Cannabis legalizada: o impulso econômico de países que fizeram as pazes com a planta
O mercado global de cannabis legal deve atingir US$ 55,3 bilhões em 2024. O uso medicinal é a principal porta de entrada da legalização em muitos países
A cannabis é uma planta milenar que conecta e influencia várias economias ao redor do mundo. Sua versatilidade se manifesta em três principais frentes de negócios: medicinal, industrial e uso adulto, cada uma com aplicações distintas e significativas.
No âmbito medicinal, compostos da cannabis aliviam sintomas de mais de 40 enfermidades, conforme demonstrado por estudos científicos.
Na esfera industrial, o cânhamo, uma subespécie com baixo teor psicoativo, é utilizado na fabricação de mais de 25 mil produtos abrangendo as indústrias têxtil, alimentícia, bebidas, cuidados pessoais, pet e construção civil, contribuindo significativamente para a sustentabilidade do planeta. E o uso adulto, que dispensa explicações, é o mais representativo de todos.
O mercado global de cannabis legal deve atingir US$ 55,3 bilhões em 2024. Embora a maior parte deste mercado seja destinada ao uso adulto, o uso medicinal é a principal porta de entrada da legalização em muitos países. Para se ter uma ideia, atualmente, 49 países permitem o uso medicinal da cannabis.
A seguir, destaco os principais players que estão gerando impactos significativos, criando empregos e impulsionando inovações industriais, evidenciando o enorme potencial econômico da planta.
ESTADOS UNIDOS
Em 38 estados dos EUA a cannabis é legalizada para uso medicinal e em 24, para uso recreativo. Em relação ao cânhamo (“hemp” em inglês), seu cultivo é permitido em todos os estados norte-americanos de acordo com a Farm Bill de 2018.
o uso medicinal é a principal porta de entrada da legalização em muitos países.
O país representa aproximadamente 85% do mercado global de cannabis. Com mais estados legalizando o uso medicinal e recreativo, as vendas legais podem atingir US$ 38,4 bilhões em 2024, podendo chegar a um impacto econômico total de US$ 112,4 bilhões – cerca de 12% a mais do que no passado.
Em 2023, a receita com impostos coletada por todos os estados ultrapassou US$ 4,18 bilhões. Já em termos de geração de empregos, o mercado legal de cannabis emprega mais de 440 mil pessoas em tempo integral.
CANADÁ
O Canadá foi o primeiro país a legalizar a cannabis medicinal, em 2001, e o segundo a legalizar o uso adulto, em 2018. É um dos mercados mais consolidados do mundo e isso se reflete no número de empresas com expressão internacional que existem por lá. A receita do mercado de cannabis no Canadá deve atingir US$ 5,63 bilhões em 2024.
Assim como nos EUA, a maior parte do mercado também é impulsionada por vendas para uso adulto, representando US$ 4,2 bilhões em 2023. A indústria gerou cerca de 151 mil empregos diretos e indiretos, abrangendo cultivo, distribuição, pesquisa e desenvolvimento.
O Canadá também está se posicionando como um líder global em exportação de cannabis medicinal, fornecendo produtos para países onde ela é legal.
URUGUAI
O Uruguai fez história em 2013 ao se tornar o primeiro a legalizar completamente a cannabis, abrangendo desde o cultivo até a venda e o consumo. Hoje, o país está colhendo benefícios tanto econômicos quanto sociais.
A legalização reduziu significativamente o mercado negro, fez dele um dos maiores exportadores de cannabis do mundo e impulsionou o turismo, atraindo visitantes interessados na experiência legal e controlada da cannabis.
Em 2023, o Uruguai, com 3,5 milhões de habitantes, recebeu 3,8 milhões de turistas, gerando uma receita de aproximadamente US$ 1,7 bilhão – aumento de 27% em relação a 2022, conforme dados do Ministério do Turismo uruguaio. A projeção para 2024 é que a receita deve atingir US$135 milhões.
CHINA
A China ainda não legalizou a cannabis para uso medicinal e nem para uso adulto, mas o país se destaca como um dos maiores produtores globais e o principal exportador de insumos de cânhamo, utilizados para produtos como tecidos, alimentos, cosméticos, papel e outros produtos industriais.
A indústria de cânhamo da China é avaliada em cerca de US$1,5 bilhão, com significativos investimentos em pesquisa e desenvolvimento de produtos à base de CBD (canabidiol). Mas, devido às rigorosas regulamentações, o impacto econômico da planta no país se torna limitado.
ALEMANHA
Antes de abordar a situação do país, é importante destacar que 21 dos 27 países membros da União Europeia (UE) já legalizaram a cannabis medicinal. A Alemanha, que iniciou o processo em 2017, recentemente se juntou a Malta e Luxemburgo ao legalizar o uso adulto, em abril deste ano.
Apesar da oposição dos conservadores, a expectativa é de gerar receitas fiscais substanciais, além de criar milhares de empregos. A receita projetada para o uso medicinal é de US$ 499 milhões em 2024.
BRASIL
No Brasil, o cenário ainda está em desenvolvimento, mas há um enorme potencial tanto para a cannabis medicinal quanto para o cânhamo industrial. Enquanto o uso medicinal já é uma realidade no país, o cânhamo segue o seu caminho (árduo) de pesquisas e discussões.
Em 2023, a cannabis medicinal gerou R$ 700 milhões em receita, de acordo com levantamento feito pela consultoria Kaya Mind no estudo "Anuário da Cannabis Medicinal no Brasil 2023". Destaco alguns indicadores:
- 430 mil pessoas se tratam com derivados de cannabis
- 1,7 mil produtos estão disponíveis no país
- 1.034 empresas e associações de cannabis medicinal atuam no país
- 18 produtos estão à venda nas farmácias
- A estimativa de receita para 2024 é de R$ 1 bilhão
Já existem muitas pessoas, associações, empresas e todo um ecossistema que lutam diariamente para que a planta seja uma protagonista do futuro do nosso país.
Todos os exemplos que foram apresentados demonstram realidades distintas, mas todos compartilham um objetivo comum: a combinação de benefícios econômicos, médicos e de bem-estar. Além do impulso pela sustentabilidade, uma necessidade mais do que urgente nos dias atuais.