Alimentos sem glúten têm mais açúcar e menos nutrientes, aponta pesquisa

Os resultados sugerem que muitos dos supostos benefícios dos produtos sem glúten, como controle de peso e do diabetes, são exagerados

Crédito: Jantroyka/ Getty Images

Sachin Rustgi 3 minutos de leitura

Consumidores costumam pagar mais por alimentos sem glúten. Só que esses itens geralmente oferecem menos proteína e mais açúcar e calorias em comparação com as alternativas que contêm glúten. Esse é o principal achado do meu novo estudo, publicado na revista "Plant Foods for Human Nutrition".

O estudo comparou produtos sem glúten com seus equivalentes que contêm glúten. Os resultados sugerem que muitos dos benefícios percebidos dos alimentos sem glúten – como controle do peso e do diabetes – são exagerados.

Muitos alimentos sem glúten carecem de fibra alimentar, proteína e nutrientes essenciais. Os fabricantes frequentemente adicionam suplementos para compensar essas carências, mas a incorporação de fibras alimentares durante o processamento pode dificultar a digestão das proteínas.

Além disso, alimentos sem glúten geralmente contêm níveis mais elevados de açúcar em comparação com outros produtos que contêm glúten. No longo prazo, seguir uma dieta sem glúten tem sido associado ao aumento do índice de massa corporal (IMC) e a deficiências nutricionais.

Produtos sem glúten (definidos como aqueles que contêm até 20 partes por milhão da substância) geralmente não contêm trigo, centeio, cevada e, às vezes, aveia. Mas todos esses grãos são ricos em arabinoxilano, um polissacarídeo não amiláceo crucial.

O arabinoxilano oferece vários benefícios para a saúde, incluindo a manutenção de bactérias intestinais que são benéficas ao corpo, melhora da digestão, regulação dos níveis de açúcar no sangue e apoio a uma microbiota intestinal equilibrada.

Nosso estudo também apontou que é difícil encontrar um produto sem glúten que se destaque em todas as áreas nutricionais, como alto teor de proteína e fibra, mas com baixo carboidrato e açúcar.

muita gente adota uma dieta sem glúten só porque é tendência.

Por outro lado, pães sem glúten com sementes contêm bem mais fibra (38,24 gramas a cada 100 gramas) do que seus equivalentes com glúten. Isso provavelmente ocorre devido aos esforços dos fabricantes para compensar a deficiência de fibras usando ingredientes como pseudocereais, como amaranto e quinoa.

Essas melhorias, no entanto, variam conforme o fabricante e a região. Por exemplo, os alimentos sem glúten na Espanha tendem a ter menor teor de fibra do que seus equivalentes com glúten.

POR QUE ESSAS DESCOBERTAS SÃO IMPORTANTES

A moda da "dieta sem glúten" está crescendo, assim como a procura pelo selo "orgânico". Agora, ela faz parte do cotidiano de muita gente, que muitas vezes não tem um entendimento completo de seus benefícios reais.

Embora uma dieta sem glúten seja uma necessidade médica para pessoas sensíveis a esse elemento – uma condição chamada doença celíaca – ou para aqueles com alergia ao trigo, muitos adotam uma dieta sem glúten devido aos supostos benefícios para a saúde ou simplesmente porque tendência.

Em 2024, o mercado global de produtos sem glúten foi avaliado em US$ 7,28 bilhões e deve alcançar US$ 13,81 bilhões até 2032. Nos EUA, cerca de 25% da população consome alimentos sem glúten.

Esse número é muito maior do que os cerca de 6% de pessoas no pais com sensibilidade ao trigo não celíaca, 1% com doença celíaca e percentagens ainda menores de pessoas com alergia ao trigo.

Isso sugere que muitos adotam dietas sem glúten por razões que não são de necessidade médica, o que pode não oferecer benefícios nem para a saúde nem para as finanças.

O FUTURO DOS ALIMENTOS SEM GLÚTEN

Investimentos em pesquisa e desenvolvimento são essenciais para criar alimentos sem glúten mais equilibrados em termos nutricionais, utilizando ingredientes locais. Isso vai exigir testes de alimentação om diferentes formulações de alimentos sem glúten para garantir que esses produtos atendam às necessidades nutricionais sem efeitos adversos.

Colaborações entre governos poderiam ajudar a garantir subsídios, o que reduziria os custos de produção e tornaria esses produtos mais acessíveis.

Embora os custos iniciais de pesquisa e manutenção de uma linha de produção de alimentos sem glúten sejam altos, o uso de ingredientes locais e incentivos financeiros pode tornar esses produtos mais competitivos em termos de custo em comparação com seus equivalentes com glúten.

A educação pública também é importante para manter as pessoas informadas sobre os prós e contras de uma dieta sem glúten.

Este artigo foi republicado do "The Conversation" sob licença Creative Commons. Leia o artigo original


SOBRE O AUTOR

Sachin Rustgi é professor associado de melhoramento molecular na Universidade de Clemson. saiba mais