Acha que pode salvar o mundo? Então junte-se ao time dos “solucionistas”

Gente capaz de mudar o mundo é uma espécie rara. Mas que precisa se tornar mais comum

Crédito: Cup of Couple/ Pexels

Solitaire Townsend 5 minutos de leitura

Gente que deseja salvar o mundo costuma ser muito curiosa – nos dois sentidos da palavra. São pessoas que têm curiosidade sobre o mundo ao seu redor, que estão em uma busca constante para descobrir coisas novas e encontrar respostas ao longo da vida. Mas elas também são curiosas porque são um pouco... estranhas.

Digo isso como um elogio, até porque me incluo no grupo de pessoas que acham que podem salvar o mundo. Mas admito que esse tipo de gente que gosta de desatar nós – que se mantém acordada por causa de problemas não resolvidos e que tem uma forte sensação de que pode fazer algo a respeito dos problemas do mundo – não é muito comum.

Mas deveria ser. Nossas comunidades, economias, empresas e famílias estão enfrentando uma convergência sem precedentes de intratáveis crises sociais, humanitárias e ambientais – sendo a mudança climática a mais complexa e assustadora de todas elas.

Crédito: iStock

Todos estamos sendo questionados sobre o futuro da humanidade, que precisa desesperadamente de respostas. Esse é um trabalho para quem acredita que pode mudar o mundo. Pessoas com o perfil “solucionista”. 

Muitos dos “solucionistas” que entrevistei são bem-sucedidos nos negócios – o que não se dá apesar da consciência do risco devastador das mudanças climáticas, mas por causa dela.

Eles não tratam o empreendedorismo social ou ecológico e os negócios sustentáveis como a última moda ou algo que agrega valor para os negócios. Suas empresas, invenções, estratégias e soluções são projetadas explicitamente para enfrentar problemas. Esse é o caminho de uma mente solucionadora.

Ando extremamente satisfeita com a quantidade de pessoas que gostaram de ser apelidadas de “solucionistas”. É quase como se essa nova onda de agentes de mudança estivesse esperando por um substantivo coletivo.

UMA ECONOMIA DE SOLUÇÕES

A economia global está repleta de uma variedade de inversões lógicas revoltantes. O investimento que poderia ir para parques eólicos está indo para extração de petróleo. Mais pessoas no mundo têm acesso a um telefone celular do que a um banheiro adequado.

À medida que aumentam as pressões por conta da mudança climática e da desigualdade social, essas rachaduras começam a aparecer em nas economias e nas sociedades que elas deveriam apoiar.

outra economia, mais adequada para o momento, está crescendo dentro do edifício instável da atual.

Claro, a mudança climática também representa o fim do jogo para a velha economia, porque em qualquer competição entre finanças e realidade física, a realidade sempre vence. Várias pesquisas em todo o mundo mostram que a maioria acredita que o capitalismo, em sua forma atual, está fazendo mais mal do que bem.

Até agora, meu texto parece pessimista, não é? Mas não se preocupe, sou a rainha das soluções.

Essas rachaduras no sistema estão sendo inexoravelmente abertas por fora, pelas mudanças climáticas, desigualdade, guerra e pandemias. Todas essas crises estão rompendo uma ordem econômica que não foi construída para lidar com elas. A pressão também está aumentando por dentro do sistema.

Acredito que outra economia, mais adequada para o momento, está crescendo dentro do edifício instável da atual, abrindo caminho para a sua existência. Ela não se encaixa na estrutura do modelo existente – é uma forma totalmente diferente. Pertence a um novo molde, cujas curvas e cantos foram formados pela paisagem atual, tanto de crises crescentes quanto de criatividade em expansão.

Crédito: Pixabay

Frequentemente, os contornos brilhantes dessa outra economia são obscurecidos pelos discursos da mídia, que reforçam os descontentamentos do antigo sistema. Mas olhe mais de perto para os sinais: uma explosão de empreendedorismo, uma rede de novas tecnologias e novos modelos de negócios, experimentos com novas formas de capital e, claro, cada vez mais “solucionistas” decidindo arregaçar as mangas.

Em 2022, a McKinsey modelou as implicações de um mundo em que as metas climáticas da ONU são cumpridas – o que, falando sério, não podemos deixar de fazer. Eles concluem que, naquilo que chamo de economia solucionista, “essa mudança total em direção a instituições e projetos que emitem gases de efeito estufa mínimos pode criar a maior realocação de capital da história”.

Como eles apontam, as instituições financeiras responsáveis por mais de US$ 130 trilhões de capital declararam que administrarão seus ativos de maneira a manter o aquecimento abaixo de 1,5 grau Celsius.

A vitória financeira é impressionante e desafia as ortodoxias da velha economia de que não poderíamos arcar com as ações climáticas. Na economia solucionista, resolver a mudança climática é justamente o que resolve todo o resto.

JUNTE-SE AOS SOLUCIONISTAS

Não reivindico direitos autorais sobre a palavra “solucionista” e espero que, nos próximos anos, quando pesquisar pelo termo solucionista, apareçam milhares de pessoas com essa descrição. Espero ter conseguido transmitir as vantagens de se tornar alguém que pensa em mudar o mundo, tanto financeiras quanto emocionais. Essas recompensas estão disponíveis agora e só crescerão à medida que avançarmos em direção a uma economia solucionista.

As rachaduras no sistema estão sendo inexoravelmente abertas por fora, pelas mudanças climáticas, desigualdade, guerra e pandemias.

Também fiquei muito comovida com outra chamada urgente à ação, feita pelo lendário ex-CEO da Unilever, Paul Polman — o imperativo moral.

“Se você ganhou este bilhete de loteria da vida e recebeu educação, assistência médica, alimentação, acesso a eletricidade e banheiro, então você faz parte de apenas 5% da população mundial e precisa se colocar a serviço do outros 95%. Fico esperançoso porque sei que qualquer outro caminho – por mais ingênuo que isso soe – não leva a nada. E, francamente, não temos escolha. Quando digo isso, as pessoas riem, mas eu repito: é tarde demais para ser pessimista.”

Para mim, tanto faz se você for um “solucionista” para fazer fortuna, tornar-se famoso ou provar aos colegas que te provocavam no ensino médio que você pode mudar o mundo. No entanto, sei que a maioria das pessoas que estão lendo isso também vai se comover com as palavras de Paul Polman.

Embora ser um “solucionista” seja divertido e traga retorno financeiro, não foi por isso que a maioria de nós escolheu esse caminho. Somos solucionistas porque não conseguimos e nem podemos ser outra coisa.

Junte-se a nós.

Este trecho de "The Solutionists: How Businesses Can Fix The Future", de Solitaire Townsend, foi reproduzido com permissão da Kogan Page Ltd.


SOBRE A AUTORA

Solitaire Townsend é cofundadora e principal “solucionista” da Futerra, premiada agência de sustentabilidade. saiba mais