em 2023 em comparação a 2022, de acordo com Edahn Golan, analista do setor. Eles custam uma fração das pedras que se formam naturalmente no subsolo.

Nas redes sociais, millennials e membros da geração Z exibem com orgulho seus diamantes de laboratório, justificando a compra com base na sustentabilidade e ética. Mas até que ponto essas pedras são realmente sustentáveis ​​é questionável, já que sua produção requer uma enorme quantidade de energia e muitos dos maiores fabricantes não são transparentes sobre suas operações.

Várias empresas estão sediadas na Índia, onde cerca de 75% da energia provém da queima de carvão. Embora utilizem termos como “sustentável” e “ecologicamente correto” em seus sites, muitas não divulgam relatórios de impacto ambiental nem possuem certificações de terceiros.

Diamantes não lapidados cultivados em laboratório na Greenlab Diamonds (Crédito: Ajit Solanki/ AP)

A Cupid Diamonds, por exemplo, afirma em seu site que produz diamantes de maneira “ecologicamente correta”, mas não revela o que os torna sustentáveis. No entanto, a energia solar está se expandindo rapidamente na Índia e existem empresas, como a Greenlab Diamonds, que utilizam fontes de energia renováveis em seus processos de fabricação.

A China é outra grande produtora de diamantes. Empresas como Henan Huanghe Whirlwind, Zhuhai Zhong Na Diamond, HeNan LiLiang Diamond, Starsgem Co. e Ningbo Crysdiam estão entre as maiores do país. Mas nenhuma delas responde a pedidos de esclarecimento ou dá detalhes sobre a origem da energia que utilizam. Em 2023, mais da metade da energia da China veio do carvão.

Há muitas empresas se aproveitando da ideia de que é um produto ecologicamente correto quando não estão fazendo nada nesse sentido.

Nos EUA, a VRAI, de propriedade da Diamond Foundry, opera o que diz ser uma fundição com emissão zero, alimentada por energia hidrelétrica do rio Columbia. De acordo com Martin Rochesne, CEO e fundador da Diamond Foundry, a energia usada para produzir diamantes é “cerca de um décimo da necessária para a mineração".

Apesar disso, Paul Zimnisky, especialista na indústria de diamantes, afirma que empresas transparentes e que utilizam energia renovável “representam uma parcela muito pequena da produção”.

“Parece que há muitas empresas se aproveitando da ideia de que é um produto ecologicamente correto quando, na verdade, não estão fazendo nada nesse sentido”, diz ele.

Especialista verifica o polimento de diamante feito em laboratório (Crédito: Ajit Solanki/ AP)

COMO OS DIAMANTES SÃO PRODUZIDOS

Os diamantes de laboratório são produzidos ao longo de várias semanas, submetendo o carbono a altas pressões e temperaturas que imitam as condições naturais sob as quais os diamantes "de verdade" se formam abaixo da superfície da Terra.

A tecnologia existe desde a década de 1950, mas os diamantes produzidos eram usados principalmente em indústrias como corte de pedras, mineração e instrumentos odontológicos.

Com o tempo, laboratórios e fundições fizeram grandes avanços na produção e os custos foram diminuindo conforme a tecnologia melhorava.

Corte a laser de diamantes feitos em laboratório (Crédito: Ajit Solanki/ AP)

Isso significa que os produtores podem fabricar quantas pedras quiserem e escolher o tamanho e a qualidade, fazendo com que os preços caiam rapidamente.

Os diamantes naturais levam bilhões de anos para se formar e são difíceis de encontrar, o que torna seu preço mais estável. No entanto, ambos são quimicamente idênticos e feitos inteiramente de carbono.

GUERRA DE MARTKETING

Com preços mais baixos e os jovens os preferindo cada vez mais, os diamantes de laboratório têm impactado a participação de mercado das pedras naturais. Globalmente, agora representam de 5% a 6%.

Mas a indústria tradicional não está aceitando isso de bom grado. Joalherias e alguns analistas alegam que os diamantes produzidos em laboratório não vão manter seu valor ao longo do tempo. E a guerra de marketing continua.

“Daqui a cinco ou 10 anos, acredito que haverá poucos clientes dispostos a gastar milhares de dólares em um diamante de laboratório. Acho que quase todos serão vendidos por US$ 100 ou até menos”, afirma Zimnisky.

Anéis feitos com diamantes de laboratório (Crédito: Pandora)

Ele prevê que os diamantes naturais continuarão custando milhares e dezenas de milhares de dólares. “Mas o mais sustentável é reutilizar ou reciclar diamantes, já que isso não consome energia”, explica o especialista.

Pagar milhares de dólares por algo que perde a maior parte de seu valor em apenas alguns anos pode fazer com que o comprador se sinta enganado, o que, segundo Golan, é um aspecto que vem prejudicando o setor de diamantes produzidos em laboratório.

“Quando se compra um diamante natural, há toda uma história por trás, de que ele foi formado ao longo de bilhões de anos – é uma criação maravilhosa da natureza. Não é possível dizer o mesmo de um diamante produzido em laboratório”, observa Golan. “Existe uma associação clara entre eternidade e a longevidade do amor.”


SOBRE A AUTORA

Isabella O'Malley é jornalista da Associated Press especializada em soluções climáticas. saiba mais