A “vingança das homepages” – ou a volta do jornalismo de credibilidade

O retorno às homepages dos sites de notícias pode ser uma oportunidade para as empresas de mídia reafirmarem sua relevância

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Renato Mendes 4 minutos de leitura

Nos últimos anos, as redes sociais se tornaram o principal aliado na geração de tráfego para portais de notícias. Era fundamental decifrar o algoritmo do Instagram, o ritmo do TikTok e a lógica do Facebook para garantir que o conteúdo chegasse aos usuários finais.

No entanto, à medida que o excesso de desinformação se espalhou por essas plataformas, a confiança dos usuários começou a ser abalada, levando-os a buscar informação diretamente na fonte, recorrendo às homepages dos sites de notícias em busca de credibilidade.

Essa é a tese central de uma matéria da "The New Yorker" intitulada "The Revenge of the Home Page - As social networks become less reliable distributors of the news, consumers of digital journalism are seeking out an older form of online real estate" (A Vingança da Homepage - À medida que as redes sociais se tornam distribuidores de notícias menos confiáveis, os consumidores de jornalismo digital estão voltando a um formato mais antigo de espaço online). 

Mas será que é isso mesmo?

A ideia de que as homepages podem estar voltando a ser um ponto central na distribuição de notícias levanta uma série de questões sobre o futuro do jornalismo digital e o papel das redes sociais. Destaco três:

1. A força das marcas de portais de notícias

Será que os portais de notícias têm força de marca suficiente para compensar a perda de tráfego gerado pelas redes sociais? Por anos, os sites dependeram de plataformas como Facebook e Twitter (atual X) para direcionar leitores ao seu conteúdo.

Com a dificuldade de monetizar o conteúdo online, muitas organizações de notícias enfrentam desafios financeiros.

Agora, com a mudança no comportamento dos usuários, a questão é se os sites de notícias conseguirão manter sua relevância sem essa dependência.

Para que o tráfego direto substitua a entrega anteriormente realizada pelas redes sociais, os portais precisam fortalecer suas marcas. Isso exige não apenas uma aposta na qualidade do conteúdo, mas também em estratégias de branding que reforcem a confiança do público.

O desafio é significativo: reconquistar a atenção e a lealdade de uma audiência que se acostumou a consumir notícias de forma fragmentada e passiva, através dos feeds de redes sociais.

2. Tendência global ou realidade local?

Será que essa volta às homepages é realmente uma tendência global ou algo restrito à realidade dos EUA? Nos Estados Unidos, o aumento da desconfiança em relação às redes sociais tem levado os consumidores a buscarem fontes diretas. No entanto, essa dinâmica pode ser diferente em outras partes do mundo.

os portais de notícias têm força de marca suficiente para compensar a perda de tráfego gerado pelas redes sociais?

No Brasil, por exemplo, muitos dos principais sites de notícias têm sua credibilidade questionada por uma parcela significativa da população. Em um ambiente onde a polarização política é acentuada e a confiança nas instituições está em declínio, a busca por informações diretas pode não ter o mesmo apelo.

Além disso, a penetração das redes sociais no Brasil continua forte, e muitos usuários ainda preferem consumir conteúdo por meio dessas plataformas. O impacto dessa mudança de comportamento no Brasil e em outros países pode variar consideravelmente.

3. O desafio do modelo de negócio no jornalismo

A ideia de que o jornalismo de qualidade pode renascer em meio ao caos das fake news já foi discutida várias vezes. No entanto, há um problema mais profundo que precisa ser enfrentado: o modelo de negócio das empresas de mídia.

No Brasil, muitos dos principais sites de notícias têm sua credibilidade questionada por parte da população.

Com a queda nas receitas publicitárias e a dificuldade de monetizar o conteúdo online, muitas organizações de notícias enfrentam desafios financeiros significativos.

Mesmo que os usuários voltem a buscar informações diretamente nas homepages, isso não resolve a questão fundamental de como financiar o jornalismo de qualidade.

As empresas de mídia precisam encontrar formas sustentáveis de gerar receita, seja através de assinaturas, parcerias ou outros modelos inovadores. Sem uma solução clara para esse desafio, a simples volta às homepages pode não ser suficiente para salvar o jornalismo.

A VOLTA DAS HOMEPAGES?

A "vingança" das homepages pode ser um sinal de que estamos testemunhando uma mudança no comportamento do consumidor de notícias, mas essa mudança levanta mais perguntas do que respostas.

A força das marcas de portais de notícias, a natureza global ou local dessa tendência e os desafios persistentes no modelo de negócios do jornalismo são questões que precisam ser exploradas mais profundamente.

O futuro do jornalismo digital pode muito bem depender de como esses desafios serão enfrentados. O retorno às homepages pode ser uma oportunidade para as empresas de mídia reafirmarem sua relevância, mas isso exigirá inovação, adaptação e um compromisso renovado com a qualidade do conteúdo e a confiança do público.


SOBRE O AUTOR

Renato Mendes é cofundador da 4Equity Media Ventures, primeiro fundo independente de media for equity da América Latina. saiba mais