Amazon diz que opera com 100% de energia renovável. Mas pode ser só 22%
Grupo de funcionários critica a empresa por alegações enganosas sobre o uso de energia limpa
A Amazon anunciou este mês ter atingido a meta de 100% de energia renovável – sete anos antes do previsto. Mas um grupo de funcionários afirma que os cálculos da empresa são enganosos e não correspondem à realidade.
Um relatório do grupo Amazon Employees for Climate Justice (Funcionários da Amazon pela Justiça Climática) aponta que apenas 22% dos data centers da empresa nos EUA funcionam com energia limpa.
O levantamento foi feito a partir da análise da localização dos centros de processamento de dados e da composição da energia nas redes regionais – ou seja, a proporção de energia proveniente de carvão, gás ou petróleo versus energia solar ou eólica.
Como muitas outras empresas, a Amazon compra certificados de energia renovável (RECs, na sigla em inglês) produzida por usinas solares ou parques eólicos. Em teoria, os RECs deveriam incentivar a construção de novas fontes limpas.
Na prática, isso nem sempre acontece. O estudo descobriu que 68% dos certificados não são vinculados, o que significa que não financiam novas infraestruturas, apenas dão crédito para fontes renováveis que já existem ou que já seriam construídas.
Um porta-voz da empresa contestou as informações do grupo, dizendo que o relatório foi baseado em “suposições e números incorretos” e destacando que a compra de créditos possibilitou que centenas de projetos de energia eólica entrassem em operação.
Ainda assim, o grupo de funcionários mantém seus cálculos e argumenta que esses projetos não devem ser contabilizados antecipadamente. Também ressalta que eles não estão localizados onde os data centers da empresa se encontram. E novos data centers podem incentivar a construção de mais usinas de energia fóssil .
“A Dominion Energy, concessionária no estado da Virgínia [nos EUA], está se expandindo devido à demanda e a Amazon é obviamente um dos maiores clientes”, afirma Eliza Pan, representante do Amazon Employees for Climate Justice e ex-funcionária da empresa. “Mas não se trata de uma expansão renovável, são mais combustíveis fósseis.”
Além disso, a Amazon não compra créditos especificamente ligados às redes que alimentam seus data centers. Ela compra RECs do Canadá ou do estado do Arizona, por exemplo, para compensar a energia usada na Virgínia.
Esses créditos também não são vinculados ao momento em que a energia foi usada e as instalações de processamento de dados funcionam 24 horas por dia, apesar de grande parte da energia renovável estar disponível apenas parte do tempo.
a Amazon compra certificados de energia renovável produzida por usinas solares ou parques eólicos.
O grupo de funcionários defende que a empresa deveria seguir a abordagem do Google, que pretende usar energia livre de carbono em todas as redes onde opera. No entanto, a Amazon diz que prefere “priorizar emissões” na compra de energia limpa – o que significa que suas ações maximizam a redução de CO2. Mas um estudo realizado pela Universidade de Princeton aponta que esta abordagem não é a mais eficaz.
Sem dúvida, as empresas de tecnologia estão enfrentando um desafio ainda maior agora: atender à enorme demanda energética da IA. O consumo de energia da Microsoft aumentou cerca de 30% desde 2020, devido à inteligência artificial. As emissões do Google cresceram quase 50% desde 2019.
Isso faz com que seja ainda mais importante estabelecer metas adequadas e comunicar o progresso de forma honesta, de acordo com Pan. “O anúncio de que opera com 100% de energia renovável é uma distração”, diz ela.
“ Isso cria a ilusão de que a Amazon está indo muito bem, quando na verdade existem desafios reais, como o crescimento da inteligência artificial. O que a sustentabilidade precisa é de mais recursos e mais priorização.”