A verdade inconveniente sobre os diamantes produzidos em laboratório
Eles têm um ótimo preço, mas muitos não são tão sustentáveis quanto as empresas afirmam ser
Nos Estados Unidos, as vendas de diamantes produzidos em laboratório aumentaram 16% em 2023 em comparação a 2022, de acordo com Edahn Golan, analista do setor. Eles custam uma fração das pedras que se formam naturalmente no subsolo.
Nas redes sociais, millennials e membros da geração Z exibem com orgulho seus diamantes de laboratório, justificando a compra com base na sustentabilidade e ética. Mas até que ponto essas pedras são realmente sustentáveis é questionável, já que sua produção requer uma enorme quantidade de energia e muitos dos maiores fabricantes não são transparentes sobre suas operações.
Várias empresas estão sediadas na Índia, onde cerca de 75% da energia provém da queima de carvão. Embora utilizem termos como “sustentável” e “ecologicamente correto” em seus sites, muitas não divulgam relatórios de impacto ambiental nem possuem certificações de terceiros.
A Cupid Diamonds, por exemplo, afirma em seu site que produz diamantes de maneira “ecologicamente correta”, mas não revela o que os torna sustentáveis. No entanto, a energia solar está se expandindo rapidamente na Índia e existem empresas, como a Greenlab Diamonds, que utilizam fontes de energia renováveis em seus processos de fabricação.
A China é outra grande produtora de diamantes. Empresas como Henan Huanghe Whirlwind, Zhuhai Zhong Na Diamond, HeNan LiLiang Diamond, Starsgem Co. e Ningbo Crysdiam estão entre as maiores do país. Mas nenhuma delas responde a pedidos de esclarecimento ou dá detalhes sobre a origem da energia que utilizam. Em 2023, mais da metade da energia da China veio do carvão.
Há muitas empresas se aproveitando da ideia de que é um produto ecologicamente correto quando não estão fazendo nada nesse sentido.
Nos EUA, a VRAI, de propriedade da Diamond Foundry, opera o que diz ser uma fundição com emissão zero, alimentada por energia hidrelétrica do rio Columbia. De acordo com Martin Rochesne, CEO e fundador da Diamond Foundry, a energia usada para produzir diamantes é “cerca de um décimo da necessária para a mineração".
Apesar disso, Paul Zimnisky, especialista na indústria de diamantes, afirma que empresas transparentes e que utilizam energia renovável “representam uma parcela muito pequena da produção”.
“Parece que há muitas empresas se aproveitando da ideia de que é um produto ecologicamente correto quando, na verdade, não estão fazendo nada nesse sentido”, diz ele.
COMO OS DIAMANTES SÃO PRODUZIDOS
Os diamantes de laboratório são produzidos ao longo de várias semanas, submetendo o carbono a altas pressões e temperaturas que imitam as condições naturais sob as quais os diamantes "de verdade" se formam abaixo da superfície da Terra.
A tecnologia existe desde a década de 1950, mas os diamantes produzidos eram usados principalmente em indústrias como corte de pedras, mineração e instrumentos odontológicos.
Com o tempo, laboratórios e fundições fizeram grandes avanços na produção e os custos foram diminuindo conforme a tecnologia melhorava.
Isso significa que os produtores podem fabricar quantas pedras quiserem e escolher o tamanho e a qualidade, fazendo com que os preços caiam rapidamente.
Os diamantes naturais levam bilhões de anos para se formar e são difíceis de encontrar, o que torna seu preço mais estável. No entanto, ambos são quimicamente idênticos e feitos inteiramente de carbono.
GUERRA DE MARTKETING
Com preços mais baixos e os jovens os preferindo cada vez mais, os diamantes de laboratório têm impactado a participação de mercado das pedras naturais. Globalmente, agora representam de 5% a 6%.
Mas a indústria tradicional não está aceitando isso de bom grado. Joalherias e alguns analistas alegam que os diamantes produzidos em laboratório não vão manter seu valor ao longo do tempo. E a guerra de marketing continua.
“Daqui a cinco ou 10 anos, acredito que haverá poucos clientes dispostos a gastar milhares de dólares em um diamante de laboratório. Acho que quase todos serão vendidos por US$ 100 ou até menos”, afirma Zimnisky.
Ele prevê que os diamantes naturais continuarão custando milhares e dezenas de milhares de dólares. “Mas o mais sustentável é reutilizar ou reciclar diamantes, já que isso não consome energia”, explica o especialista.
Pagar milhares de dólares por algo que perde a maior parte de seu valor em apenas alguns anos pode fazer com que o comprador se sinta enganado, o que, segundo Golan, é um aspecto que vem prejudicando o setor de diamantes produzidos em laboratório.
“Quando se compra um diamante natural, há toda uma história por trás, de que ele foi formado ao longo de bilhões de anos – é uma criação maravilhosa da natureza. Não é possível dizer o mesmo de um diamante produzido em laboratório”, observa Golan. “Existe uma associação clara entre eternidade e a longevidade do amor.”