Barco a vela de 1909 volta à ativa para fazer entregas “carbono zero”

Crédito: Sailcargo/ Sophie Louisnard/ Unsplash

Adele Peters 3 minutos de leitura

Mais de um século atrás, uma grande escuna de madeira chamada Vega velejava de norte a sul da costa sueca fazendo entregas “carbono zero”, muito antes de o conceito de pegada de carbono ser inventado. Agora o navio, completamente restaurado, navega pelo oceano Atlântico para começar uma nova jornada, transportando cargas para empresas que querem reduzir suas emissões de gases do efeito estufa.

“Nossa missão é provar o valor da navegação limpa”, diz Danielle Doggett, cofundadora e CEO da Sailcargo, a companhia à qual pertence a embarcação e que, em breve, vai operar rotas entre as Américas do Norte e do Sul. No início, serão transportadas cargas de cafés especiais da Colômbia para Nova Jersey, mais especificamente para o Café William, uma torrefadora que quer ser a primeira a vender café “carbono neutro”.

A empreendedora, que veleja desde os 13 anos, começou a pensar no potencial de ressuscitar a antiga maneira de transporte de carga mais de 10 anos atrás. Em 2014, ela e dois sócios abriram e a empresa e, mais tarde, começaram a construir um barco do zero. Enquanto viajava pelo mundo, Danielle acabou conhecendo o Vega.

Construído em 1909, o navio foi aposentado nos anos 1960, quando os petroleiros passaram a dominar o setor e as rotas marítimas comerciais. Foi resgatado do ferro-velho por uma família de armadores suecos, que levou anos para restaurá-lo. Danielle se apaixonou pelo design da embarcação, procurou os proprietários e fechou um acordo para comprá-la.

O transporte marítimo movimenta mais de 10 bilhões de toneladas de carga por ano e é responsável por mais emissões de carbono do que o transporte aéreo. As empresas do setor vêm trabalhando em tecnologias menos poluentes, mas o ritmo do progresso é lento.

“Elas têm frotas enormes, pontos de abastecimento e todas essas instalações reais e tangíveis que tornam a transição um processo ainda mais longo”, diz Danielle. Além disso, um navio de transporte de containers movido a combustível fóssil pode custar US$ 100 milhões e continuar operacional por pelo menos 25 anos.

Algumas empresas estão nos estágios iniciais de introdução de novos modelos, como a gigante Maersk, que tem planos de lançar uma embarcação carbono neutra em 2023. Outras estão experimentando tecnologias para reforma de velhos navios para reduzir – mas não eliminar – a poluição gerada. Há também um punhado de startups, como a própria Sailcargo, investindo nos bons e velhos barcos a vela como alternativa para o mercado em algumas rotas.

A intenção da Sailcargo não é tomar o lugar das gigantes do setor. Mas, na medida em que empresas vão buscando formas de reduzir sua pegada de carbono, ela pode ser uma boa alternativa. Como não transporta containers – as mercadorias vão em palets –, a companhia também oferece algumas vantagens logísticas.

“Alguns desses grandes navios têm que esperar no porto, muitas vezes, mais de duas semanas. Eles dependem da infraestrutura portuária, dos guindastes para desembarcar os containers. Nós, não. A gente mesmo descarrega”, garante Danielle.

Mesmo vazios, os navios de carga comuns continuam queimando combustível e poluindo o ar ao redor. Também precisam esperar na fila para serem reabastecidos. “Espero mesmo que nosso barco seja mais rápido em termos de prazo de entrega, dependendo da rota a ser percorrida”, diz a CEO da Sailcargo.

Outra vantagem é que o navio pode acomodar cargas de tamanhos fora do padrão, como as muito pequenas para ir em um container e que, normalmente, seriam despachadas de avião.

Quando conversei com Danielle, o Vega estava no mar Báltico, começando a viagem para cruzar o oceano. A tripulação espera chegar às Bahamas em julho e trabalhar um pouco mais na reforma. A partir daí, devem começar as primeiras viagens comerciais entre a Colômbia e os Estados Unidos.

O modelo de negócios pode ser financeiramente bem-sucedido, acredita a empreendedora. “Queremos ser uma empresa lucrativa, que opera um sistema carbono zero, ou mesmo carbono negativo. Mas também queremos pagar salários justos e gerar retorno sobre o investimento de nossos acionistas”, completa.


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais