Brasil e a COP30: o que precisamos fazer para garantir nosso sucesso no futuro

Crédito: Ildo Frazão/ iStock

Marta M. DeVito 5 minutos de leitura

Na recente Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28), realizada em Dubai, os olhos se voltaram para os projetos brasileiros, destacando a importância de alinhar ações aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Mas poucas iniciativas se destacaram nesse quesito, exceção feita ao projeto da Macaúba by Acelen, que impactou 11 das 17 ODS, evidenciando os benefícios sociais, econômicos e ambientais que tais projetos podem gerar.

As ODS, por estarem alinhadas a metas globais com objetivos tangíveis e mensuráveis, são cruciais para conectar as iniciativas brasileiras ao mercado internacional.

Mais do que apresentar um projeto, alinhar-se às ODS é falar sobre como a iniciativa contribui para o bem maior. Entretanto, é imperativo compreender que não é suficiente sem um projeto consistente e objetivos claros para o longo prazo.

A implementação efetiva vai além do alinhamento às ODS. Requer ações consistentes, parcerias estratégicas e capacidade financeira para cumprir os compromissos firmados. Tem que ter um plano robusto, com a participação de parceiros-chave e os recursos necessários para efetivar suas metas e consolidar os planos a longo prazo.

Contudo, ao observar a participação do Brasil na COP28, o cenário é de desintegração. O país esteve presente em três espaços distintos, cada um sem se comunicar efetivamente com os outros.

Os estandes da CNI, do Consórcio dos Estados da Amazônia e da Apex Brasil operaram de maneira independente, sem uma narrativa integrada que representasse o país como um todo.

O presidente Lula no estande dos estados da Amazônia na COP28 (Crédito: Pedro Devani/ Secom)

Embora o Brasil tenha apresentado casos e projetos importantes, a falta de integração diminuiu a visibilidade dessas iniciativas. Para ser reconhecido como líder na economia verde e assumir protagonismo geopolítico, é vital superar divisões internas, unir forças e trocar o "ou" pelo "e" – ou seja, produzir e preservar simultaneamente.

DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A COP30

A COP30, apelidada de "COP da Natureza", representa um desafio e uma oportunidade para o Brasil. É essencial abandonar a “postura fatalista otimista” e começar a agir desde já.

A infraestrutura limitada de Belém é um desafio, mas o verdadeiro obstáculo é a falta de uma narrativa coerente. O Brasil precisa saber para onde vai e como se apresentar ao mundo.

O país traz consigo uma grande oportunidade nos próximos dois anos, mas é necessário mais do que otimismo passivo. A COP30 exige preparação desde agora, pois representa a chance de o país liderar a transição energética global.

As marcas, por exemplo, têm um poder significativo na promoção de soluções sustentáveis. E a tendência é que tenham cada vez mais poder à medida que criam comunidades cada vez mais engajadas por meio das suas narrativas de marketing.

Hoje as pessoas prestam mais atenção nas histórias que as marcas estão contando, dando cada vez mais importância para a questão da transparência de informação de suas comunicações.

Então, mais do que nunca, as marcas terão o protagonismo da mudança, com o poder necessário para movimentar as métricas de transformação que queremos e precisamos enxergar para o futuro do mundo.

Tal relação se deve por conta da tendência que vêm acompanhando a estratégia de negócio que fala sobre o poder de marcas sólidas na criação de comunidades fortes e engajadas.

Mais do que apresentar um projeto, alinhar-se às ODS é falar sobre como a iniciativa contribui para o bem maior.

As pessoas querem buscar marcas que se conectam de forma genuína e autêntica com seus propósitos para que então, possam pertencer ao seu cotidiano. É o conceito “walk the talk” na prática – as marcas têm e terão cada vez mais essa força para abrir caminhos de mudança. 

As empresas que compreendem essa conexão estão melhor posicionadas para o futuro, pois a responsabilidade social e ambiental tornou-se um diferencial competitivo também nos negócios.

A combinação de criatividade, ciência e tecnologia é fundamental para promover as ODS. Um exemplo é o trabalho realizado para a Acelen no lançamento no Museu do Futuro em Dubai – quando um vídeo anamórfico de 20” demonstrou como a tecnologia pode ser aliada à criatividade para promover não apenas um projeto, mas seu potencial impacto global.

A pesquisa científica sobre a Macaúba, realizada pelo Fraunhofer Institute em parceria com a Universidade Federal de Viçosa, evidencia como a ciência e a tecnologia podem impulsionar soluções inovadoras alinhadas às ODS.

Olhando para o futuro, morando nos EUA e promovendo uma nova imagem do Brasil no mundo, percebo desafios e oportunidades. A COP da Natureza representa uma chance única, mas o Brasil precisa organizar-se para recebê-la. A oportunidade nos setores de biocombustíveis, produção de alimentos e carbono é imensa, mas esse mercado precisa ser regulado.

O legado dos 12 dias da COP28 reside na inspiração de um país que, nascido no meio do deserto, transformou-se em um hub global. Essa lição deve impulsionar o Brasil a ousar sonhar e construir a sociedade que deseja, aproveitando toda a riqueza que possui.

A combinação de criatividade, ciência e tecnologia é fundamental para promover as ODS.

Acreditar nesse novo Brasil é trabalhar não apenas para tornar a COP da Natureza um evento único, mas para construir narrativas que integrem de forma efetiva organizações globais, iniciativas privadas, públicas, sociais e territórios.

A tarefa importante que o Brasil e as empresas brasileiras precisam realizar é desenvolver uma estratégia sólida e integrada e mostrar como contribuirão para um mundo mais sustentável com benefícios para todas as partes.

Alinhar estratégias e ações às ODS é um passo essencial, mas não suficiente para garantir o sucesso. É necessário ter um plano de ação claro, compreender os stakeholders e comunicar de forma eficaz como a iniciativa contribui para um mundo mais sustentável.

Para ter visibilidade global, é necessário adotar uma causa global.


SOBRE A AUTORA

Marta M. DeVito é fundadora e CEO da agência de comunicação e reputação BGlobal. saiba mais